Governo Lula terá desafio maior com Legislativo mais conservador e de oposição, afirma Christian Lynch

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Para conseguir governar sem ficar refém do Centrão no Congresso, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisará montar um governo de coalizão que abarque as diferentes vozes democráticas na política. Mas, para o cientista político Christian Lynch, o desafio será ainda maior porque a maioria eleita para o Legislativo é de oposição a Lula. Em conversa no programa #MesaDoMeio, ele lembra que “antigamente, um presidente ganhava com um partido grande, montava a coalizão dando as diretrizes para as políticas públicas, porque seu partido era hegemônico, e comprava o resto. Agora, não.” Ele explica que o PT precisará se juntar a outros partidos para conseguir maioria no Congresso e aprovar as pautas de interesse do governo, tendo de compartilhar poder. Um exemplo disso é o fato de que os petistas da Câmara dos Deputados terão de apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Casa. “Quem quer comer omelete tem de quebrar os ovos”.

O editor-chefe do Meio, Pedro Doria, considera o Congresso Nacional “mercenário”, e por isso, Lula precisará de uma base social para se blindar das chantagens de Lira, o que inclui os movimentos sindicais, as federações das indústrias, entre outros setores organizados. Para ele, o caminho seria o que se faz atualmente na Alemanha, com a aliança entre sociais-democratas, ambientalistas e liberais. “É exatamente o que o governo tem de fazer e não há nada de ilegal nisso. Isso é política de verdade, é assim que a democracia funciona.” Christian Lynch avalia que o novo governo é “potencialmente minoritário” frente a um Congresso mais conservador e precisará montar uma gestão de centro para fazer “um cordão sanitário contra o extremismo”.

Nas últimas semanas, o mercado financeiro tem demonstrado preocupação quanto à falta de indicação sobre os futuros ministros do governo Lula, principalmente na economia. Mariliz Pereira Jorge supõe que a pressa para que o petista nomeie seus ministros se dá pela sensação de deriva que Jair Bolsonaro tem deixado desde que perdeu as eleições. Ela entende a pressa de diversos setores em saber quem assumirá as pastas do novo governo porque o país perdeu os últimos quatro anos com Bolsonaro. “A sensação que dá é de que qualquer dia ou semana a mais [sem novidades] é como se o país continuasse parado, como se não estivesse acontecendo nada. E as pessoas querem saber quem vai cuidar deste país.”

Com o retorno de Lula a Brasília para conversar com deputados e senadores sobre a PEC da Transição e garantir que os custos do novo Bolsa Família não sejam contabilizados no teto de gastos, Pedro Doria considera que já estava na hora do petista acabar com sua folga pós-eleição e assumir as rédeas das negociações com os políticos que estão envolvidos na transição de governo e têm buscado garantir seu espaço no poder. Ele diz que, pela primeira vez desde a Nova República, o presidente eleito terá um grande desafio de juntar diferentes frentes políticas para poder governar. “Lula tem de fazer o primeiro governo desde a redemocratização em que essa negociação precisará acontecer.”

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