Brasil terá seu primeiro governo de coalizão na Nova República, afirma Pedro Doria

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Pela primeira vez na Nova República, o país terá um governo de coalizão de fato. Essa é a avaliação do editor-chefe do Meio, Pedro Doria, sobre a frente ampla que deve assumir o país em 1º de janeiro, com a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se nos governos anteriores o partido vencedor desenhava as próprias políticas públicas, “agora, no governo Lula, vamos ver um tipo de política europeia, em que essa coalizão terá muitas discordâncias e um debate constante”. Em conversa no programa #MesaDoMeio, ele avalia que os critérios para resolver os embates internos serão dois: os melhores argumentos na apresentação de propostas e o poder político, com trocas de favores entre os partidos aliados em pontos específicos. Com essa nova configuração, será preciso reaprender a ver as tensões e negociações como parte do jogo político e não como uma crise no poder. “A gente vai ter que aprender a reconhecer política de verdade sendo feita”, conclui.

Para o cientista político Christian Lynch, além da coalizão formada pelos partidos alemães no atual governo de Olaf Scholz, a frente ampla liderada por Lula lembra a Concertación chilena, por terem inimigos comuns em seus contextos históricos, como o autoritarismo, tanto no Chile da década de 1980 quanto no Brasil atual. Ele aposta que quanto mais a extrema direita ameaçar a democracia, maior a chance de a frente democrática se unir, podendo se tornar “uma espécie de bipartidarismo alargado, em que se tem diversos partidos formais, mas que estão costurados contra os outros”.

Mas nem todos estão totalmente dispostos a embarcar numa frente única no setor progressista. O PSOL decidirá na próxima semana se fará parte do governo Lula. A editora-executiva do Meio Flávia Tavares avalia que parte da legenda quer se reposicionar no cenário político, enquanto fica no dilema se segue com Lula na movimentação mais ao centro ou se mantém na esquerda. Christian Lynch aposta que uma parte mais à esquerda do partido fará oposição às aproximações de Lula a outros grupos mais conservadores, como evangélicos e militares, dando espaço para que outras lideranças esquerdistas apareçam no Congresso. “Vai ter gente que tem compromisso com uma pauta de ‘esquerda puro sangue’, que verá uma possibilidade de ganhar o eleitorado e fidelizá-los.” Sobre a possibilidade de o deputado federal eleito Guilherme Boulos assumir o Ministério das Cidades, Pedro Doria entende que o PSOL construiu uma base importante ao longo dos últimos anos e agora “precisa assumir a responsabilidade de fazer as coisas”, tomando a parte que puder ocupar no poder. No entanto, Flávia ressalta que, mais do que adesão ao governo, “eles estão discutindo o que vão ser num Congresso que é, talvez, o mais reacionário da nossa história”.

Enquanto isso, o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), apareceu chorando em uma cerimônia militar nesta segunda-feira. Para Flávia Tavares, ainda que seus seguidores se solidarizem com a infecção bacteriana em sua perna e com a fragilidade que tem demonstrado nos últimos dias, as pessoas já começaram a cobrá-lo por uma direção nas ruas, o que pode trazer um vácuo de liderança nos movimentos antidemocráticos. “No caso de Bolsonaro não reagir, eles vão procurar outro que reaja, que atenda a alguma expectativa”, pondera. Ela lembra que o presidente sempre buscou demonstrar uma certa virilidade a seus seguidores, que podem não estar satisfeitos com suas últimas aparições emocionadas. Para Christian Lynch, o choro do atual presidente é medo da prisão. “Ele está chorando porque seu pânico é ser preso logo na segunda semana, porque quando acabar o foro privilegiado, ele poderá ser preso por qualquer promotor [de justiça].” O cientista político diz que esperava uma atitude mais corajosa de Bolsonaro como fez Donald Trump nos Estados Unidos, ao ameaçar dar passos golpistas após perder as eleições. Para Pedro Doria, o choro do presidente demonstra que “ele é um baita de um covarde, um cara sem nenhum pingo de coragem pessoal, que não aguenta o tranco da ameaça” e está apavorado com a ideia de ser preso. Flávia considera que Bolsonaro “sempre foi minúsculo e nunca teve grandeza nem para ser líder da extrema direita, quanto mais para ser presidente da República”.

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