Crise com Rússia esfria (um pouco) e dá fôlego à Ucrânia
Houve uma mudança de tom no Kremlin, sede do governo russo, e a crise que leva ao perigo de uma invasão da Ucrânia diminuiu de temperatura. Num vídeo exibido pela TV local, emulando imagens de uma reunião, o chanceler Sergey Lavrov informa ao presidente Vladimir Putin que ainda há espaço para negociações. “Bom”, lhe respondeu o líder russo. Na Ucrânia, após uma conversa com o premiê alemão Olaf Scholz, o presidente Volodymyr Zelensky acenou com a possibilidade de seu país abrir mão em definitivo de entrar na OTAN. Uma das exigências de Moscou é justamente que a Organização se comprometa a jamais convidar a Ucrânia, coisa que dificilmente seria feita. (New York Times)
Na manhã desta terça-feira, o governo russo havia anunciado o recuo de algumas tropas, informa o New York Times. Vídeos publicados nas redes sociais e geolocalizados pela equipe da CNN, porém, mostram o oposto: que o número de forças na fronteira da Ucrânia está aumentando.
Pois é… Enquanto isso, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro embarcou ontem para Moscou. Ele chegará à cidade na terça-feira à tarde e vai direto para o hotel, onde terá de fazer — junto a sua comitiva — entre três e cinco testes para garantir que não tem Covid. O encontro com Vladimir Putin está marcado para a quarta-feira. (Folha)
Então... O Itamaraty está preocupado com a possibilidade de Bolsonaro improvisar. O presidente foi orientado a não tratar de nada além das relações bilaterais entre Brasil e Rússia. O medo da diplomacia brasileira é de que, ainda assim, ele se manifeste de alguma forma. Pior: que faça isso ao lado de Putin, perante as câmeras. (Estadão)
Bolsonaro não é conhecido do público russo — diferentemente dos casos de Fernando Henrique e Lula, a imprensa local pouco presta atenção nele. Mas, diplomaticamente, Putin usa o presidente brasileiro para irritar Washington, avaliam especialistas na política local ouvidos em Moscou. O líder russo também tentará trazer o Brasil para mais próximo, ampliando sua influência no hemisfério americano. (BBC)
Guilherme Casarões: “Bolsonaro pode causar danos à política externa brasileira, mas será um trunfo de campanha — talvez o derradeiro — para o presidente. A Rússia é a única grande potência em que Bolsonaro ainda pode se fiar. Estamos na véspera de uma eleição em que os dois principais candidatos possuem um legado diplomático a defender. E o de Lula é muito superior. Quando Carlos França negociou a viagem a Rússia, Hungria e Polônia, não tinha guerra à vista. No fim das contas, a ideia era neutralizar a percepção de que esse governo é um fracasso diplomático e ao mesmo tempo mostrar um Bolsonaro forte, desafiando Biden e os globalistas europeus. Com o início das tensões entre Rússia e Ucrânia, Bolsonaro tinha duas opções: cancelar a visita a Putin ou mantê-la, assumindo os riscos. Se cancelasse, seria visto como fraco. Pegaria mal com a base e com o próprio Putin. A nova narrativa que circula nas redes é que Bolsonaro vai à Rússia livrar o mundo de uma nova guerra mundial. Não faz sentido algum, mas, enquanto Putin não invadir a Ucrânia, bolsonaristas dirão que é obra do ‘messias’, dentro de uma suposta missão divina. E há recompensa: a Rússia tem uma estrutura de guerrilhas digitais e cibertecnologia que poderá ser útil para virar o jogo eleitoral. Se não for na campanha, às claras, poderá ser nas profundezas do sistema das urnas eletrônicas. Como a maioria dos governos olha para Bolsonaro como peso morto e já planeja reconstruir relações com o Brasil a partir de 2023, ter Putin e Orbán como cabos eleitorais é uma das últimas cartadas de Bolsonaro diante da possibilidade real de derrota.” (Globo)
Para ler com calma... Perante uma possível guerra de conquista em solo europeu, o historiador israelense Yuval Noah Harari sugere que conflitos bélicos não são inerentes à humanidade. Se em outros tempos a riqueza estava em terra ou recursos naturais, hoje ela se mede em conhecimento. Isto não se conquista tomando um país à força — o sentido econômico se perdeu. Mudamos também a cultura. Se líderes já foram respeitados pelas conquistas, hoje o que elege um chefe de Estado é a capacidade de entregar para a sociedade. Não se ganha popularidade envolvendo as pessoas num conflito armado. “É por isto que a ameaça russa de invadir a Ucrânia deveria preocupar todas as pessoas na Terra”, ele escreve. “Se voltar a ser normal que países poderosos conquistem seus vizinhos mais frágeis, isto afetará como todas as pessoas no mundo se sentem e se comportam. O primeiro e mais óbvio resultado é que o retorno à lei da selva provocará um grande aumento de gastos militares em detrimento de todos os outros.” No original em inglês, da Economist, ou traduzido, no Estadão.
