Edição de Sábado: Bolsonaro e os futuros possíveis

Se há um tabuleiro confuso, no momento, é o da política brasileira. A turbulência que se abateu no país esta semana deixou o jogo desorganizado e incerto. Mas, se deixou dúvidas, trouxe também algumas respostas a muitas angústias que pairavam.

No Sete de Setembro, após mais de um mês de preparação, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu levar uma multidão à Avenida Paulista. Foi menos gente do que ele esperava — mas foi mais gente do que em qualquer mobilização anti-Bolsonaro até este momento. Enquanto esquerda e direita seguirem separadas, dificilmente virá das ruas pressão suficiente para produzir um impeachment. (Esta divisão não é acidental. Mais à frente.)

Bolsonaro tentou mobilizar dois grupos em particular que seriam importantes para seus planos. Um deles foi o dos policiais militares. Outro, os caminhoneiros. Na noite de segunda-feira, parecia que ele fracassaria com caminhoneiros e teria sucesso com PMs. Foi o contrário.

O esforço coletivo de governadores distribuindo promoções, alertando para punições por indisciplina e mesmo convocando homens aos quartéis compensou. É claro que havia policiais à paisana na multidão. Mas pouco importa — não houve traço de insurreição em todo país. O sinal mais importante de que a PM operou na legalidade veio de Brasília. Quando na noite do dia 6 um grupo de caminhões rompeu a barreira policial que impedia sua entrada na Esplanada dos Ministérios chegou a parecer, para muitos, que havia uma proposital frouxidão. Logo, porém, veio o Batalhão de Choque que, por toda a madrugada, durante o dia do comício e mesmo além garantiu a segurança do Palácio do Supremo. Resistiu, com cassetetes e distribuindo gás pimenta, a sete tentativas de assalto. O STF não foi invadido porque a polícia trabalhou, e trabalhou muito. Tentativas não faltaram.

Com os caminhoneiros a história é o oposto. A sinalização dada pelas principais lideranças do coletivo era de que eles não estavam com Bolsonaro. Ou, ao menos, não estavam em número suficiente para promover qualquer ameaça. Ao longo da quarta-feira, no entanto, estradas federais começaram a ser bloqueadas em todo o país por caminhoneiros que não traziam qualquer reivindicação da categoria. Cobravam o fechamento do Supremo — um movimento golpista. Neste momento, o Palácio do Planalto entrou em pânico.

Jair Bolsonaro é um líder populista, instintivo, que trabalha com um tipo de organização nova feita por redes sociais e apps de mensageria. O jeito tradicional de organizar movimentos populares, via sindicatos e partidos, permite centralização de comando, hierarquia e unidade na ação. A movimentação pelas redes é descentralizada e se dá por meio de mensagens que promovem a mobilização.

Essas mensagens tomam a forma de histórias. Os militantes são envolvidos numa narrativa em que se tornam o grupo seleto que compreende qual o “verdadeiro problema do país”. É sempre uma teoria conspiratória. O grupo vai à rua perante a promessa de que será protagonista de um momento histórico. Com sua presença, ele “autoriza” o líder a construir a mudança, a agir para que o “problema” seja enfim resolvido. Trata-se, na construção da história, de um movimento “democrático” por ser popular. Por vir do “verdadeiro” povo. Como vive em uma bolha de informação, este conjunto de pessoas raramente é exposto ao mundo real. Vive na fantasia. E a fantasia criada pelo bolsonarismo é uma que põe o STF no centro de uma conspiração para defender políticos corruptos e valores anti-família enquanto impede que o país seja governado para as “pessoas de bem”.

O que Bolsonaro precisava em verdade ele conseguiu no Sete: mostrar que tem números, que ainda tem capacidade de mobilização de seus militantes. Só que dois problemas escaparam a seus planos.

