Lula demonstra cautela para lidar com militares no Planalto

Receba as notícias mais importantes no seu e-mail

Assine agora. É grátis.

PUBLICIDADE

O clima tenso entre o governo Lula e a cúpula militar continua causando mal-estar no Planalto. Para evitar que haja uma cisão traumática entre civis e militares, o editor-chefe do Meio, Pedro Doria, acredita que Lula não fará “demissões espetaculares” na caserna, preferindo pressionar para que militares da administração peçam dispensa. Em bate-papo durante o programa #MesaDoMeio, ele avalia que Lula não teve escolha ao declarar a intervenção federal na segurança do Distrito Federal, no ataque à Brasília, por acreditar que não daria para confiar nos militares. “E não dava mesmo.” Para ele, a maior parte do Alto Comando das Forças Armadas é legalista, porque teve a oportunidade de colocar tanques nas ruas, mas não o fizeram. “Eles não levaram os tanques para proteger os invasores do Planalto, mas apenas os acampados [em frente aos quartéis].”

Para a jornalista e colunista do Meio Mariliz Pereira Jorge, o Brasil teria um problema ainda maior caso o presidente Lula tivesse declarado a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), porque teria de contar com os militares para restabelecer a paz em Brasília. Ela questiona quem são os financiadores da tentativa de golpe, em 8 de janeiro, e disse que enquanto o país não tiver as respostas para essas questões “esse clima de vulnerabilidade da democracia e da sociedade vai permanecer”.

Por não poder contar com as Forças Armadas, o cientista político Christian Lynch explica que Lula não pôde acionar a GLO, porque mesmo que não fosse usado pelos militares para um golpe de Estado, se o Exército boicotasse o dispositivo, geraria uma crise que poderia fazer com que Lula renunciasse. Uma outra possibilidade seria o Exército fazer seu trabalho e manter a ordem, criando uma imagem positiva da instituição, como o poder moderador que eles acreditam ser.

Enquanto isso, nas audiências de custódia dos invasores de Brasília, bolsonaristas reclamam do tratamento recebido na cadeia, inclusive com queixas de que foram presos contra a própria vontade. Para Pedro Doria, essas pessoas estão “tão descoladas da realidade, que não conseguem mais perceber que o que elas fazem tem consequências”. Mariliz Pereira Jorge acrescenta que elas acreditavam que seriam isentas de responsabilidade criminal, e além do teor cômico desses depoimentos, há uma tragédia social, porque “muitas delas abandonaram ou foram abandonadas pela família e encontraram nesses grupos golpistas o pertencimento e o acolhimento que perderam ao longo da vida”. Christian Lynch sugere que os invasores foram doutrinados na internet nos últimos anos, vivendo em uma dimensão paralela, em que “a realidade é o que está no mundo virtual” e a possibilidade de serem presos por crimes cometidos não existia.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.