Prezadas leitoras, caros leitores —

Foi um ano áspero depois de anos nebulosos. Não há sopro, divino ou mortal, que desfaça o nevoeiro num estalo. Mas se há algo capaz de nos envolver em brisas mais auspiciosas é a ideia de um (re)nascimento, tão presente na virada de um novo ano.

Cá neste Meio, 2022 se encerra nesta Edição de Sábado. Entraremos em recesso, retornando com a cobertura online em tempo real da posse do novo governo em 1º de janeiro e uma newsletter especial no dia 2.

Sem soltar a mão da dura realidade que não se desfaz com uma ceia ou a virada da folha do calendário, convidamos os assinantes premium a, nesta Edição de Sábado, testemunhar um milagre. Nas margens do rio Xingu. O Meio presenteia os leitores com um conto inédito de Natal, da escritora Maria José Silveira. Seus personagens são os mesmos de Maria Altamira, romance finalista dos três principais prêmios literários brasileiros em 2021. E sua história é uma de desavença e reencontro; virtudes e imperfeições; começos e fins. Mais do que esperança, perseverança. É uma história muito brasileira, do Brasil de hoje.

Nós também perseveramos em 2022. Mais que isso, crescemos. Produzimos e entregamos cada vez mais conteúdo, em todos os formatos digitais, com o contentamento de estar do lado mais digno e necessário da trincheira: o da defesa da Democracia. E isso foi possível em boa medida porque você, assinante premium, existe. Por isso, muito obrigado. Se você ainda não é premium, assine!

Para todos os nossos leitores desejamos um 2023 de mais luz, cor e frescor.

— Os editores.

Até aqui, um governo com cara de PT e sem frente ampla

O gabinete do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva começou a ganhar ontem o contorno de diversidade étnica e de gênero prometido, mas ainda não representa a frente ampla que o apoiou na estreita vitória do primeiro para o segundo turno. Lula apresentou oficialmente 16 novos ministros, três dos quais já eram conhecidos: Margareth Menezes na Cultura, Luiz Marinho no Trabalho e Camilo Santana na Educação. Atual presidente da Fiocruz, Nísia Trindade  vai para a Saúde; a jornalista Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL-RJ), será ministra da Igualdade Racial; Alexandre Padilha vai para Relações Institucionais; Márcio Macêdo, para a Secretaria-Geral da presidência; Jorge Messias (o “Bessias” de Dilma) será o advogado geral da União; Esther Dweck irá para a pasta da Gestão; o ex-governador paulista Márcio França para Portos e Aeroportos; Luciana Santos, presidente do PCdoB, para Ciência e Tecnologia; Cida Gonçalves para o Ministério das Mulheres; o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) para o Desenvolvimento Social, que gere o Bolsa Família; Silvio Almeida para Direitos Humanos; e Vinícius Marques de Carvalho para a Controladoria-Geral da União. Lula não conseguiu um empresário que assumisse, Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que acabou no colo do vice eleito Geraldo Alckmin, contrariando previsão inicial. (g1)

Primeira mulher a assumir o Ministério da Saúde, Nísia Trindade disse que sua prioridade será reforçar o SUS, incluindo parcerias com instituições filantrópicas e privadas. “Nossa prioridade é cuidar do povo mais pobre, do povo trabalhador, do povo mais necessitado”, afirmou. Já o futuro ministro da Educação, Camilo Santana, prometeu focar na educação básica, mas provocou alguma preocupação ao admitir a participação do Centrão no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (FNDE), uma das áreas de maior verba em seu ministério. (UOL)

Com os anúncios até agora, Lula indicou 21 dos 37 ministros que comporão seu gabinete. Sete são políticos do PT, partido com a maior participação. Nenhum partido de centro foi contemplado até agora. Em termos étnicos e de gênero, são dez homens brancos, três pardos (Flávio Dino, Rui Costa e Jorge Messias), um preto, Sílvio Almeida, e um indígena, Wellington Dias. Entre as seis mulheres, Margareth Menezes e Anielle Franco são pretas e Luciana Franco se declara parda. (Folha)

A ausência de dois nomes chamou a atenção, dado o papel que tiveram na campanha de Lula: a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) e, no segundo turno, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Lula se reuniu ontem com o presidente do MDB, Baleia Rossi e disse que o partido terá dois ministérios, além de um para Tebet, a quem deve oferecer Meio Ambiente ou Planejamento. A senadora até aceita o primeiro, desde que Marina vá para a “autoridade ambiental”, instituição a ser criada, o que a deputada já disse não querer. (Globo)