O primeiro foi de responsabilidade direta sua. Quando afirmou explicitamente que violaria o artigo 85 da Constituição, aquele em que o presidente é obrigado a seguir qualquer decisão judicial sob a pena de impeachment, um grupo grande o suficiente de políticos interpretou que o crime de responsabilidade já havia sido cometido. Conversas sérias sobre impeachment, dentro do PSD e do PSDB, começaram quase que de imediato, afetando o balanço de poder na Câmara. O presidente da Casa, Arthur Lira, sentiu pela primeira vez que poderia perder o controle da situação.

O segundo problema saiu da natural descentralização de quem é mobilizado pela rede. Um grupo grande o suficiente de caminhoneiros não parou no Sete — decidiu continuar em ação, parando o país. Seria um desastre para o Planalto. O objetivo real de Bolsonaro era intimidar Supremo e políticos. O objetivo fictício, fechar o STF. Uma paralisação das estradas provocaria desabastecimento das cidades, aceleraria a inflação que já começa a fugir do controle, e por fim aumentaria a insatisfação popular com o presidente.

O que no primeiro momento parecia ter sido uma vitória de Bolsonaro, na quinta-feira havia se tornado dupla derrota. Ele precisou batalhar para desmontar a paralisação, colocando assim em risco a narrativa que sustenta. Se o objetivo era que os caminhoneiros agissem, se o objetivo era fechar o Supremo, como assim podia o presidente agora exigir um recuo repentino? Dissonância cognitiva se estabeleceu. O movimento foi desarticulado, mas ainda não se sabe a que custo na credibilidade bolsonarista perante sua base.

Bem mais misteriosa foi a carta de recuo. A história sobre como o ex-presidente Michel Temer apareceu num repente, redigiu com seu publicitário Elsinho Mouco uma carta de bandeira branca, pôs ao telefone Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, e assim desarticulou em poucas horas um movimento de impeachment não foi contada ainda. Há peças faltando e um acordo de bastidores deve ter acontecido. Que acordo, e envolvendo que atores, não é claro.

Mas algumas decisões importantes passarão pelo Supremo ou por seus ministros nas próximas semanas e meses.

Uma é do recurso do Ministério Público do Rio que deseja transferir para o Tribunal de Justiça do estado o foro do senador Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas. Na época, ele era deputados estadual. Portanto, argumentam os procuradores, deve ser julgado lá. Outra, mais urgente, pode envolver no limite a prisão do vereador Carlos Bolsonaro no inquérito que investiga fake news.

O STF também pode vir a decidir que o presidente da Câmara, Arthur Lira, não pode manter em suspenso pedidos de impeachment. Ou arquiva ou leva a voto, no limbo não dá para ficar. Nem Lira, nem Bolsonaro, desejam ter esta pressão.

Por fim, o Tribunal Superior Eleitoral, comandado por ministros do Supremo, pode decidir que o presidente promoveu esta semana campanha eleitoral antecipada, o que no limite custaria sua elegibilidade. Bolsonaro não poderia sair candidato. Outra decisão é sobre o uso de desinformação na campanha de 2018, que poderia até terminar com a cassação da chapa, instalando o presidente da Câmara no Planalto. Ou cassação parcial da chapa, colocando na cadeira o vice, Hamilton Mourão.

Pode ser que o temor de uma destas ações tenha feito Bolsonaro apelar a Temer. Mas estes riscos já existiam na segunda-feira e ainda assim o presidente escolheu agir. Na quarta, Bolsonaro agia como se o Sete houvesse sido uma vitória. Na quinta, em pânico, como se o castelo de cartas estivesse desmoronando.

Uma das perguntas que esta semana deixa para ser respondida nas próximas: a imagem do presidente sofreu muito em sua base por conta do duplo recuo?

E o que poderá acontecer a partir de agora? Os cenários são os seguintes.

Golpe de Estado

O cientista-político Sérgio Abranches lembra, com frequência, que o modelo de tomada ilegal de poder na imaginação de Jair Bolsonaro é o da quartelada clássica. Para isto, ele precisaria de força armada. Ou por parte do Exército Brasileiro ou, mais provável, das Polícias Militares.