A avaliação é do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à jornalista Miriam Leitão. Os investidores estão com menos medo de um possível governo Lula. “O que tem acontecido mais recentemente é uma eliminação de vários preços que mostram o risco da passagem de um governo para outro”, ele disse. “A gente vê, quando olha esses preços, que eles atenuaram. Caíram um pouco. Significa que o mercado passou a ser menos receoso da passagem de um governo para o outro. Isso é o que a gente pode interpretar.” (Globo)
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), recebeu a notícia de que teria o apoio do PT em sua reeleição, caso seja formada uma federação entre os dois partidos. Esta era uma de suas condições para concordar com o arranjo. A dificuldade de Campos tomar uma decisão, se a favor ou contra, é hoje ainda um dos principais empecilhos para que a federação seja formalizada, conta Mônica Bergamo. (Folha)
Meio em vídeo: Há muito prometíamos um Ponto de Partida em que o editor, Pedro Doria, responde a perguntas feitas por leitores e espectadores. A edição de hoje é dedicada a isso.
Sem ainda cheiro de partidos aliados, o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) pode ter apenas R$ 15 milhões para financiar sua campanha, conta Natuza Nery. É muito pouco e põe em risco a competitividade de sua campanha. “Não é impossível fazer uma campanha com pouco dinheiro”, escreve Natuza. “Bolsonaro venceu. Mas Moro não é um político de carreira que, por anos, cultivou um exército digital a seu favor.” (g1)
Pois é… Pressionado num encontro com 20 gestores do mercado financeiro, Moro retrucou. “O Podemos tem R$ 180 milhões, não é pouco”, conta Malu Gaspar. O problema: este dinheiro, que pode chegar a R$ 200 milhões, é para todos os candidatos a todos os cargos do Podemos. Aliás… Durante a conversa, o ex-ministro da Justiça ainda ouviu uma provocação do emedebista Carlos Marun. O aliado de Temer lembrou ter ouvido uma crítica de amigos petistas após o impeachment, em 2016. “Vocês tiraram os malucos da gaiola, então agora que cuidem deles.” Marun então se virou para Moro. “Você não se sente assim, responsável por tirar os malucos da gaiola?” O ex-juiz riu e desconversou. (Globo)
Viver
Ricardo Lewandowski, do Superior Tribunal Federal, proibiu o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, chefiado por Damares Alves, de disponibilizar o canal de denúncias Disque 100 para receber queixas contra a exigência de comprovante de vacinação. Ele ainda estabeleceu que as pastas da Família e Saúde corrijam notas técnicas contra a obrigatoriedade da vacinação e pediu que o governo federal pare de atuar sem embasamento técnico-científico. (UOL)
A média móvel de óbitos por covid-19 no país ficou em 885, completando uma semana acima de 800. A última vez que o país ultrapassou esse nível foi em agosto de 2021. Em números brutos, o Brasil registrou 464 mortes causadas pela covid-19 e 58.100 novos casos nas últimas 24 horas. (g1)
Enquanto isso... Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, confirmou que fará alterações na pasta. Uma delas envolve Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina, que vai para o Ministério do Trabalho e Previdência. Depois, ela deve sair como candidata a deputada federal pelo Partido Liberal (PL). (Metrópoles)
No Rio de Janeiro, a Justiça Federal autorizou uma aluna do tradicional colégio Pedro II a frequentar as aulas sem ter se vacinado contra a covid-19. O argumento dado pelo desembargador é que a exigência de vacinação para entrar na escola viola a liberdade de locomoção da estudante. (g1)
Justin Trudeau, premier do Canadá, declarou estado de emergência para combater os protestos de caminhoneiros em estradas do país. Com a medida, invocada pela segunda vez na história canadense, o governo visa liberar as rodovias em que ocorrem os atos contrários às restrições sanitárias impostas devido à pandemia. (O Povo)