Míriam Leitão: “No anúncio cheio de bons nomes que o presidente Lula fez hoje estavam obviamente fazendo falta Marina Silva e Simone Tebet. Mas o risco, segundo a análise de quem está acompanhando o ritmo das conversas, é a escalação errada. Marina Silva é o nome certo para o Ministério do Meio Ambiente, por todas as suas qualidades. Pensar em oferecer a Simone Tebet o ministério talhado para Marina é querer intrigar as duas, que se dão muito bem, aliás. Simone pode não querer ir para o Ministério da Agricultura, mas ela tem uma visão moderna do agronegócio e pode entregar o que o setor mais precisa nesse momento, que é limpar a imagem da produção brasileira.” (Globo)

Elena Landau: “Lula tinha a oportunidade de montar um ministério plural, em todos os sentidos, e jogou fora. Frustrou quem esperava diversidade, não só de gênero e raça, mas de ideias. Foi o próprio Lula quem falou em frente ampla e criou uma expectativa. Quando afinal divulgou os nomes de sua equipe mostrou que tudo não passava de conversa de eleição. O núcleo principal é formado de homens e do PT. Pelo jeito, acha que ganhou a eleição sozinho. Nomes de mulheres e negros vieram na segunda leva. 2023 já nasce envelhecido.” (Estadão)

PUBLICIDADE

Apresentado ontem pelo vice eleito Geraldo Alckmin antes da divulgação dos futuros ministros, o relatório final da equipe de transição revelou um cenário alarmante de retrocesso. Na Educação, segundo o documento, a aprendizagem diminuiu e houve crescimento na evasão escolar, além do quase colapso das universidades federais. Na saúde, a taxa de vacinação teve queda generalizada. Os recursos para cultura caíram quase 90%. E o desmatamento na Amazônia cresceu 59% em quatro anos. (g1)

A vida não está fácil para a o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino (PSB). Na quarta-feira ele se viu forçado a desconvidar o lavajatista Edmar Camata para o comando da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao se resgatarem postagens dele comemorando a prisão do presidente eleito Lula. Ontem, veio a público que seu escolhido para a Secretaria Nacional de Políticas Penais, o coronel da PM paulista Nivaldo César Restivo, esteve presente no massacre do Carandiru, em 1992, quando era tenente. Na ocasião, a tropa de choque da PM invadiu o presídio para conter uma rebelião, deixando 111 detentos mortos, muitos com sinais de execução. Em 2017, ao assumir o comando da corporação, Restivo classificou a matança como “legítima e necessária”. Os integrantes da equipe de transição de Segurança Pública e Justiça divulgaram uma nota manifestando “constrangimento, decepção e vergonha” com a nomeação do coronel. Ainda não se sabe qual a reação de Dino. (Metrópoles)

Meio em vídeo. O ano que está acabando teve literalmente de tudo, particularmente polêmicas. Mariliz Pereira Jorge e a equipe do Meio selecionaram os assuntos que mais provocaram dissenso, controvérsia, cizânia ou, no popular, tretas. Confira a retrospectiva da coluna De Tédio a Gente Não Morre – mas bem que nós estamos merecendo um pouquinho de tédio para variar. (YouTube)

Dias depois de recomendar o indiciamento do ex-presidente Donald Trump por crimes ligados à invasão do Capitólio em 6 de janeiro, o comitê bipartidário que investiga o ataque divulgou seu relatório final atribuindo exclusivamente a Trump a responsabilidade por “um plano de muitos estágios para invalidar as eleições de 2020”. Incitada por Trump, uma turba de extrema direita invadiu a sede do Legislativo para tentar impedir a homologação da eleição de Joe Biden. Em seu relatório, o comitê lista medidas para impedir futuras ações desse gênero e recomenda que Trump seja proibido de exercer cargos públicos. (New York Times)

Presépio na Ucrânia

Tony de Marco

Presepio-na-Ucrania

Cultura

Para os padrões de 1975, uma canção com quase seis minutos, quatro mudanças de tempo e uma gama de estilos do hard rock à ópera não era tão inusitada quanto possa soar hoje, embora fosse magistral. Entretanto, Bohemian Rhapsody, do Queen, sobreviveu à “desofisticação” do rock em geral, inclusive da própria banda, e segue fazendo história. A faixa acaba de superar a marca de dois bilhões de streams no Spotify. Ao ser lançada em compacto, 47 anos atrás, ela levou o álbum A Night At The Opera a vender mais de um milhão de cópias (hoje já passa de dez milhões) e invadiu as TVs com seu clipe, na verdade baseado na capa de outro disco, Queen II. Em 2018, aliás, ela já havia sido premiada como a canção do século 20 com mais streams. De qualquer jeito que o vento sopre... (The Music Universe)

