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Política externa brasileira volta a atender aos interesses do Estado

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Com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China nesta semana, a política externa brasileira volta a ficar em evidência. A coordenadora da Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Danielle Ayres define os cem primeiros dias de Lula 3 nessa área como “uma reestruturação da política externa nas suas bases tradicionais”. Em entrevista à jornalista Andrea Freitas no programa Conversas com o Meio, ela afirma que agora temos “uma política que atende aos interesses do Estado brasileiro” e não a uma ideologia que criticava e abandonava as relações internacionais estabelecidas por ser identificada, nos últimos quatro anos, com algo que era prejudicial ao país. “O que, obviamente, não era, analisando com critérios sólidos e efetivos”, pontua.

Para Ayres, a chegada de Lula ao poder traz benefícios imediatos ao país no contexto internacional. “Os Estados que negociam com a gente vão ter muito mais confiança em negociar conosco porque sabem o que podem esperar do Brasil nesse sentido”, mesmo que a visão não seja semelhante à dos parceiros, como, por exemplo, sobre a guerra na Ucrânia. Essa credibilidade havia sido perdida com Bolsonaro. “Você nunca sabia o que esperar daquele governo e isso gerava uma fragilidade política em relação ao Estado, o que é muito ruim em política internacional”, conclui.

A política externa é a área do Estado brasileiro que passou por grandes reveses com Bolsonaro e agora é preciso reorganizar o papel do país em relação às outras nações. Ela destaca que o governo precisará se esforçar para voltar a ter a relevância internacional que tinha antes da extrema direita chegar ao poder, mas que o caminho já tem sido percorrido pelo petista, reabrindo o diálogo com lideranças do exterior. “Isso se refletiu nas várias visitas que o presidente Lula fez e nas que recebeu”, comenta, ao citar a chegada do chanceler alemão Olaf Scholz ao país. Outro ponto importante foi a retomada de princípios definidos na Constituição Federal que foram deixados de lado pelo governo anterior, como a defesa dos direitos humanos e da resolução pacífica dos conflitos.

Em que pese o apreço pelos direitos humanos e as liberdades individuais, o calcanhar de Aquiles do governo Lula segue sendo a leniência com ditaduras latino-americanas, como Honduras, Nicarágua e Venezuela. Ayres lembra que essas nações tinham uma visão política em comum no passado, mas que atualmente se tornaram ditaduras que violam direitos. “Não interessa seu viés ideológico, nós temos de condená-las”. Para a coordenadora da UFSC, o presidente erra ao não fazer uma crítica mais acentuada sobre o regime autoritário presente nesses países.

Mesmo com os problemas internos, o Brasil é um grande ator internacional, o que desperta os interesses da China, que busca expandir sua influência política pelo planeta. Ayres acredita que a agenda entre os dois países foque em pautas econômicas por ser de interesse chinês criar zonas onde os Estados Unidos e seu dólar não sejam importantes e influentes. “É aí que o Brasil e a América Latina entram”, avalia. Outro ponto a ser tratado por Lula é fechar acordos que permitam a reindustrialização do Brasil baseado em acesso à tecnologia e o desenvolvimento de bens agregados e inteligência cibernética que ainda faltam ao país.

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