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A corrida pelo AIPhone

Lembra como eram os celulares antes do iPhone? Se você é muito novo (ou muito velho) para lembrar, dê uma pesquisada em “smartphones 2006”. A variedade de formatos, sistemas operacionais e funções era uma coisa impensável para quem está acostumado com os celulares de hoje, todos praticamente iguais. É uma fase comum a toda novidade eletrônica de consumo, a da “explosão pré-cambriana” onde cada fabricante ou startup inventa o seu modelo e joga na parede para ver se gruda.

Agora é a vez dos hardwares de IA, dispositivos que você pode vestir e trazem uma inteligência artificial embutida. São broches, pingentes, óculos, relógios, fones de ouvido com chips de última geração que começam a pipocar na mídia em diversas fases de desenvolvimento. Todos tentando ser uma resposta a uma pergunta que ninguém sabe muito bem qual é. Todos querendo ser o Iphone da inteligência artificial.

Wearables, ou computadores vestíveis, não são uma novidade. Na verdade, existem desde o começo da década de 1960 quando dois cientistas do MIT resolveram colocar alguns transistores dentro de um sapato para contar cartas num jogo de 21 em Las Vegas. Mas o termo só virou uma categoria na computação a partir de 2010, quando o barateamento e a miniaturização de componentes permitiu o lançamento de pulseiras inteligentes como o Fitbit, que media seu desempenho em exercícios e outras métricas fitness. Daí surgiram diversos smart watches e smart glasses, com relativo sucesso, mas nada capaz de mudar o mundo.

A Inteligência Artificial pode dar novos poderes a esses aparelhos e talvez até substituir o celular como a traquitana que você não pode sair de casa sem. Afinal, para que carregar um trambolho retangular no bolso/bolsa se o seu relógio/óculos/broche consegue receber e mandar mensagens, tirar fotos e conversar com você em momentos de solidão? É o futuro? Gigantes da tecnologia como a Meta, a OpenAI e algumas startups que você nunca ouviu falar acham que sim. Já existem vários produtos e projetos chegando ao mercado e provavelmente devem sair muitos mais nos próximos meses. Segue uma lista do que temos até o momento.

AIPhone?
Quem melhor para inventar o sucessor do iPhone que um dos responsáveis por criá-lo? Jony Ive, ex-designer chefe da Apple está em “negociações avançadas” com a criadora do ChatGPT, a OpenAI para criar uma “interface mais humana e intuitiva” para pessoas comuns interagirem com a inteligência artificial. Nada de concreto foi anunciado, mas eles já garantiram um bilhãozinho de dólares do SoftBank para a empreitada. Espera-se que uma nova empresa seja criada para produzir um aparelho controlado por voz, posto que Ive já declarou algumas vezes que se sente um pouco culpado pelo vício em telas que o iPhone ajudou a criar.

Meta Smart Glasses
Na próxima terça (17) começa a ser vendido o Ray Ban inteligente da Meta, cuja versão anterior se chamava Meta Stories e foi um fracasso total com 90% de seus usuários desistindo de usá-lo. Sua função principal é a possibilidade de fazer streaming da sua vida diretamente para as redes sociais da Meta. Provavelmente, em algum momento do desenvolvimento, Zuckerberg descobriu que não existem tantos influencers míopes assim no mundo e resolveu ampliar um pouco o escopo jogando mais inteligência no negócio. O óculos da Meta agora vem com seu próprio assistente virtual, a Meta AI, ainda em estágio beta. Inicialmente, ela vai servir basicamente para controlar as funções do óculos — acionar gravações e fazer chamadas. Mas a ideia é tornar o óculos mais inteligente em futuros updates, podendo reconhecer objetos, traduzir placas e outros truques. A conferir.

Humane AI Pin
Lançado com pompa e circunstância na Paris Fashion Week, pendurado na roupa da supermodel Naomi Campbell, o broche inteligente da Humane deve agradar fãs de moda e de Star Trek. Criado por Imran Chaudhri e sua esposa Bethany Bongiorno, ele designer e ela engenheira da Apple durante anos, o AI Pin promete ser o primeiro “computador invisível” da história. Um pequeno quadrado com uma câmera e um micro projetor monocromático que ouve sua voz, capta gestos e responde suas perguntas em linguagem natural. Previsto para ser lançado no início de novembro, ele deve ter sua pré-venda iniciada hoje, durante o eclipse solar.

Rewind Pendant
Rewind é um aplicativo (por enquanto só para Mac e iPhone) que grava tudo o que acontece na tela do seu computador (ou celular), encripta e permite que você peça para uma IA lembrar, transcrever ou resumir coisas que você já esqueceu. “Qual o endereço daquele site de bonecas de porcelana que eu visitei semana passada?” ou “coloque tudo que conversamos no grupo do projeto em uma lista de tarefas”, por exemplo. Que tal ter esse tipo de poder na vida real? Você pagaria US$59 em um pingente que grava tudo que você fala e ouve durante o dia e depois transcreve e permite buscas inteligentes? Muito Black Mirror? Muito James Bond? A empresa disse que a privacidade é uma questão que está sendo levada muito a sério, mas só vai dar pra saber de verdade quando o Rewind Pendant chegar nas mãos dos usuários.

Tab
“O Computador Pessoal ainda não foi inventado”. Essa frase é a única coisa que você encontra ao entrar no site do Tab, pingente inteligente criado pelo garoto prodígio Avi Schiffmann. Com 17 anos, ele criou um site de monitoramento da covid-19 que chegou a ter 600 milhões de usuários e recusou uma oferta de US$8 milhões por ele. Depois de um vídeo viral no Twitter, ele lançou seu Tab, vendeu 100 unidades de um protótipo e a promessa do produto final no início de 2024. Pela descrição de seu criador, o Tab é algo que fica entre o Rewind Pendant e a assistente pessoal do filme Her, de Spike Jonze. “Falar com o Tab é como uma conversa noturna com um amigo que realmente te entende.”

Até o momento, a nova geração de IA Hardware gera mais dúvidas que vontade de torrar dinheiro com elas. Mas isso é normal, no estágio em que a tecnologia se encontra. Nem Apple, nem Amazon, nem Google entraram ainda nessa brincadeira. A Apple, por sinal, apesar de ter comprado mais de 50 empresas de inteligência artificial nos últimos anos, não utiliza o termo em nenhum de seus produtos, preferindo usar “aprendizado de máquina” e “grandes modelos de linguagem”, cientificamente mais corretos que a buzzword do momento. Mas já foi dada a largada na corrida pelo novo iPhone. Quem vai chegar em primeiro lugar? O gênio pós-adolescente? O casal de ex-funcionários? Alguém que nem apareceu na mídia ainda? Melhor esperar alguns meses para apostar. A única certeza é que a IA vai mudar completamente aquilo que carregamos no bolso ou penduramos no corpo.

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