Liderança de Putin depende da avaliação das elites que sustentam seu poder

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Com a impopularidade internacional do presidente russo Vladimir Putin, a insatisfação e dissidência de cidadãos fugindo de seu país por conta da guerra na Ucrânia, a demonstração de enfraquecimento do poderio militar da Rússia somados à piora da economia podem gerar um caldo de cultura que chegue a ameaçar sua governabilidade. Para a doutora em Relações Internacionais Fernanda Magnotta, as elites que sustentam o poder do presidente, ao fazer esse cálculo, podem não estar mais dispostas a mantê-lo à frente do país. “O poder é ocupado por aquele que se beneficia das circunstâncias. Se houver um recálculo de que estar ao lado de Putin custa mais do que beneficia e que existem alternativas, isso pode despertar interesse de ocupar esse espaço ou disputar a liderança.”

Em entrevista à jornalista Andrea Freitas, no programa Conversas com o Meio, ela explica que o poder do presidente russo está ancorado em um tripé formado pelo campo econômico, composto pelos oligarcas das áreas do petróleo e da energia; ideológico, ligado aos nacionalistas, guardiães das tradições e identidades que remetem ao período czarista; e militar, com as Forças Armadas. “Quem garante a coesão na Rússia, mesmo havendo dissidências, são esses três grupos, associados à uma máquina de comunicação que promove certas narrativas do ponto de vista da opinião pública”, conclui.

Fernanda diz que a rebelião na Rússia já era algo esperado, mesmo que as circunstâncias e o momento em que ocorreu tenha causado alguma estranheza. Ela ressalta que Putin está há muitos anos no poder, mas isso não quer dizer que sua liderança é incontestável pelos russos. “Pelo contrário. Num país complexo como a Rússia, enorme e variado em matéria de etnias e perfis, é de se imaginar que existam particularidades e que nem todos se identifiquem com a gestão de Putin.”

Para ela, a invasão do grupo Wagner à Rússia não teve a intenção de destituir Putin, mas sim, uma disputa militar de poder entre o Ministério da Defesa e o exército mercenário. Essa luta por cadeias de comando entre os militares gerou um racha, que afetou o Kremlin.

Magnotta destaca dois momentos em que a Rússia passou por rompimentos institucionais causados por questões internas. O primeiro foi quando a insurreição popular derrubou o czarismo, no início do século XX. O segundo ocorreu com o fim da União Soviética e início da Federação Russa. Ao se ver desgastado com a guerra na Ucrânia com seu próprio povo e o princípio de rebelião causado pelos mercenários contratados por seu governo, a especialista destaca que Putin deve se empenhar em não deixar seu legado marcado por mais uma ruptura causada por um novo racha interno.

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