Discurso de Múcio indica clima tenso entre Planalto e Forças Armadas

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O discurso do ministro da Defesa José Múcio Monteiro nesta segunda-feira, dia 2, amenizando as manifestações golpistas em frente aos quartéis deve ser entendido como um indicativo do clima tenso que deve estar entre o governo e os militares. Essa é a avaliação do cientista político Christian Lynch, em bate-papo no programa #MesaDoMeio. “Se a questão não fosse muito delicada, o ministro não estaria dizendo isso”, pondera. Para Lynch, o movimento do governo Lula quanto aos grupos de oposição será de “conciliação, não de impunidade”, deixando a Justiça seguir seu curso normal, enquanto o governo faz seu papel de Estado.

O editor-chefe do Meio, Pedro Doria, avalia que Lula não colocou Múcio à toa na pasta da Defesa, que deverá fazer um jogo combinado entre ele e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Enquanto Múcio faz o papel daquele que apoia a caserna, Dino age com mais rigidez na responsabilização das lideranças golpistas. Para o jornalista, está chegando o momento de ter mais paciência e “começar a reagir menos emocionalmente ao jogo da política e entender como ele é jogado”.

Enquanto isso, Bolsonaro continua agindo nas redes sociais como se ainda fosse o presidente do Brasil. Nesta terça-feira, dia 3, ele anunciou que seu governo havia baixado a tarifa da Usina de Itaipu. A jornalista Mariliz Pereira Jorge comenta que a atitude de Bolsonaro prolonga a expectativa de apoiadores que acreditam que ele ainda retornará ao país como presidente. Ela lembra das falsas narrativas que circulam pelas redes de que Lula não assumiu a presidência da República, inclusive a faixa utilizada na posse seria falsa. “Ele precisa ser responsabilizado, inclusive em relação a esse tipo de coisa”, comenta. “Ele continua alimentando essa insanidade coletiva que aconteceu no Brasil.” Pedro Doria ressalta que a faixa presidencial “é completamente irrelevante”, pois o que dá a posse ao chefe do Executivo é o documento assinado no Congresso, no dia 1º de janeiro. Ele diz que a sensação que tem dos grupos bolsonaristas em que acompanha é de abandono por parte de Bolsonaro. “Eles ficaram prometendo que algo iria acontecer e o que aconteceu foi a posse de Lula.”

Durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a repórter especial do Meio Luciana Lima conta que a ex-presidente Dilma Rousseff foi uma das personalidades mais tietadas entre os políticos, mesmo pelos petistas que não eram tão próximos durante seu governo. Ela comenta que o clima era de alguém que alcançou a redenção com o retorno do PT ao Planalto. Mariliz Pereira Jorge entende ser “natural que Dilma receba esse tipo de tratamento desse entorno petista que assume o governo, porque parte dessas pessoas entendem que ela sofreu um golpe e foi injustiçada”, o que daria o ar de redenção.

Pedro Doria interpreta que o uso do termo “golpe” sem dizer que foi de Estado é uma estratégia utilizada pelos petistas para se referir ao impeachment de Dilma em 2016 porque “atende à militância sem forçar a barra da Ciência Política”, podendo ser usado também com o sentido de trapaça. Ele considera que Dilma é um problema para o PT porque existe uma pressão da esquerda para que ela assuma algum cargo político, ao mesmo tempo que precisaria de uma articulação política dentro da frente ampla do atual governo, o que seria muito difícil de conseguir por conciliação. Christian Lynch lembra que esse problema ocorre na Nova República porque antes “as pessoas não voltavam do exílio, após sofrer um suposto golpe”, o que dificulta o retorno de Dilma ao poder.

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