Apesar das ameaças, não houve sinal, durante esta semana, de que o presidente tenha qualquer tipo de poder de mobilizar estes grupos. Não quer dizer que seja impossível. Mas é importante observar que Bolsonaro se esforçou, e se esforçou muito, para demonstrar algum tipo de poder sobre PMs. Nisto, fracassou.

Sem a capacidade de botar gente armada nas ruas e demonstrar força para cerrar Congresso ou Judiciário, um golpe de Estado clássico parece bastante improvável.

Como as Democracias Morrem

O outro cenário é a lenta migração para um regime autoritário e implantação de uma Democracia Iliberal, como a descrita pelos cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. É o processo adotado por Hugo Chávez, na Venezuela, Viktor Orbán, na Hungria, Vladimir Putin, na Rússia. Exige, porém, um chefe de Executivo com mais habilidade política do que Bolsonaro vem demonstrando.

Na fórmula descrita pelos dois, por exemplo, o líder populista necessariamente precisa de maioria legislativa. É assim que desmonta Supremas Cortes. Aprova em sucessão emendas constitucionais que diminuam o poder do Tribunal ou ampliem o colegiado para que o autoritário encha a Corte de ministros seus partidários. Nesta política de atrito constante, Bolsonaro tem demonstrado inabilidade na lida com o Congresso. Sofre derrotas em sequência.

É verdade que há o acordo com o Centrão e Arthur Lira, na presidência da Câmara, tem se esforçado para demonstrar fidelidade. Mas o que os líderes do Progressistas vêm entregando, em verdade, é apenas o impeachment constantemente evitado. Não muito mais. Em troca, estão trazendo para seu grupo de parlamentares uma quantia em verbas para que empreguem livremente que nunca qualquer presidente da República cedeu. Bolsonaro paga muito caro por pouco retorno. Isto não vai mudar.

Há um último ponto. Esta semana, durante a crise, quando apelou para Temer o presidente driblou tanto Lira quanto Ciro Nogueira, o presidente do Progressistas que comanda a Casa Civil. Seus principais aliados políticos foram tirados do loop de decisão. Não é claro que isto vá causar algum atrito. Mas Temer representa um grupo político muito diferente.

Impeachment

Neste domingo, dia 12, acontecerá mais uma manifestação anti-bolsonarista. Esta foi convocada pelo Movimento Brasil Livre e pelo Vem Pra Rua, dois dos grupos que comandaram multidões pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Historicamente, no Brasil, sem estas grandes manifestações nunca houve impeachment. Esquerda e Direita, no entanto, se estranham. Uma declara não querer participar da passeata convocada pela outra. Isto divide as forças e não cria aquela fotografia que mobiliza parlamentares.

Quem lê o debate nas redes compreende que PT e CUT não vão à manifestação de MBL e VPR porque estes trabalharam pelo impeachment de Dilma. O grupo político do ex-presidente Lula considera que ali houve um golpe. O outro grupo político forte da esquerda, liderado pelo candidato pedetista Ciro Gomes, irá no dia 12.

O motivo real da ausência petista e da presença de Ciro é outro. Lula tem conversado animadamente, para formar base eleitoral, com inúmeros políticos que atuaram pelo impeachment, em 2016. É um político pragmático e compreende que o inimigo de ontem é um potencial aliado no presente ou no futuro. Mas, ao PT, não interessa impeachment. Não tem, claro, como votar contra. Só que não vai trabalhar para que ocorra. As pesquisas são claras e indicam que, contra Bolsonaro no segundo turno, Lula tem amplas chances de vencer. Qualquer outro candidato, no entanto, traria para si o antipetismo que ainda existe e teria fortes chances de bater Lula.

Por isso, Ciro quer ampliar o número de pessoas nas ruas. Ao PT interessa que os grupos se dividam.

