Conversas do Meio: Bolsonaro atrai público nas ruas, mas ainda prega para convertidos

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Apesar das multidões nas ruas durante as festividades do Bicentenário, Jair Bolsonaro não converteu novos eleitores em uma tentativa fracassada de ampliar sua margem de votos. É o que avaliam os jornalistas do Meio, durante bate papo ao vivo, no programa especial do Conversas, para avaliar os resultados das manifestações convocadas pelo presidente da República para comemorar o Sete de Setembro.

Para o cientista político Christian Lynch, as manifestações foram “mais do mesmo”. “Na verdade, eu acho que eu vi menos do mesmo, porque foi a mesma coisa do ano passado, só que com menos gente e numa situação de maior fragilidade”, avaliou. Para ele, Bolsonaro não foi capaz de angariar votos entre os indecisos e só trouxe para as ruas seus seguidores mais fiéis, o que pode ser entendido como uma derrota. Sua estratégia estaria em demonstrar forças mirando um futuro em que poderá ser derrotado nas urnas, mostrando que ainda arrasta multidões, num gesto de intimidação aos que tentarem lhe prender no próximo ano.

A repórter especial do Meio Luciana Lima avalia que Bolsonaro, além de sequestrar os símbolos nacionais, como as cores, o hino e a bandeira, transformou o dia da Independência em comício. Mas um ponto importante, em sua avaliação, é a incapacidade de Bolsonaro falar para as mulheres, ao relembrar o episódio em que comparou as primeiras damas durante seu discurso, em mais uma demonstração de machismo e misoginia. Luciana lembrou ainda das ausências dos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário. Ao citar a falta do presidente da Câmara Arthur Lira, ela ressalta que “existem alguns conceitos do bolsonarismo que essa gente não pode encampar, mesmo sendo aliado”, ao citar os ataques aos demais poderes da República e das falas golpistas do presidente. “Tem o dia seguinte”, conclui.

A editora-executiva Flávia Tavares acredita que os cortes em vídeo com seus discursos durante as celebrações do Dia da Independência poderão alcançar outros públicos nas redes sociais e em grupos de aplicativos de conversa. Os recortes podem fazer a diferença para o eleitor que procura o voto útil. “Existe uma parcela da população que está esperando para decidir mais para frente, e que gosta de votar no vencedor”. A cena do beijo, por exemplo, poderia ajudar sua imagem para demonstrar a figura de um homem protetor.

O editor-chefe Pedro Doria disse não acreditar em votos indecisos nesta eleição. Olhando para as últimas pesquisas eleitorais, a taxa de brancos, nulos e indecisos está no mesmo patamar das apurações dos pleitos anteriores, e os candidatos, com raras exceções, cresceram para além da margem de erro. Na avaliação do jornalista, a disputa eleitoral “é um jogo de quem consegue roubar votos de quem, porque não tem mais indeciso na mesa”.

Caso Jair Bolsonaro não consiga a reeleição, nem consiga eleger seus apoiadores políticos, o bolsonarismo terá um desfecho diferente do que aconteceu com o trumpismo, nos Estados Unidos, avalia Christian Lynch. Para o cientista político, caso isso ocorra, sua trupe ficará fora do radar político durante anos, por não ter um partido que possa fazer forte oposição no Congresso. Para ele, Bolsonaro é um fiasco político, por não ter utilizado o tempo de poder para consolidar suas bases no Legislativo. “Todas as figuras cujos nomes aprendemos nos últimos tempos vão sumir, como Sérgio Camargo e Ricardo Salles.”

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