O problema das drogas é o uso abusivo, diz neurocientista

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O problema das drogas não é o consumo em si, mas sim o uso problemático. É o que afirma o neurocientista Sidarta Ribeiro, fundador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para ele, a questão é como proteger a sociedade do uso prejudicial dessas substâncias. “Primeiro lugar, a gente [precisa] se livrar da ideia de que existem substâncias que são do bem, que está tudo certo, tipo o açúcar, o álcool”, explica, ressaltando que a droga mais consumida no Brasil é a bebida alcoólica. A ideia de que há substâncias que são malignas também deve ser refutada, porque cada uma delas traz danos e benefícios e o ideal é ter conhecimento sobre cada uma para fazer melhores escolhas para si mesmo. Em entrevista ao programa Conversas com o Meio, o neurocientista ressalta que a redução de consumo será uma realidade quando o uso problemático deixar de ser um problema de segurança e se tornar de saúde pública. “A proibição de substâncias é mais perigosa que a substância em si”, afirma. Ele exemplifica essa ideia citando o uso do cigarro, que teve queda de usuários após políticas públicas serem adotadas para desestimular o consumo, em vez de proibir a venda.

Mas a qualidade de vida deve ser pensada não somente pelo consumo. Dormir mal causa diversos problemas de saúde às pessoas. Sidarta lembra que os distúrbios do sono levam a problemas cognitivos, emocionais, e risco de depressão, obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e Alzheimer. “isso gera uma bola de neve social de mal humor, de falta de empatia, de falta de paciência e de sensação de isolamento”, explica. A soma de noites mal dormidas, do consumo de alimentos ultraprocessados, a falta de exercícios físicos e de relacionamentos saudáveis agravam o quadro, fazendo com que as pessoas busquem remédios, que nem sempre resolvem os problemas.

Apesar da ciência ser fundamental para a sociedade, a educação oferecida é insuficiente para fazer com que a maioria se aproprie do conhecimento científico e saiba lidar com esse tipo de informação. “E quando a pessoa entende um pouco de ciência, ela passa a acreditar menos, inclusive naquilo que se apresenta à primeira vista como sendo científico”. Segundo Ribeiro, os brasileiros tiveram dificuldade de entender a questão da ineficácia da cloroquina para tratamento da covid-19 “porque as pessoas não entendem direito a diferença entre in vitro e in vivo, não entendem a diferença entre vírus e verme”. Ele diz que precisamos buscar um novo modelo de educação para superar esses problemas. “A gente tem de pensar que a escola é a instituição central para o nosso futuro”.

O neurocientista explica que a ciência também está ligada a dois aspectos que tem a ver com um legado evolutivo humano e que precisa ser equilibrado, que deve ser o desestímulo à competição e o incentivo à cooperação com outros saberes, inclusive os tradicionais. “Se continuar do jeito que está indo, nessa ética da competição, os bilionários virarão trilionários enquanto a maioria das pessoas vão morrer de fome. Os robôs vão produzir tudo, vão consumir, eventualmente, e o ser humano vai ficar de fora”.

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