Com Xi Jinping no poder, China corre risco de enfrentar uma guerra, avalia cientista político

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Os conflitos internacionais envolvendo a China, em meio ao terceiro mandato consecutivo do governo Xi Jinping, geram um grande risco de desencadear uma guerra. Essa é a avaliação do cientista político e professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ Mauricio Santoro. Em entrevista à editora-executiva Flávia Tavares no programa Conversas com o Meio, ele comenta que “se a gente fizer um balanço desses dez anos de Jinping na presidência, as principais relações diplomáticas da China de hoje estão muito piores do que eram uma década atrás”. Santoro cita as relações com Estados Unidos, Japão, União Europeia e a Índia como os principais problemas geopolíticos, principalmente relacionados a disputas territoriais com Taiwan, que trouxe pontos de tensão entre chineses e americanos neste ano. Para o cientista político, crises como essas podem desencadear guerras semelhantes a que vimos entre Rússia e Ucrânia. Outro risco seria o poder concentrado nas mãos do atual presidente chinês, que não tem pares que possam freá-lo em suas decisões.

Santoro explica que o conflito entre chineses e americanos se dá pelo controle de tecnologias avançadas, como a rede de internet 5G, a inteligência artificial e a fabricação de microchips. Do ponto de vista bélico, o território de Taiwan pode ser uma importante base militar em caso de ataque à China em uma possível guerra. A ilha também é muito importante por ser um ponto estratégico, controlando o acesso ao mar do sul da China, que é a principal via do comércio marítimo do planeta. “Quem controla Taiwan pode abrir ou fechar essa grande avenida do comércio global”, comenta. Além disso, Santoro acrescenta o fato de Taiwan ser o centro mundial na produção de microchips, fundamental para as tecnologias mais avançadas em computadores, eletrônicos e automóveis. “E essa é uma área na qual a China ainda não consegue ser auto suficiente”, pondera.

O terceiro governo Lula se iniciará num contexto diferente de seus mandatos anteriores, beneficiados fortemente com a exportação de commodities, como soja, carne e petróleo para o país asiático, que crescia rapidamente. Mauricio Santoro ressalta que o crescimento chinês deve ser bem menor nos próximos anos, impactado pelas políticas de covid zero, a crise imobiliária local e os riscos geopolíticos, que tem levado empresas a realocarem recursos para outros países asiáticos. Se com Bolsonaro o Brasil teve laços fortes com o comércio chinês, com Lula as parcerias devem ser também políticas, como foram em mandatos anteriores, quando criaram juntos o Brics, o grupo do G20, entre outras cooperações. Mas ele também lembra que as relações serão mais assimétricas, tendo visto que os chineses atualmente são uma potência econômica muito maior que o Brasil.

O mundo tem acompanhado as diversas e violentas manifestações do povo chinês contra as medidas restritivas do governo contra a covid-19. Segundo Santoro, mesmo sendo um regime autoritário, os protestos são comuns na China, sendo “parte de uma dinâmica política em que muitas vezes essas manifestações são a única maneira que as pessoas têm de se fazerem ouvir pelas autoridades”. Mas, diferentemente dos casos anteriores, com reivindicações pontuais sobre questões locais, essas manifestações têm atingido todo o país centrado na rejeição da política de covid zero e escalado para a contestação de outras medidas adotadas pelo Partido Comunista. “Essas coisas todas somadas assustaram as autoridades chinesas e por isso estamos vendo nos últimos dias vários sinais de que haverá um relaxamento das políticas de covid zero.” Apesar da revolta nas ruas, ele assegura que não deve haver uma ameaça ao partido ou ao governo para que ocorra uma abertura democrática, já que grandes mudanças na China historicamente acontecem apenas em momentos de crises financeiras graves, o que não é o caso.

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