Isto não quer dizer que só com gente na rua um impeachment possa sair. Foi assim no passado mas o momento que vivemos está farto em excepcionalidades. Um processo começou a caminhar esta semana. Uma das razões é a conta que a elite empresarial e financeira faz. Com aumento da inflação, crise energética no verão, e dólar descontrolado, o desassossego nacional promovido por Jair Bolsonaro pode começar a sair caro demais para o PIB. Neste caso, uma presidência Mourão de um ano, que traga calma, segurança e estabilidade poderia ser mais interessante.

Além disso, políticos o suficiente se assustaram com a agressividade golpista de Bolsonaro. Some-se aí o fator de que, como Ciro Gomes, líderes tucanos — João Doria e Eduardo Leite —, além do presidente do PSD Gilberto Kassab, entendem que o cenário eleitoral muda com a ausência de Bolsonaro.

Houve uma articulação inicial pelo impeachment. Arthur Lira, pela primeira vez, foi obrigado a falar seriamente sobre o tema, nos bastidores. A carta de Temer desarticulou o movimento. Se Bolsonaro ataca novamente, pode voltar. É, hoje, de baixa probabilidade. Mas há um número grande de analistas políticos e líderes partidários que não tirou dos cenários este caminho.

Eleição

As pesquisas apontam que Bolsonaro tem sido capaz de se manter na casa dos 25% de apoio. A linha que ele não pode cruzar é a dos 20%. Caiu para esta altura, sua presença no segundo turno está sob risco. Nos próximos dias veremos novas pesquisas eleitorais que tentarão medir o que ocorreu com sua popularidade após esta semana muito estranha.

Um líder como ele, este perfil populista autoritário e digital, depende da manutenção coerente da narrativa. A história mirabolante tem de se manter. O recuo brusco da carta ao Supremo e a desarticulação dos caminhoneiros teve custo imediato. Bolsonaristas importantes das redes o atacaram. Aí o escritor Olavo de Carvalho foi instado a defender o presidente, com ele vieram os jornalistas de aluguel. Na sexta-feira, os emissores da narrativa, aqueles que organizam a teoria conspiratória, já trabalhavam em uníssono para evitar uma dissonância cognitiva.

Houve perda relevante de base? Se houve, é definitiva? Esta pergunta é chave e só as próximas semanas indicarão. Esta margem de folga de cinco pontos percentuais na linha limite dos 20% é pequena demais para Bolsonaro brincar.

Caso Bolsonaro chegue aos 20%, a vaga contra Lula no segundo turno estará em disputa.

Que futuro é este?

É muito difícil, hoje, imaginar Jair Bolsonaro sendo reeleito. Mas sua presença ou não no segundo turno faz diferença. Alcançando 30 ou 40% dos votos contra Lula, Bolsonaro perde mas se mantém líder de um percentual radicalizado de brasileiros. A extrema-direita segue viva, para ser tocada talvez por um de seus filhos. A família aposta no Zero Três, Eduardo. É o que aconteceu nos EUA com Donald Trump. O ex-presidente ainda tem nas mãos o Partido Republicano e nada parece indicar que isto mudará tão cedo.

A direita, direita mesmo, se organizou ao seu redor pela primeira vez na Nova República. Mas ela não precisa ser extremista. Bolsonaro precisa ser enfraquecido como líder para evitar ameaças à democracia brasileira.

Atentados de 11 de setembro fazem vinte anos com sensação de déjà vu

Volta e meia testemunhamos acontecimentos que, sabemos de pronto, entrarão para a História. Quem era adulto ao longo dos anos 1990 estava se acostumando com a profusão deles: a Queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, Israel e a OLP assinando um acordo de paz etc. Era a História acontecendo em tempo real e apontando para um futuro melhor, a despeito de momentos trágicos, como o assassinato de Yitzhak Rabin por um extremista judeu, e retrocessos como o golpe judiciário que pôs George W. Bush na Casa Branca. Ainda assim, século 20 terminava com um tom de otimismo.

