Quem vai ser o candidato da direita?
Quem vai ser o candidato da direita brasileira que vai se opor a Lula, ou a seu sucessor, nas eleições presidenciais do ano que vem? O cenário não é claro ainda. Não tem como ser. Os líderes dos partidos de direita têm um favorito, é o governador paulista Tarcisio de Freitas, mas isso não quer dizer que seu nome esteja escrito em ferro e fogo. Na verdade, temos três variáveis para considerar.
Uma é a popularidade de Donald Trump no segundo semestre de 2026. Outra é a popularidade de Javier Milei na mesma época. E uma terceira vai ser o debate sobre as condenações de Jair Bolsonaro e seus generais. O que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, de formas diferentes os três assuntos vão orientar o perfil do candidato de direita que terá mais chances de convencer os brasileiros.
A lógica é a seguinte: vai ter um candidato querendo ser o Milei brasileiro? Se a economia argentina estiver muito bem, se ele estiver muito popular, vai ter, sim. É o mesmo com Trump. Se a economia dos Estados Unidos estiver bombando, vai ter um monte de gente gritando Make Brazil Great Again. Se for o contrário, vai ter é governador querendo esconder as fotos e vídeos com o boné vermelho dos MAGAs. E quanto vamos falar de golpe, de anistia, desses assuntos todos? Quanto vai ser importante o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tudo isso entra na conta.
Ontem, segundo os cálculos da USP, 45 mil pessoas foram para a Avenida Paulista pedir Anistia Já e Fora Lula com Jair Bolsonaro e sete governadores. Dentre os sete, Tarcisio, Ronaldo Caiado de Goiás, Ratinho Júnior do Paraná e Romeu Zema de Minas Gerais. São os quatro que se colocam claramente como pré-candidatos. Tarcisio, deles todos, é o mais próximo de Bolsonaro. Ratinho e principalmente Caiado bateram de frente com Bolsonaro durante as eleições municipais. Mas, neste momento, todos subiram o trio elétrico para estar com o ex-presidente. É bom entender o porquê.
A resposta está na pesquisa Quaest realizada entre 27 e 31 de março com 2004 brasileiros e margem de erro de dois pontos percentuais. Tem alguns dados preciosos ali pra nos ajudar a entender o cenário.
O primeiro é o seguinte: 21% dos brasileiros se consideram de direita mas dizem não reconhecer Bolsonaro como seu líder. Enquanto isso, 12% se dizem de direita e bolsonaristas. Estamos falando de um terço dos brasileiros, tá? 33%. Alguém poderia rapidamente dizer: oba! O bolsonarismo está morrendo. Mas não é assim que se lê este número. Na verdade, o bolsonarismo tem o mesmo tamanho que tinha no auge de seu governo. Ou seja, pouco mais de 10% dos brasileiros. Os políticos de direita olham para isso e não veem os 21% que não se consideram bolsonaristas. Porque a conta que eles precisam fazer é outra: é como chegar no segundo turno. Ou seja, o que eles precisam é chegar na frente dos outros candidatos de direita. E, sem os votos de Bolsonaro, isso é muito, muito, muito difícil. Quem partir desse piso de 12% e trouxer mais os seus tantos por cento já salta na frente. E aí, para o eleitor antipetista, vai ser um cálculo simples: em quem devo votar para ter um candidato forte no segundo turno contra Lula? Pois é, os políticos gostam de reclamar que no primeiro turno deveríamos votar no nosso favorito e deixar o voto útil para o segundo turno. Só que não é assim que o eleitor médio funciona. No fim da eleição costuma haver uma corrida para os primeiros colocados.
Por que os quatro pré-candidatos estavam ontem na avenida Paulista? Porque querem o apoio de Bolsonaro. Qual é a contrapartida que Bolsonaro espera? Anistia para ele e para os generais. Aqueles todos que serão condenados por tentativa de golpe de Estado.
A mesma pesquisa Quaest perguntou pra pessoas qual a opinião delas sobre o assunto. 56%, um pouquinho mais do que a metade dos brasileiros, consideram que a turba do 8 de janeiro deve continuar presa e cumprir suas penas. 34% acham que deveriam ser soltos. A notícia é muito ruim para Bolsonaro. Em dezembro, o Datafolha havia ouvido que 62% dos brasileiros não queria anistia. Essas pesquisas não são comparáveis. As perguntas têm diferença e a metodologia muda. A questão é a seguinte: esses números estão em declínio? Ou seja, o apoio à prisão está diminuindo? Os partidos de direita acreditam que sim. Se estiverem diminuindo, a defesa da anistia pode virar um discurso forte pros candidatos de direita e isso os ajuda a se aproximarem de Bolsonaro. Mas e se não estiver? E se os brasileiros seguirem, em sua maioria, querendo a punição para quem tentou derrubar o regime democrático? Aí os candidatos da direita terão mais facilidade de se desvencilhar de Bolsonaro.