Confirmada ontem como próxima ministra da Cultura, Margareth Menezes anunciou que o presidente do Olodum, João Jorge, vai comandar a Fundação Palmares a partir do ano que vem. Advogado e mestre em Direito Público, ele terá a missão, nas palavras da futura chefe de resgatar a instituição. “A Fundação Palmares foi completamente depredada — fisicamente e também na sua estrutura interna”, afirmou Margareth. De fato, a indicação representa uma guinada de 180 graus. Ao longo de quase todo o governo Bolsonaro, a Fundação Palmares foi chefiada pelo militante de direita Sérgio Camargo, que se referia ao movimento negro como “escória maldita” e defendeu o fim do Dia da Consciência Negra. (g1)

E, em homenagem ao dia de amanhã, o Poema de Natal, na voz de seu autor, Vinícius de Moraes. (YouTube)

Viver

Um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vai permitir que pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado tenham acesso a medicamentos à base de cannabis. Se for sancionada pelo futuro governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a medida beneficiará pessoas autistas e as que fazem tratamento para Parkinson, Alzheimer, epilepsia, entre outras doenças. Mesmo sendo aprovados pela Anvisa desde 2015, esses produtos ainda são inacessíveis para a maior parte da população por seu alto custo e dificuldade de acesso. Atualmente, remédios à base de maconha são fornecidos pelo governo estadual apenas com decisão da Justiça. (Estadão)

PUBLICIDADE

Na Espanha, a Câmara dos Deputados aprovou uma lei que permite que maiores de 16 anos alterem nome e identidade de gênero em seus documentos sem burocracia. O texto prevê que exigências médicas, como terapia hormonal ou laudo psicológico, deixarão de ser obrigatórias. A nova legislação também permitirá que um casal com duas mulheres ou uma mulher e um homem trans possa registrar um recém-nascido como filho de ambos, sem que tenha de entrar com um pedido de adoção. O projeto segue para aprovação no Senado. (Folha)

Para ler com calma. A árvore mais alta da Amazônia, descoberta em setembro deste ano, tem aproximadamente 400 anos e a altura de um prédio de 30 andares. Ela faz parte de um conjunto com outras espécies gigantes encontradas na Flota do Paru, uma área em que é permitida a exploração sustentável dos recursos naturais. Mas, ambientalistas dizem que não é o que tem ocorrido, por causa de garimpeiros e grileiros da região. Em novembro, essa unidade de conservação foi a terceira mais desmatada de toda a Amazônia. (UOL)

De registro do telescópio James Webb a uma poderosa explosão vulcânica, passando por revelações microscópicas e um buraco negro. Veja a seleção da revista Nature para as melhores imagens científicas de 2022. (Nature)

Cotidiano Digital

O Twitter terá um novo recurso que mostra a contagem de visualizações de todos os tweets. O lançamento foi confirmado nesta quinta-feira pelo próprio dono da rede social, Elon Musk. A novidade permite que qualquer pessoa veja quantas visualizações um tuíte teve, assim como acontece em vídeos na rede social e no YouTube. Antes, a função era reservada para o autor da publicação. A ferramenta deve aparecer à esquerda da quantidade de compartilhamentos, compartilhamentos com comentários e curtidas. (g1)

Após ser preso e extraditado das Bahamas, o fundador da corretora de criptomoedas FTX, Sam Bankman-Fried, foi libertado pela Justiça dos Estados Unidos sob fiança de US$ 250 milhões nesta quinta-feira. O executivo compareceu a uma tribunal em Nova York para enfrentar acusações de fraude e movimentação ilícita de fundos de clientes da empresa de criptomoedas. Sob o acordo firmado ontem, o ex-bilionário de 30 anos, que afirmou recentemente que tinha apenas 100 mil dólares no banco, terá que residir na casa de seus pais em Palo Alto, Califórnia, e estará sujeito a monitoramento eletrônico. Dois sócios também se declararam culpados de fraude e estão trabalhando com autoridades. (UOL)

Meio em Vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai conversam sobre o ChatGPT, nova ferramenta de inteligência via chat. Depois de Cora testar bastante as funcionalidades (e tirar algumas conclusões sobre sua “inteligência”), fica o questionamento: como essas novas tecnologias vão interagir com o mercado de trabalho? Perderemos nossos empregos? Venha descobrir! (YouTube)

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.