O Meio no Web Summit: No topo do mundo digital

Em eventos como este, a oferta de gênios dando show é infinita. Mas todo mundo tem o seu favorito. O meu é Philip Rosedale, inventor do Second Life. Com 19 anos de metaverso na bagagem, eu precisava ouvir o que ele tinha a dizer sobre Mark Zuckerberg e seu all in nos mundos virtuais.

O Facebook apostou no rebranding, virou Meta e investiu pesado no desenvolvimento de hardware para popularizar os óculos de realidade virtual e seus aplicativos. Naomi Gleit, head de produtos da companhia, teve espaço no palco central para afirmar que a Meta seguirá no caminho de perseguir uma interação com o usuário cada vez mais imersiva.

Em um palco com menos prestígio, Rosedale foi mais realista do que virtual. Ainda há muitas limitações de definição de imagem e conforto. Humanos não gostam de se sentir vendados. A latência e o poder computacional ainda deixam muito a desejar. Estamos há pelo menos uma década de chegar em algo que entregue uma experiência consistente, permitindo usar o equipamento horas a fio. Vamos ver por quantos trimestres Mark consegue lidar com a impaciência dos acionistas. (W.M.)

Tinder de Negócios

Não achem que sofro da síndrome de Bozó, que adorava sair por aí ostentando um crachá de mídia. Mas que coisa boa poder chegar em picos como este e ver um tapetinho vermelho, sem filas. E poder fazer o seu trabalho muito bem amparado e alimentado — mesmo precisando dividir espaço com outros 2 mil profissionais credenciados para cobrir o evento.

O espírito é o mesmo dos grandes festivais de música. Um palco central com as principais atrações e dezenas de palcos menores, espalhados pelos cinco pavilhões do centro de convenções. Tive o privilégio de ver Sir Martin Sorrell, ex-CEO do WPP, recitar suas trovas em uma rodinha intimista de Q&A. Bem de pertinho, ouvi ele declarar, em diversas respostas, que anda muito otimista com o Brasil. Se convidarem para a edição do Rio, ele vai. Fica a dica pros organizadores.

Quem já está no Brasil e foi entrevistado remotamente foi o linguista e filósofo Noam Chomsky. Direto de Poços de Caldas, onde tem família, ele apareceu no telão do palco central para desmistificar o oba oba em cima da inteligência artificial. Como acessório à inteligência humana, é bem útil. Ele mesmo declarou usar uma ferramenta de geração de legendas em tempo real em suas conversas por videoconferência. Compensa a sua audição que já está muito prejudicada. Mas mesmo com um grande avanço nos últimos anos, a IA ainda está longe de assumir vida própria e resolver os nossos problemas de burrice natural.

Os corredores interligando os 200 mil metros quadrados de apresentações e estandes de empresas do setor eram um formigueiro humano. Todos com o crachá identificando as suas intenções: investidor ou startup. Se ambos se cruzarem, trocarem uma ideia e pintar um clima, basta fotografar o QR code do pretendente e se conectar pelo app do evento. Se quisessem mais privacidade para já se resolverem por ali, podiam contar com áreas preparadas para o encontro. E se quisessem ir ainda mais longe, inúmeros prestadores de serviços e entidades governamentais para sacramentar a união.

O Night Summit, com eventos paralelos em diversos pontos da cidade, separa a multidão em grupos menores, de acordo com interesses e nicho de atuação. A grande maioria com bebida liberada, para dar aquela lubrificada nas interações sociais. E manter as hemácias anabolizadas. (W.M.)

Agora é no Rio

Portugal tem geografia, clima e visão para se tornar cada vez mais relevante na nova economia. A pandemia acelerou um trabalho que já havia sido iniciado há alguns anos para fomentar o empreendedorismo, principalmente nos setores de tecnologia e turismo. Com a normalização do teletrabalho, o ecossistema que já estava se formando começou a atrair cada vez mais nômades digitais. Lisboa virou uma cidade internacional e a excelente infraestrutura e segurança permitem atravessar o país em poucas horas. É possível viver em uma aldeia medieval e frequentar baladas crypto com regularidade. Um evento como o Summit é uma grande vitrine para esse país que vem se especializando em virar o porto seguro dos navegadores do metaverso.