Talvez por isso ninguém estivesse preparado para que a História começasse o século 21 sob a égide do terror. Hoje completam-se duas décadas do atentado triplo perpetrado pelo grupo extremista islâmico al-Qaeda contra os Estados Unidos. Possivelmente todos se lembram, mas não custa repassar. Na manhã de 11 de setembro de 2001, terroristas da al-Qaeda de diversas origens sequestraram quatro aviões que faziam voos domésticos nos EUA, mataram as tripulações e arremessaram três deles contra as duas torres do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington. O quarto caiu num campo na Pensilvânia após os passageiros lutarem contra os terroristas. Não houve sobreviventes. Aparentemente, o plano era arremessar o avião contra a Casa Branca ou o Capitólio.

Os alvos não poderiam ser melhor escolhidos, os símbolos do poder econômico, do poder militar e do poder político da superpotência que vencera a Guerra Fria. Além disso, Nova York é ainda o paradigma do que os fundamentalistas, não só islâmicos, odeiam, uma cidade cosmopolita, de muitas etnias, muitas sexualidades, muitas crenças e descrenças.

Qualquer pessoa que era minimamente adulta em 2001 se lembra onde estava quando as Torres Gêmeas desabaram. Numa casa com dois jornalistas – ela então redatora da editoria internacional de um grande jornal –, foram semanas de trabalho enlouquecido. E de incerteza. O que estava por vir?

Com inédito apoio mundial, os EUA lideraram uma coalizão que invadiu o Afeganistão, base operacional da al-Qaeda, e depôs o Talibã, que protegia a organização terrorista e seu líder, o saudita Osama bin Laden. Aliás, embora tudo apontasse para a monarquia teocrática islâmica da Arábia Saudita como origem desses movimentos terroristas, os EUA não fizeram qualquer movimento contra o aliado, maior produtor de petróleo do mundo. Em vez disso, com base em mentiras sobre armas de destruição em massa, invadiram o Iraque, desestabilizaram as ditaduras laicas do Oriente Médio e, na esteira da fantasia ingênua da “Primavera Árabe”, abriram espaço para o surgimento do Estado Islâmico.

Vinte anos depois há uma sensação de déjà vu. Os EUA deixam o Afeganistão com o rabo entre as pernas, enquanto o Talibã retoma o poder. A ditadura teocrática saudita segue fazendo o que bem entende, esquartejando opositores sem que Washington esboce reação. Protegidas pelo multiculturalismo a que só o Ocidente se permite, comunidades islâmicas na Europa, em particular na Bélgica, se tornam cadinhos de extremistas.

Pior para os muçulmanos americanos, que passaram os últimos vinte anos sob olhares de desconfiança de vizinhos, embora lá o terrorismo seja praticamente um monopólio do fundamentalismo cristão.

Para The Economist, bíblia do liberalismo britânico, o legado do 11 de Setembro é amargo. Com olhos voltados para o extremismo islâmico, os EUA não perceberam a ascensão da China como nova superpotência. A “mudança de regime” no Afeganistão foi um fracasso retumbante, e hoje a política externa americana é feita para agradar o “six-pack Joe” de classe média. A prioridade de Joe Biden é um ambicioso programa para colocar a economia americana no século 21. Mesmo que ao custo de devolver o Afeganistão ao horror do Talibã e recriar as condições que provocaram aquele horrendo 11 de Setembro de vinte anos atrás.

Suicídio: falar sobre ele é o primeiro passo para preveni-lo

Um jovem passa por uma desilusão amorosa e, não vendo alternativa a viver sem a amada, decide encerrar a própria vida. Assim podemos resumir Os Sofrimentos do Jovem Werther, obra escrita por Johann Goethe em 1774. O célebre autor de Fausto marcou a história da literatura com a repercussão que tomou o desfecho do personagem Werther. Após o lançamento do livro, “morrer de amor” virou uma espécie de moda prêt-à-porter. Esse fenômeno passou a ser conhecido como Efeito Werther, termo cunhado pelo sociólogo David Phillips, 200 anos depois.

E não é de se estranhar que esse assunto não tenha sido debatido abertamente, pois falar de suicídio ainda é um tabu. Não deveria ser, já que o tema é considerado um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Se falamos tanto de pandemia, dengue, câncer, diabetes, pressão alta, por que não falar de suicídio, se 90% dos casos podem ser evitados?