Se acontecer, pra democracia, é uma grande notícia. Mas e Trump? E Milei?
Eu sou Pedro Doria, editor do Meio.
Você sabe que as pessoas estão cansadas da briga política. Não sabe? Aposto que você sente isso. A polarização sufoca o debate. Você levanta um ai, um “se” contra o líder de uma das pontas e, pronto. O mundo cai abaixo. É difícil conversar quando as pessoas sequer escutam. E, no entanto, a maioria das pessoas, a maioria dos brasileiros, não têm nem Lula, nem Bolsonaro, como seus líderes ideais. Estamos todos coletivamente cansados deste tipo de polarização que leva a brigas tão intensas. A gente precisa ser capaz de sair dessa. A conversa sobre política precisa voltar a ser um papo entre amigos que discordam, riem, erguem um chope e voltam a conversar. Quando foi que perdemos isso? Nós, por aqui, estamos cansados, muito cansados, desta briga constante, dos rompimentos em família, entre colegas, entre gente que se gosta. Se você quer um ambiente assim, onde conseguimos voltar a conversar todos, o Meio é seu lugar. Assine. Precisamos espalhar essa ideia. E bem-vindo.
Este aqui? Este é o Ponto de Partida.
Donald Trump fez uma maluquice. Ontem à noite, quando já era manhã na Ásia, começou a bater o circuit break em tudo quanto é bolsa de valor relevante, a partir de Tóquio. Quando amanheceu no Ocidente, espalharam um boato de que Trump ia dar um tempo até implementar as tarifas e isso segurou os mercados por aqui. Essas tarifas são um desastre. Elas vão desmontar todo o mercado global. Na melhor das hipóteses, os Estados Unidos são parcialmente excluídos do circuito mas o resto da coisa segue funcionando. Na pior, eles arrastam o mundo para uma baita crise. Vamos esperar.
Vejam, tem um monte de gente fazendo um cálculo de xadrez 4D para defender que Trump, na verdade, quer mais livre comércio. Para com isso, gente. Trump não gosta, nunca gostou, da ideia de livre comércio. Ele não é liberal. É iliberal. Em tudo. Na política, na economia. E se tem um pedaço da esquerda feliz da vida, esse pedaço da esquerda está certíssimo. Estão lendo direito. Trump é quase um sepalino, quase um Getúlio, ele acha que vai reindustrializar os Estados Unidos tornando produtos estrangeiros caros demais para o bolso americano.
Mas a questão é a seguinte: como vai estar a popularidade de Trump lá nos Estados Unidos quando nossa eleição aquecer? Se a economia estiver bem, vai todo mundo querer ser o Trump brasileiro. O boné Maga vai ser uma coqueluche. Vejam, este governo Trump é diferente do primeiro por duas razões. Uma é que não tem pandemia para dar desculpa sobre nada. A outra é que ele trouxe um plano, o Projeto 2025, e está o executando. Este não é um governo dum incompetente cujos assessores ficam consertando os maiores erros. Este é um governo radical de direita puro-sangue.
Javier Milei é, simultaneamente, do mesmo movimento da direita radical do qual vem Trump mas de um time radicalmente distinto. Ele não é um reacionário. É um libertário. E isso quer dizer que a fórmula de Milei pra economia argentina é liberal. No momento, ele segue popular entre os argentinos. Após décadas de desorganização da economia, principalmente quando nas mãos dos Kirchner, a sociedade compreende que sem um choque não teria jeito. Então os argentinos estão pacientes. Entendem que um período difícil será necessário. A questão que se apresenta é a seguinte: qual o tamanho dessa paciência? A classe média da Argentina vai aguentar quanto tempo sem poder consumir?
Milei dar certo quer dizer o seguinte: inflação contida na Argentina e a população voltando a ter dinheiro no bolso, satisfeita. Se ele estiver popular ali entre nossos vizinhos, não tenham dúvida de que haverá quem queira ser o Milei brasileiro.
Para que lado vai a direita brasileira? Ainda está cedo para dizer. E aí fica a outra pergunta: se a direita afundar nos Estados Unidos e na Argentina simultaneamente, isso quer dizer que melhora o cenário para Lula em 2026? Claro que sim. O que mais compromete o governo Lula, nester período de baixa popularidade, é a economia. Se as coisas melhorarem, ele se reelege com facilidade.
Mas é preciso que as coisas melhorem. Sim, ao que tudo indica, nos últimos ciclos eleitorais a regra que tem valido é a mesma dos anos 1990. É a economia que tem definido os vencedores das eleições. A economia não anda mais sozinha, o debate sobre valores está muito mais forte do que no passado, mas o que este debate sobre valores faz é tornar a sociedade acirradamente dividida. Temos eleições apertadas. No último minuto, é a inflação que vem definindo os resultados.