Para manter programas sociais, o caminho é aumentar impostos, afirma economista da FGV

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Para que o Brasil possa continuar mantendo políticas de distribuição de renda nos próximos anos, como o Bolsa Família ou Auxílio Emergencial, o caminho é aumentar a carga tributária. Essa é a avaliação do economista Samuel Pessôa, doutor pela USP, e professor do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE). Em entrevista a Pedro Doria no programa Conversas com o Meio, ele disse que não se opõe ao gasto com políticas sociais, mas para isso é preciso indicar de onde sairão os recursos para bancar os benefícios. “Se a gente vai construir uma política pública que custe R$ 50 bilhões por ano, a gente tem de tributar alguém em R$ 50 bilhões, e está tudo certo”. Ele ressalta que somente a guerra civil é pior do que a inflação como mecanismo de gestão do conflito distributivo.

O economista entende que não se pode investir em áreas sociais apenas cortando despesas do governo, mas é possível cortar muitos gastos nos regimes de aposentadorias dos servidores públicos fazendo reformas previdenciárias. “Acho que na transição democrática, nos anos de 1980, os servidores públicos tiveram muito poder e conseguiram muitos privilégios, e a gente paga por isso”. Pessôa explica que o Brasil gasta 14% do Produto Interno Bruto (PIB) com aposentadorias, quando um país com uma estrutura demográfica semelhante deveria gastar apenas metade desse percentual. Mas ele ressalta que nos últimos governos, o país tem feito reformas progressivas para melhorar esse ponto.

O mundo tem passado recentemente por um processo de inflação, atingindo desde os países mais ricos às nações em desenvolvimento. Segundo o economista da FGV IBRE, esse fenômeno ocorre por causa da pandemia de covid-19, que gerou uma queda generalizada na produção econômica pela necessidade do distanciamento social seguida de uma retomada brusca no consumo, sem que houvesse tempo para a recuperação industrial. Outro fator importante foram os pacotes de auxílio social que os governos de diversos países deram a seus cidadãos durante o período mais grave da pandemia.

Para o próximo semestre, Samuel Pessôa prevê para o Brasil uma futura recessão de curto prazo e menos dramática do que foi no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), que gerou uma onda inflacionária mais forte que a atual, quando aumentou os salários acima da produção econômica. Ele espera que, com a chegada do governo Lula, os poderes Executivo e Legislativo estabeleçam obrigações e fontes de financiamento para o Estado e que esses dois pontos conversem entre si para o país produzir uma política de distribuição de renda com responsabilidade. “Se a gente conseguir isso, é um sinal de que temos, enquanto sociedade, um nível de civilização maior do que achamos que temos”, pondera.

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