O Brasil precisa escolher entre a vanguarda e o atraso energético, diz Ilona Szabó

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O Brasil, enquanto indústria e setor petrolífero, tem ambição de continuar sendo um produtor para uma demanda final de combustíveis fósseis. É o que afirma a cientista política e pesquisadora Ilona Szabó. Em entrevista a Pedro Doria, no programa Conversas com o Meio, ela destaca que não faltam recursos naturais para explorar no país, e que a questão é onde queremos nos colocar: na vanguarda ou no atraso do setor energético. “A gente pode ser uma potência verde em tudo, fazendo tudo pensando nas pessoas que estão aqui”, ressalta.

A cientista política acredita que o Brasil poderia estar liderando a transição energética no mundo por ditar tendências, e ao se negar a assumir essa posição, tende a influenciar outros países a atrasar suas escolhas por economias verdes. Para Ilona Szabó, será difícil sustentar a queda do desmatamento da Amazônia se novas economias não forem pensadas. “Se ficar no velho, a floresta não vai sobreviver, porque o modelo extrativista não vem com a noção de sustentabilidade que a gente precisa incutir para ter futuro”, conclui.

Ilona diz que falta uma visão brasileira do que seria política climática ao mesmo tempo que vislumbra os desafios globais. Mesmo o país apostando em reduzir o carbono com a queda no desmatamento, não há um plano de transição energética. “Não dá para a gente não dialogar em um plano sério sobre o que fazer com carvão, diesel e gás e dissociar de uma discussão sobre a Amazônia”, comenta. “Para mim, a gente não compreendeu que essas agendas estão absolutamente relacionadas.” Ela aposta que o mundo desenvolvido será de baixo carbono, no entanto, o Brasil ainda não fez essa opção.

Sobre a visita do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ilona diz que é importante o Brasil manter relações com todos os países, o que não inclui a minimização de ditaduras. É natural que haja a tentativa de retomar a posição brasileira de mediador de conflitos, mas não se deve deixar valores caros, como os direitos humanos, de lado. “Eu tenho bastante receio desse tipo de atitude [negação do autoritarismo], da mensagem que ela passa, que não é só gancho [de críticas] para a oposição, mas porque o apreço pela democracia por jovens latino-americanos vem caindo aceleradamente.”

Outra discussão importante é o julgamento do STF sobre a regulação do porte de drogas. Ilona ressalta a importância de tratar o tema na esfera da saúde pública e não na criminal. Ela entende que o Supremo tem a oportunidade de corrigir uma distorção na lei que continua incriminando consumidores de entorpecentes, sem a necessidade de levar os envolvidos para a delegacia. A pesquisadora ressalta que outros países sul-americanos estão mais adiantados nesse debate e acredita que apenas o porte de maconha será retirado da esfera criminal pela Corte, o que para ela seria uma pena porque “quando a gente tira só o consumo da maconha da esfera criminal a gente continua jogando as pessoas que podem desenvolver as dependências mais pesadas com drogas mais danosas na mão da polícia, e não do médico”.

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