Conversas: Gabeira vê falta de capacidade de articulação política na bancada bolsonarista no Congresso

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Mesmo com um Congresso Nacional tão politicamente complexo, o novo governo deve ter capacidade de estabelecer uma boa ponte entre Executivo e Legislativo. Para o jornalista Fernando Gabeira, ainda que o bolsonarismo tenha elegido muitos deputados e senadores, sua bancada “é muito pobre em articulação e formulação”. Para evitar o domínio da extrema direita na Casa, uma boa estratégia seria fortalecer a direita democrática e isolar os extremistas. “Se houver um movimento inteligente de atrair uma direita mais clássica e deixá-los na periferia fazendo estardalhaços, mas sem perigos, acho que é possível avançar”, analisa. Em entrevista ao editor-chefe, Pedro Doria, no programa Conversas com o Meio, ele aposta que Lula possa conseguir o apoio de uma maioria no Congresso, podendo isolar uma oposição bolsonarista barulhenta.

Enquanto Pedro diz não ter imaginado ameaças antidemocráticas depois da Nova República, Gabeira acredita que houve uma decadência na democracia brasileira marcada por campanhas caras, financiadas por empresários que tinham interesses em contratos com o governo, “o que fez com que muitos partidos políticos voltassem as costas para o povo porque a vitória eleitoral vinha dos gastos em campanha”. Essa associação com empresários também acabou contaminando a vida de políticos que começaram a ter uma vida parecida com empresários milionários. Tudo isso culmina nas operações da Lava Jato e na ascensão política de Jair Bolsonaro, que soube utilizar as novas formas de comunicação permitidas pelas redes sociais.

Ele acredita que a Lava Jato não tinha noção do próprio potencial danoso para a política nacional. “Eles representam uma certa vontade de mudar o país”, mas ter se inspirado na operação Mãos Limpas, da Itália, cometendo os excessos ao longo das investigações, além de ter mostrado um viés político, quando visaram mais o PT e particularmente Lula, além de querer controlar o dinheiro recuperado pela operação levaram o trabalho da Justiça em descrédito por boa parte da população. Outro ponto importante foi a Vaza Jato, série de reportagens do The Intercept Brasil, que mostrou bastidores contundentes envolvendo membros do Ministério Público, e a aliança de Sergio Moto com Bolsonaro. “A Lava Jato passou a ser vista como uma espécie de complemento do bolsonarismo”, conclui. Para Pedro Doria, a Lava Jato “deveria ter ajudado a limpar e melhorar a transparência do Estado brasileiro” mas acabou se tornando uma guerra contra o sistema político, abrindo espaço para o autoritarismo.

Fernando Gabeira avalia que será necessário ter mais “responsabilidade” em fazer críticas ao PT no atual governo, sob o risco de trazer a extrema direita de volta ao poder. “Você se coloca em uma situação de ter de fazer uma oposição muito mais equilibrada e responsável, porque interessam as consequências.”

Outro ponto importante na conversa foi o papel de Marina Silva no governo Lula 3. Pedro lembra que ela havia perdido espaço no governo Lula anterior para o desenvolvimentismo petista, mas que, com a pauta ambiental em alta, fica mais difícil para Lula escantear Marina novamente. Gabeira diz que o PT agora compreende que a política ambiental também é uma fonte de recursos para a economia do país. Mas ele considera isso pouco, pois a pauta deveria ser a primeira preocupação do governo, porque “agora, mais do que nunca, a questão ambiental é fundamental”, com os investimentos dependendo desse setor e o mundo começando a adotar novas políticas para lidar com as mudanças climáticas.

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