Essa semana temos bons motivos para falar sobre o tema. Primeiro, ocorreu nesta sexta-feira o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Antes, na quarta, o Google homenageou com um Doodle o DJ Avicii, um dos nomes mais importantes da Electronic Dance Music (EDM), encontrado morto em Omã, no Oriente Médio. Um eufemismo muito utilizado para falar de alguém que se suicidou.

O tema também se faz presente pela campanha Setembro Amarelo, criado para falar abertamente sobre suicídio, mas com responsabilidade. Afinal, segundo a OMS, mais de 700 mil suicídios aconteceram no mundo todo em 2019, em diferentes faixas etárias e classes sociais. Importante saber que para cada morte, 135 pessoas são afetadas, entre familiares, amigos e a comunidade local.

Fatores de risco 

Um dos fatores mais importantes de risco são pessoas que já tentaram se suicidar. Os transtornos mentais são pontos importantes de atenção, estando relacionados em mais de 96% dos casos. Outros fatores psicológicos como pessoas que passaram por perdas recentes - financeiras ou pessoais -, que passam por processos de luto e problemas familiares graves estão nos grupos de atenção. Entre os transtornos mais presentes estão a depressão e o abuso de substâncias lícitas ou ilícitas, como álcool e outras drogas.

Quanto menos laços o indivíduo tem com a sociedade, maiores os riscos de suicídio. Portanto, fatores sociodemográficos são importantes. Pessoas solteiras, divorciadas ou viúvas ou que vivem sozinhas têm propensão maior ao suicídio que pessoas casadas, por exemplo. Pessoas sem vínculos também são mais propensas, como as que não têm filhos, as que migraram e as desempregadas ou aposentadas.

Outros fatores também devem ser levados em consideração, como a exposição ao suicídio de outras pessoas, a facilidade de acesso a armas de fogo, grandes quantidades de medicamento e produtos químicos, como pesticidas.

Fatores de prevenção

Alguns pontos podem ser muito úteis para se proteger da ideação suicida. Ter uma religiosidade, independentemente de qual seja, é um fator preventivo. Pessoas que creem em algo maior tendem menos a cometer suicídio que as demais. Apesar de estar numa pandemia, a busca por fortalecer vínculos com amigos e familiares é ponto positivo na manutenção da vida.

Algumas quebras de preconceitos também são importantes, como procurar ajuda psicológica em momentos de dificuldade. Psicólogos e psiquiatras podem identificar e tratar mais de 90% dos transtornos mentais que podem levar ao suicídio.

É preciso ter em mente que não se está sozinho e sempre existem pessoas dispostas a ajudar em momentos difíceis. Então vale a procura por um amigo, um parente ou alguém que possa ouvir os problemas. Uma alternativa viável é procurar grupos de voluntários que praticam a escuta amiga, sem preconceitos. O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma organização sem fins lucrativos, que presta apoio emocional e de prevenção ao suicídio a qualquer pessoa que queira conversar, de maneira sigilosa, anônima e gratuita. Todos os atendentes são voluntários e estão preparados para atender pessoas que precisam conversar. Basta ligar para o 188 ou escolher outras formas de contato.

Álbum 'Imagine' de John Lennon completa 50 anos

“Imagine que não há países

Não é difícil

Nada para matar ou razão para morrer

E nenhuma religião também

Imagine todas as pessoas

Vivendo a vida em paz…”

