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Luta de povo palestino contra Exército israelense é retratada em filme indicado ao Oscar

Foto: No Other Land (Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, and Rachel Szor, 2024).

Sucesso de crítica ao redor do mundo, o longa Sem Chão, dirigido por Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal e Rachel Szor, chega aos cinemas brasileiros em 13 de março, após receber 62 prêmios em diversos festivais internacionais, como Berlim, Palm Springs e San Diego, além de concorrer ao Oscar de melhor documentário. Apesar de ser multi premiado, o filme traz um assunto espinhoso para a atual conjuntura geopolítica, ao fazer uma crítica direta ao Estado de Israel em relação ao povo palestino.

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O documentário acompanha o ativista palestino Basel Adra ao longo de cinco anos em sua comunidade natal, Masafer Yatta, um conjunto de 19 aldeias palestinas localizado no Sul da Cisjordânia, ocupada pelo exército de Israel. Por décadas, a força militar resolveu retirar a população local com a alegação de que seria construída uma base de treinamento e teste de tanques de guerra. Casas, escolas, parques e até espaços dedicados à criação de animais, como galinheiros, foram destruídos a pretexto de segurança, fazendo com que famílias inteiras não encontrassem outra alternativa, a não ser morar em cavernas.

“Ninguém se esquece do lugar que nasceu, então porque querem que esqueçamos da nossa terra?”, questiona um senhor da Cisjordânia que teve a casa demolida. As cenas de truculência dos militares contra os palestinos nas operações em Masafer Yatta revoltam. Um dos casos mais contundentes revelados no filme é a violência contra Harun Abu Aram, que ficou tetraplégico após tomar um tiro de um soldado, enquanto tentava recuperar um gerador de energia em uma ação de demolição. Vendo a dor e sofrimento de Harun, sua mãe chega a dizer que gostaria de vê-lo morrer para aliviar seu sofrimento, em um dos poucos momentos de dor demonstrados pelos palestinos.

Protestos pacíficos contra a ocupação e violência israelense são reprimidos com violência desproporcional. Ameaças e demonstrações de retaliação são demonstradas ao longo de uma hora e meia de produção. O Exército ataca o documentarista com bombas quando a arma que ele utiliza é uma câmera para registar a violência em Masafer Yatta. Registra as vezes em que seu pai ativista é preso e as tentativas arbitrárias de prisão que sofre ao longo do tempo. Colonos e soldados chegam a ficar lado a lado na invasão e quebra-quebra na aldeia. Eles riem, provocam e insultam a população, o que causa indignação.

Mesmo em meio às ameaças e perseguições, eles ainda conseguem sorrir. A tensão e medo das retaliações militares dão lugar a momentos de alegria e festividade. Em uma das cenas é destacada uma festa na família de Basel para comemorar a soltura do pai, capturado por militares, que não ofereceram justificativas. Esse trecho parece querer mostrar que aquele povo se nega a se dar por vencido e demonstra todo o tipo de resistência que podem, inclusive psicológica.

Basel conta com a ajuda inusitada de Yuval Abraham, um jornalista israelense e judeu, que entra na luta para dar visibilidade à causa palestina. Yuval é de Berseba. Ele consegue andar com seu carro entre seu país e a Cisjordânia porque a passagem é livre para carros israelenses — diferentemente dos palestinos, que são proibidos de saírem de lá. Yuval é cobrado pelos que apoiam a política de ocupação israelense. “Um judeu que está do outro lado”, é o que ele ouve ao longo dos anos de seus próprios conterrâneos.

“Eles têm poder militar e tecnológico, mas não deveriam esquecer que já foram fracos. Eles também já sofreram assim”, lembra Basel, em referência a um dos momentos mais trágicos da humanidade, com o Holocausto judeu. A última imagem que ele fez de sua aldeia foi uma invasão de colonos em outubro de 2023. Após o ataque terrorista do Hamas em Israel, os palestinos passaram a sofrer mais violência e repressão, o que fez com que muitas famílias abandonassem a região com medo, deixando o futuro das aldeias ainda mais incerto.

O documentário participativo mostra a luta de Basel e sua família ativista, com imagens que misturam o estilo de câmera nervosa para ambientar a correria da população durante os ataques israelenses na comunidade, alternadas com enquadramentos fixos em momentos de reflexões dos diretores. A iluminação ajuda na percepção da precariedade da vida morando nas cavernas e na introspecção de Basel, enquanto pensa em alternativas para lidar com os problemas que surgem durante a trama. Outras cenas de arquivo também são incorporadas ao longa para auxiliar na documentação da luta histórica daquele povo.

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