Entre Faro e Porto, extremos de Portugal, são 500 km. A mesma distância que separa Paraty de Campos dos Goytacazes. Nos falta muita coisa. Essa mesma distância no estado do Rio de Janeiro precisa vencer abismos de conectividade. Mas o principal insumo da nova economia, a criatividade, temos de sobra. Kondzilla, o brasileiro que fincou a sua marca no palco central do topo da internet neste ano, é a prova viva disso. O império do Kond é bem diferente e deixa claro que temos tudo o que eles não têm.

Até maio! O Meio estará presente, bora marcar! (W.M.)

Te vi no pico

Os momentos de maior satisfação eram quando velhos conhecidos e novos contatos batiam o olho na minha credencial e falavam: "Você agora está no Meio! Adoro!". Não perdi a chance de bater um papo, ouvir sugestões para o nosso marketing e coletar as impressões de alguns profissionais que são referências em suas áreas de atuação.

Larissa Magrisso, VP de Criação e Conteúdo da W3haus
"Fica combinado: a gente vai se divertir. Talvez porque eu estivesse desesperadamente precisando ouvir isso, talvez porque seja a nova trend no ar, talvez as duas coisas. Mas me chamou a atenção como alguns dos palestrantes mais interessantes do evento lembraram de uma coisa essencial: a gente precisa se divertir. Mas se divertir com a recessão batendo à porta, o clima colapsando e o painel de investidores avisando no Web Summit que secou a fonte para startups que não dão lucro? Ainda assim, ou principalmente assim. Ovacionado no palco principal, KondZilla terminou sua fala respondendo qual conselho daria ao jovem Kond no início da jornada que o levaria a criar o maior canal do YouTube no Brasil e o quarto maior canal de música do mundo: 'vai ser difícil, mas vai ser divertido. Nunca se esqueça de se divertir no processo'. A CEO de uma empresa bilionária dos NFTs disse que está numa missão para resgatar na Web3 a bobice e a diversão da Web1 (saudade correntes de PPTs e memes inocentes). A criadora do app de encontros mais inclusivo do mercado deu a dica: para encontrar o amor, esqueça a lista de exigências, abra a mente, siga a sua curiosidade e o que te diverte. O CMO do New York Times lembrou da importância de o propósito das marcas estar em tudo, dos produtos mais essenciais a (adivinhem?) entregas mais divertidas. No jornal centenário, algumas das assinaturas que mais crescem são das verticais de cozinha e games. A mulher à frente de uma organização que está lutando contra a emergência climática aposta em gráficos interativos, beleza e organização da informação para incentivar pessoas do mundo todo a se engajar nos projetos que mais se relacionem às suas paixões. Se nem pra salvar o planeta a gente precisa ser tão sério, imagina no nosso dia a dia de trabalho. Pra pensar: como você vai se divertir e fazer seus clientes se divertirem hoje?"

Marcelo Tripoli, CEO e fundador da consultoria de transformação digital Zmes
“O recado de diversos palestrantes convergiram para um tema que tem cada vez mais me interessado: a importância da ética nas decisões de tecnologia, sejam startups ou big techs. Em um mundo onde a economia, saúde, educação ou qualquer área das nossas vidas é afetada diretamente pelas decisões de programadores e designers é fundamental que eles não façam qualquer coisa que a tecnologia permita, mas façam o certo. Jane Geraghty, CEO global da empresa de design Landor, mostrou que mais de 1 bilhão de pessoas têm algum tipo de deficiência que a tecnologia e o design podem ajudar. Já Alain Sylvain mostrou uma pesquisa em que 87% dos consumidores indicam que querem comprar de marcas alinhadas com seus propósitos e 47% deixam de fazer negócios imediatamente quando empresas não cumprem o que prometem. A tecnologia é algo poderoso, mas deve ser usada com responsabilidade. Foi o recado que ouvi muitas vezes em Lisboa.”

Estevão Rizzo, head de Estratégia da Nftfy
“Há muito tempo já queria vir presencialmente para o Web Summit e esse foi o ano. Isso porque o universo de blockchain, em que venho trabalhando desde o ano passado, foi um dos mercados com maior destaque. Esta edição contou com grandes palestrantes e estandes de empresas de peso do setor, como Binance, Polkadot, Polygon, CertiK, entre outras. O que me chamou bastante atenção foi o destaque dado para web3 no evento, o volume de pessoas presentes do mercado e também o interesse de pessoas que não são do mercado, mas que queriam aprender mais sobre o tema.”

