Qual modelo de economia sustentável o Brasil precisa desenvolver?

Receba as notícias mais importantes no seu e-mail

Assine agora. É grátis.

O texto final da Cúpula da Amazônia deixou de fora um assunto incômodo para o governo brasileiro: a exploração de petróleo na região. A discussão em evidência no momento é sobre o modelo econômico a ser adotado para a matriz energética nacional. Independentemente do modelo a ser escolhido, o biólogo e conselheiro ambiental Roberto Waack afirma que o importante é o país encontrar um meio sustentável de exploração ambiental. “Uma coisa é claríssima: é preciso desenvolver a economia da floresta em pé. É preciso que a valoração dos ativos naturais, da conservação, seja reconhecida como algo que pode, de alguma maneira, ser distribuída para a população que vive aqui [na Amazônia].” Em entrevista à jornalista Flávia Tavares no programa Conversas com o Meio, ele avalia que a pressão da Petrobras para exploração de áreas sensíveis, como a Margem Equatorial, pode acelerar, na outra ponta, o desenvolvimento da economia verde. “Eu acho que é nesse momento que estamos vivendo.”

Waack julga favorável o debate atual sobre os prós e contras de se explorar petróleo na Foz do Amazonas por não acreditar em uma verdade absoluta sobre o tema. Enquanto uma ala defende a atividade para se beneficiar dos royalties de petróleo, há a comunidade científica e ambiental exigindo que a possibilidade seja vetada. Mas, um ponto importante nessa conversa é quem deve financiar a transição energética, de fontes fósseis para renováveis. “É mais uma questão de como serão alocados os recursos derivados dos combustíveis fósseis e se eles são absolutamente necessários para que a riqueza que a população precisa realmente surja”, explica. A resposta, segundo o biólogo, deverá vir dessa discussão.

PUBLICIDADE

Outro ponto de destaque é a importância de se pensar como deverá ser a economia que reconheça a conservação como ponto fundamental do desenvolvimento sustentável. Waack avalia que o agronegócio precisará mudar seu formato de atividade e o Estado pode pavimentar essa transição moldando incentivos fiscais e tributários para o setor. “O Plano Safra pode ter um papel positivo, caso incorpore incentivos para que aqueles que já ocuparam seu espaço não avancem [na floresta], possam restaurar uma parte do que foi ocupado, e continuem com uma parte de sua atividade”, sugere.

Ele diz que o mundo não tem uma resposta pronta sobre a melhor maneira de integrar meio ambiente e sociedade. “Esse novo modelo é um grande desafio e eu acredito que o Brasil tem uma posição muito privilegiada para apresentar ou pelo menos desenvolver esse modelo.” Ele destaca que o país tem a maior floresta tropical do mundo, capacidade tecnológica e engajamento dos movimentos sociais para promover um novo método de desenvolvimento.

A conceituação da Amazônia foi criada por um grupo, do qual Waack faz parte, focado na preocupação ambiental e de como o Brasil se apresenta para si e ao mundo como uma nação que tem esse bioma. “Em geral, o brasileiro considera a Amazônia o resto do Brasil, mas ela é 60% do território brasileiro. É uma situação sem pé nem cabeça no país das amazônias”, pondera. Ele ressalta a pluralidade da população local, que inclui indígenas, quilombolas, entre outros grupos sociais. “Essa provocação de sempre tratar a Amazônia no plural é justamente para valorizar a riqueza dessa diversidade e as diferentes realidades que são necessárias ao pensar políticas públicas”, conta.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.