 “Imagine” - John Lennon, 1971

Quase impossível não associar a carreira solo do ex-Beatle John Lennon a Imagine, hino da paz mundial escrito por ele e também creditado a Yoko Ono que permanece atemporal entre gerações há 50 anos. Tocou praticamente em looping em rádios de todo o mundo com a notícia da morte do cantor, assassinado em 1980. Foi também um dos momentos mais marcantes durante as Olimpíadas de Tóquio 2020, quando um enxame de mais de 1.800 drones projetou a imagem da Terra no céu enquanto tocava a música. A canção é faixa-título do álbum de Lennon, o segundo da carreira solo, lançado em 9 de setembro de 1971, nos Estados Unidos. Para celebrar um dos álbuns mais importantes e bem-amados do século 20, Yoko, Sean Lennon - único filho do casal - e a Universal Music Group promoveram uma série de homenagens para o aniversário do icônico disco, com projeções em edifícios de todo o mundo, das Casas do Parlamento e da Catedral de São Paulo, em Londres, à Times Square, em Nova York: “Imagine all the people living life in peace” irradiou cartões-postais famosos para lembrar globalmente o sonho utópico de Lennon.

Um longa-metragem John Lennon: Imagine — O Filme, foi dirigido e estrelado pelo casal Lennon e Yoko para mostrar o cotidiano do cantor durante o processo de produção do álbum, e agora está disponível em streaming. O filme de 70 minutos não conta com narração, roteiro ou enredo. Trata-se de uma espécie de videoclipe orgânico e espontâneo de todo o álbum, com a excentricidade que só um casal como eles poderia ter. Em determinadas cenas, John toca  Imagine ao piano enquanto veste um uniforme militar, o qual ilustra I Don't Wanna Be a Soldier. Em How Do You Sleep?, ele e Yoko protagonizam um partida de sinuca, depois passeiam de barco em um lago, embalados por Jealous Guy. O filme também conta conta com o ex-Beatle George Harrison, que participou das gravações do álbum.

Fora dos Beatles, Lennon ainda não havia conquistado o primeiro lugar. Por isso, buscou se mostrar como o compositor de sucesso que fora com sua banda, a maior da história, sem descuidar de seu ativismo. O compositor do Strawberry Fields Forever começou sua carreira solo cantando pela paz, em Give Peace a Chance, no disco de estreia John Lennon/Plastic Ono Band, de 1970. Mas, enquanto lidava com a heroína (Cold Turkey), expôs ao mundo seus traumas de infância e sentimentos mais profundos, como em Mother e My Mummy's Dead. Deixando fortes declarações rebeldes e contra o sistema, o músico também protagonizou em 1968, ao lado de Yoko, com quem estava recém-casado, o bed-in for peace, uma campanha pela paz contra a Guerra do Vietnã. “Todos falam pela paz, mas ninguém faz nada por ela. A gente pode deixar crescer os cabelos ou renunciar a uma semana de férias pela paz. O importante é que ela só pode ser atingida com métodos pacíficos. Combater um sistema com as armas é errado. Eles são milhares e ganhariam sempre. Se quiserem te apagar, te matam. Mas, contra o humor pacífico, eles não têm estratégia”, foi a mensagem de Lennon na época.

Em Imagine, John e Yoko fizeram muito pela paz. A música se tornou um hino para a Humanidade graças a sua mensagem pacifista, onde o autor propõe um mundo sem fronteiras, religiões ou posses. “É que o mundo é um, as pessoas são uma. E é uma declaração e um desejo. [...] Não podemos fingir que estamos divididos em raças e nações, e podemos continuar fingindo até que paremos de fazê-lo", disse Lennon. Em 2017, a canção foi declarada como a música do século pela National Association of Music Publishers, dos Estados Unidos.

#Imagine50: Veja obras sobre a vida e a música de John Lennon. (UOL)

Conheça cinco curiosidades sobre o álbum. (Pop Cultura)

Por fim, o clássico clipe de Imagine. (YouTube)

E nesta tensa semana, o humor dominou os mais clicados:

1. CNN Brasil: Whatsapp vai deixar de funcionar em celulares antigos, veja a lista.

2. Youtube: Porta dos Fundos – Prefeito vacinado.

3. Poder 360: Recuo de Bolsonaro vira meme nas redes.

4. Poder 360: Marcelo Adnet faz piada imitando Temer e Bolsonaro.

5. O Globo: Discurso de Bolsonaro na Paulista deixa Arthur Lira preocupado.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.