Web3 ou web 3.0?

Façam suas apostas. De um lado, Sir Tim Berners-Lee, inventor da world wide web, 63 anos. Do outro, Vitalik Buterin, 28 anos, menino prodígio inventor da Ethereum. Ao apresentar o Solid, sua versão da evolução da web, Tim foi enfático em dizer que “web3” é um conceito vago, um hype criado pela turma da Ethereum para vender a ideia de que blockchain é o futuro da internet. A sua visão de “web 3.0” não passa pela blockchain. Ela é uma evolução do protocolo, que começou com html em sua versão 1.0. Na versão 2.0, foram incorporados javascript, html dinâmico, api's… Agora, na versão 3.0, a sopa de letrinhas de Tim incorpora as tecnologias Authz, Global SSO e Universal API. Não me pergunte quem tem razão, eu só tive tempo de ver uns slides. Mas pra quem tá chegando agora, só digo uma coisa: respeita o pai.

Vitalik não estava no Summit. O czar devia ter coisas mais importantes para resolver. Mas seus generais estavam. Em peso. A bola mais rebatida nesse espaço do tamanho de 1.046 quadras de tênis era a tal da web3. Projetos interessantíssimos, como Filecoin e Polkadot, exibiam estandes suntuosos. Investidores bradando aos quatro cantos que preferem empresas nativas da web3. E com suas cotas de participação já tokenizadas, por favor.

Mas nem tudo são flores no império do czar. Web3 é furada, discurso de Molly White, no palco central, batendo de frente com Charles Hoskinson, fundador da Cardano, nona blockchain em valor de mercado. Todo bilionário surge às custas de milhões de otários. Projetos inconsistentes, esquemas de pirâmide e golpes são deixados de lado e o que mais se vê por aqui são os mercadores de hype. Prósperos executivos, profissionais em vender o sonho do lucro fácil em palestrinhas de 20 minutos. (W.M.)

De Rotterdam

A ligação entre Brasil e Portugal começa por Sines, na costa do Alentejo. Essa simpática vila de 14 mil habitantes (metade de Arraial do Cabo) é o berço de Vasco da Gama, navegador pioneiro que no século XV conectou Portugal com o mundo. Por coincidência (ou não), é aqui que chega o EllaLink, cabo transoceânico de fibra óptica que liga o Brasil à Europa. Inaugurado ano passado, ele trouxe mais banda e menos latência para os navegadores digitais.

Lugar estratégico para montar um acampamento base e começar o trabalho de aclimatação para escalar o pico mais alto da internet mundial, o Web Summit. Após 4 dias em um Monte Alentejano para anabolizar as hemácias com muito vinho tinto, estava pronto para encarar a subida. Por sorte, logo no início da trilha, um guia sherpa apareceu com um Tesla e me ajudou a carregar a mochila em uma breve carona de 25 minutos até Grândola. É nessa outra vila, tão pequena quanto Sines, que fica a estação do Alfa Pendular, trem de alta velocidade que corta o país de norte a sul. Mais uma hora e cinco minutos de viagem e pronto: Estação Oriente, no Parque das Nações em Lisboa. Ao meu lado, dezenas de milhares de alpinistas digitais já se aglomeram em filas por todos os lados. Todos convergindo para a reunião de cúpula da internet.

O Web Summit assumiu o posto de maior evento de tecnologia do planeta. Veja a galeria com as fotos da festa, ficaram ótimas. Este ano foram 71.033 participantes vindos de 160 países, 2296 startups, 1081 investidores e 1050 palestrantes. Como registro positivo, fica a grande presença feminina: 42% dos participantes e 34% dos palestrantes. Uma grande evolução para eventos do tipo.

Em maio de 2023 o Summit chega ao Rio para a sua primeira edição fora da Europa. Torço para que a parceria prospere e que este primeiro evento comece a fazer com minha cidade natal o que fez por Lisboa. A capital portuguesa já é parceira desde 2016 e tem a franquia garantida até 2025.

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