É importante despertar no jovem do ensino médio o amor pela ciência, diz presidente do CNPq
Há um mês presidindo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o físico Ricardo Galvão já tem planos em andamento para o órgão no curto e médio prazos. Boa parte do R$ 1,9 bilhão disponibilizado pelo governo será destinado às bolsas de pesquisa, não somente para mestrado e doutorado, mas também para as de iniciação científica júnior, que vão para estudantes do ensino médio premiados em olimpíadas, utilizando parte dos recursos do Bolsa Família. Em entrevista à jornalista Flávia Tavares, no programa Conversas com o Meio, ele justifica a necessidade desse investimento fora dos bancos acadêmicos. “Queremos aumentar essas bolsas porque é importantíssimo despertar no jovem do ensino médio o amor pela ciência.” Outro foco é melhorar o valor oferecido aos bolsistas de mestrado e doutorado. “É muito difícil um aluno formado em engenharia ou medicina deixar de ir para o mercado para ganhar uma bolsa de R$ 1.500.”
Galvão entende que a sociedade tem uma visão distorcida do que é um cientista: receberia um problema e o resolveria como um “professor pardal”. Ele explica que o desenvolvimento tecnológico no setor produtivo acontece apenas em países que investem em pesquisa básica. A rápida produção de uma vacina para a covid foi possível por conta desse tipo de pesquisa. Para ele, o problema desse setor no Brasil é conhecido como o “vale da morte”, um ponto em que os centros de pesquisa das universidades descobrem alguma tecnologia que pode ter um potencial de aplicação na vida prática com o desenvolvimento de um produto, mas o projeto acaba descontinuado porque nenhuma empresa se interessa em investir. Para superar essa fase, ele defende que é necessário uma forte articulação do Estado com o setor privado.
Ainda que o presidente do CNPq compreenda a situação do empresariado brasileiro, que muitas vezes tem dificuldade com a parte da legislação, que gera insegurança para o investimento, ele critica a visão econômica dos empresários, que não veem além do curto prazo. “Quando eles vêm buscar alguma coisa [da pesquisa científica], eles querem algo imediato.” Galvão conta que uma grande empresa já se interessou por um produto desenvolvido por sua equipe, mas a parceria não seguiu adiante porque os funcionários queriam receber o material já acabado pelos pesquisadores. “Essa era a mentalidade que eu via às vezes no empresariado. Eles vão à universidade querendo que seja entregue um produto que eles possam vender amanhã. Não é assim, não pode ser assim.”
Ao assumir a presidência do CNPq, Galvão encontrou uma situação menos difícil do que esperava, mesmo com a redução do orçamento e o corte pela metade no número de servidores. Ele elogiou o trabalho dos funcionários do CNPq mesmo com essas limitações. “Eles mantiveram a instituição funcionando, mesmo com falta de recursos. Isso me ajudou um pouco a programar o que nós vamos fazer no futuro”, conta. Antes, será preciso entender como funciona a nova estrutura do órgão para se certificar de sua eficiência. Um ponto importante é recuperar o orçamento para investir em pesquisas científicas e bolsas de estudo. A ideia é evitar uma maior fuga de cérebros do país, que tem ocorrido com a falta de oportunidades.
O físico também critica o interesse do governo anterior em juntar o CNPq e a Capes em uma única instituição porque elas têm “objetivos paralelos, mas distintos”. Ele explica que o CNPq foi criado para fomentar a pesquisa no país, provendo recursos para laboratórios e pesquisas científicas, enquanto a Capes está focada na distribuição de bolsas para formação de docentes em nível superior. “Portanto, não teria nenhuma razão para juntar esses dois objetivos”, conclui.