“Vou te dar uns três tapas na próxima gravação para vc relaxar. Ou três cervejas, não decidi ainda”. Essa é uma mensagem enviada por Marcius Melhem a uma atriz da Globo e que consta nos autos do inquérito contra o humorista. O diálogo ocorreu no dia seguinte a um encontro entre Melhem e a atriz. A revelação faz parte da longa reportagem de João Batista Jr. para a revista Piauí que, pronta para publicação, estava censurada por decisão judicial desde agosto do ano passado. A decisão da primeira instância foi enfim derrubada em janeiro pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Gilmar lembrou de inúmeras decisões recentes nas quais o STF reiterou que a censura prévia à imprensa é inconstitucional. Melhem é acusado de assédio sexual. (Piauí)
Centenas de pássaros desabaram mortos instantaneamente no México. Uma câmera flagrou a cena, digna do filme Os Pássaros, de Alfred Hitchcock. A causa não foi identificada, mas especialistas apontam para as hipóteses deles terem se intoxicado com fumaça tóxica ou tocado em fios de alta voltagem. Assista. (g1)
Um estudo comparou três remédios contra a calvície, dutasterida, minoxidil e finasterida, para saber qual seria o mais eficaz contra a queda de cabelos. Os pesquisadores tomaram como base 23 artigos previamente publicados e chegaram a conclusão que dutasterida tem o melhor desempenho no combate à alopecia androgenética, nome técnico da doença. A pesquisa, porém, não considerou tratamentos que mesclem diferentes remédios. (Folha)
A partida de futebol entre Brasil e Argentina, que foi paralisada após intervenção da Anvisa, será refeita. A decisão tomada pela FIFA ainda prevê multas tanto para a CBF quanto para a AFA, as confederações de futebol dos dois países, e a suspensão de quatro jogadores argentinos que descumpriram a quarentena. O jogo, que faz parte das Eliminatórias para a Copa de 2022, não tem data nem local definidos. (UOL)
Cultura
Morreu aos 75 anos o diretor de cinema Ivan Reitman. Segundo familiares, ele faleceu de causas naturais no sábado (12) enquanto dormia. Reitman ficou conhecido pela parceria com o ator Bill Murray em Os Caça-Fantasmas e Recrutas da Pesada. Depois, repetiu a fórmula com Arnold Schwarzenegger em Irmãos Gêmeos e Um Tira no Jardim de Infância. (CNN Brasil)
A russa Anna Sorokin aproveitou a fama gerada pela série Inventando Anna e voltou para as redes sociais. Ela serviu de inspiração para a série da Netflix, que retrata o caso da falsa Anna Delvey, uma golpista que se passou por multimilionária para usufruir do luxo da alta classe americana. (Folha)
“Eu teria mudado muitas coisas, mas não é assim que vida funciona. Então estou apenas elaborando sobre minhas experiências e aprendendo com elas”, disse Sorokin em entrevista. Ela recebeu US$ 320.000 da Netflix pelos direitos de retratar a vida dela na série. (New York Times)
O Oscar terá uma nova categoria em sua 94ª edição. Trata-se do ‘favorito do público’, cuja eleição será realizada via Twitter. Os organizadores querem, com isso, reverter a baixa audiência registrada nas últimas edições. (Folha)
Cotidiano Digital
A subsidiária de mobilidade autônoma da Intel, a Mobileye, planeja construir e lançar ônibus elétricos e autônomos nos Estados Unidos em 2024. Em parceria com as empresas Benteler EV Systems e Beep, os veículos serão feitos sob demanda, com 12 a 14 assentos cada, sem volantes e pedais. Segundo a Mobileye, os ônibus vão ajudar a economizar nos custos com motoristas, solucionar a escassez de mão-de-obra, além de resolver problemas como emissões de gases e congestionamentos. A companhia também planeja lançar táxis autônomos em Israel e na Alemanha até o final deste ano, mas ainda depende de aprovações regulatórias. (CNN Brasil)
Falando em Intel, a gigante de tecnologia anunciou um chip feito especialmente para aplicações blockchain, como mineração de Bitcoin ou criação de NFTs. (Olhar Digital)
O estado norte-americano do Texas entrou ontem com uma ação contra a Meta, empresa que controla o Facebook. A motivação do processo são as práticas de reconhecimento facial da companhia, que teriam violado proteções de privacidade. Ken Paxton, procurador-geral do Texas e autor do processo, afirmou que a captura da geometria facial pela empresa em fotografias que os usuários enviaram de 2010 até o final do ano passado resultou em “dezenas de milhões de violações” da lei do Texas. O Facebook já havia fechado acordo para encerra outro processo sobre sua tecnologia, já descontinuada, por cerca de US$ 650 milhões. (The Wall Street Journal)