Justiça deve investigar responsáveis por manifestações golpistas, afirma Mariliz Pereira Jorge

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Em que pese o esforço do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para frear postagens antidemocráticas nas redes sociais, a colunista do Meio Mariliz Pereira Jorge considera que, mais do que bloquear contas de perfis golpistas, a Justiça precisa investigar quem está por trás das manifestações que fecharam centenas de rodovias pelo país pedindo intervenção militar. Em bate-papo no programa #MesaDoMeio, ela disse que Bolsonaro precisa responder às pessoas que estão protestando pelo país e quebrar o silêncio que persiste desde que perdeu a disputa à presidência da República. “Se ele quiser levar essa história [de negar a derrota nas urnas] adiante, ele terá de aparecer” sob o risco de surgir uma outra liderança que assuma o movimento nas ruas.

A editora-executiva do Meio Flávia Tavares recorda que houve alguns cuidados do movimento iniciado por caminhoneiros, ainda no dia 30 de outubro, para que o presidente não pudesse ser responsabilizado pelas manifestações e para que o termo “intervenção militar” fosse suavizado para “intervenção federal”, que em tese seria genérico o suficiente para não trazer problemas para a campanha golpista. “Já na primeira manifestação de rua pós eleição não se via mais nenhum elemento visual de ‘Bolsonaro 22’. Era só bandeira do Brasil e pedidos de intervenção.” O editor-chefe Pedro Doria acredita que o financiamento das manifestações pode ter sido feito por empresários locais, já que o ministro Alexandre de Morais abriu um inquérito para investigar falas golpistas de empresários renomados em grupos de WhatsApp. “Aquelas diligências devem ter afastado muito empresário graúdo”, aposta.

Mesmo com o clima ainda tenso com as movimentações de apoiadores de Bolsonaro, Flávia Tavares acredita que os escândalos relacionados às falas bolsonaristas tendem a perder repercussão com a mudança de comando no Planalto e que não haverá aventura militar no sentido de um possível golpe, ao não reconhecer a lisura do processo eleitoral deste ano. Pedro Doria ressalta que o relatório sobre o processo eleitoral, previsto para ser entregue ao TSE nesta quarta-feira pelo Ministério da Defesa, foi produzido por militares que respondem a um departamento burocrático das Forças Armadas que responde ao próprio governo Bolsonaro. O que não significa que qualquer endosso a uma narrativa antidemocrática do documento exprime a opinião da corporação como um todo. Para tentar um golpe, Pedro avalia que a ambiguidade pode fazer parte de uma estratégia para verificar se o factoide inflama as bases e gera uma revolta popular. Mariliz lembra da reação bolsonarista desordenada logo após as eleições. Ela avalia que a campanha bolsonarista estava tão confiante na vitória, que não se prepararam para a derrota. A reclusão de Bolsonaro pode ser encarada tanto como problemas de saúde quanto a uma organização para uma reação golpista.

Ao fazer uma retrospectiva de atos que remetem a comportamentos nazistas por parte de apoiadores ou pessoas do círculo próximo de Bolsonaro, a editora-executiva Flávia Tavares diz não acreditar que essas manifestações sejam inocentes. “Acho difícil não perceber, quando você olha ao seu redor, todo mundo com a mão fazendo a saudação nazista, que tem alguma coisa errada”, pondera. Mariliz Pereira Jorge acredita que parte das pessoas que comparecem a manifestações golpistas “não faz ideia do que está fazendo ou participando”. Ela avalia que pessoas desse grupo envolvem-se nesses eventos por terem um senso de pertencimento que não tinham antes. “Essas pessoas encontraram ali, uma ocasião para se reunir com outras”. Mas ela ressalta que outra parte tem consciência do que faz e deve ser responsabilizada judicialmente por seus atos. Pedro compara esses grupos brasileiros ao grupo conspiratório dos Estados Unidos, QAnon. “Essas são pessoas que se recusam a ler qualquer coisa de imprensa, ficam nesse ciclo de consumo de desinformação e são tragados por um redemoinho conspiracionista, se descolando da realidade.”

Mariliz espera que o país não permita uma anistia aos possíveis crimes que Jair Bolsonaro e seus aliados possam vir a ser condenados após o fim do governo atual. “Que essas pessoas sejam responsabilizadas por tudo o que fizeram e tudo o que deixaram de fazer durante o governo Bolsonaro.” Flávia lembra dos militares anistiados com o fim da ditadura que se sentiram completamente à vontade para voltar ao poder “e ultrapassar qualquer limite de suas funções” por não terem sido punidos pelos crimes que cometeram. Pedro avalia que a anistia nos anos da ditadura foi dada em um momento histórico diferente do atual, quando a troca de presidente da República também traz mudanças em órgãos como a Procuradoria-Geral da República, que não contará mais com uma figura simpática aos atos de Bolsonaro, além da firmeza demonstrada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), indicando que as instituições brasileiras não deixarão os bolsonaristas sem responsabilização perante a lei.

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