Morte de Marielle representa a destruição de uma sociedade melhor

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O Brasil acompanha apreensivo os desdobramentos das investigações sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Para a coordenadora-geral da ONG Criola, Lúcia Xavier, a vereadora inspirava a luta pelos direitos das mulheres negras e de toda a sociedade democrática. E sua morte é cercada de simbologia. “O que foi destruído com a morte de Marielle não foi só a interrupção da vida, mas também a ideia de que a gente podia viver em uma sociedade melhor.”

Em entrevista à jornalista Flávia Tavares no programa #Conversas com o Meio, Lúcia avalia que a pressão social pela investigação e resolução do caso ajuda a fortalecer a união das diferentes esferas democráticas. “Marielle é como se fosse, na perspectiva ancestral, alguém que nos une, independentemente da nossa cor, do nosso credo ou posição política.”

Com a criação do Ministério da Igualdade Racial, chefiado por Anielle Franco, irmã da vereadora morta, Lúcia considera que o governo federal reconhece que a pauta racial é importante para o país. Mas ressalta que serão necessários acordos em todos os níveis dos entes federativos para impactar diretamente a vida de pessoas negras. “Há políticas que podem ser induzidas diretamente pelo governo federal, como ampliação de formação, de cargos com cotas, saúde e educação”, pondera.

O racismo pode ser visível, por exemplo, quando a questão é sobre encarceramento em massa. Lúcia destaca a desigualdade de tratamento da lei no caso de pessoas negras, que são a grande maioria da população prisional, muitas vezes mantida em cárcere sem julgamento ou sem o devido direito de defesa. “A pessoa é condenada sem investigação, sem justa prova e com penas bastante longas.”

Para exemplificar as desigualdades latentes da sociedade sobre esse tema, ela lembra o tratamento dispensado a políticos encarcerados e a pessoas negras na mesma condição. “Eu tenho um governador que foi preso e condenado a quase 300 anos e já está em liberdade com menos de um terço da pena cumprida, mas tenho uma pessoa presa com uma quantidade mínima de drogas, sem defesa e condenada por mera palavra entre Estado e criminoso.”

Lúcia esclarece que a luta contra as desigualdades é responsabilidade de todas as pessoas que querem uma sociedade melhor, não afetando o lugar de fala, que para ela, deve ser equânime, não excludente e não impeditivo de todas as vozes se expressarem. “O lugar de fala só quer dizer a experiência de eu me apresentar como sujeito político, porque a responsabilidade de lutar contra todas essas formas de violência é sua, não só minha, porque nós queremos uma sociedade justa, igualitária e democrática”, explica. “Mas seu lugar de fala não pode ser o lugar que impede minha própria fala ou de outras e precisa ser compreendido com o mesmo valor que damos à experiência de vida de cada pessoa.”

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