Estreias têm concorrentes ao Oscar, fofura e provocação
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Estamos na reta final do Oscar, e dois filmes que disputam estatuetas chegam nesta quinta-feira aos cinemas brasileiros. O destaque é O Brutalista, de Brady Corbet, estrelado por Adrien Brody e Guy Pearce, indicado em dez categorias. Ao longo de três horas e meia conhecemos a história do arquiteto húngaro László Tóth (Brody), um sobrevivente do Holocausto que chega aos EUA para descobrir que o sonho americano não é o que esperava e encontra um parceiro/antagonista no industrial vivido por Pearce. Ele encomendará um monumento no estilo brutalista do título que pode ser a consagração e a destruição do arquiteto. Além da duração e das atuações magistrais, o filme chama a atenção ao retratar um imigrante indesejado (por ser judeu) num momento que o governo americano vende a imigração como a raiz de todos os males.
Com uma pegada bem mais leve vem da Letônia Flow, que abocanhou o Globo de Ouro de melhor animação e concorre ao Oscar na mesma categoria. O longa é protagonizado por um gatinho preto que vive em um mundo marcado pelos seres humanos, mas a presença deles. Uma enchente destrói sua toca e o faz embarcar, literalmente, em uma aventura com um cão, um lêmure, uma capivara, um pardal e uma cegonha. Uma curiosidade é que, como a capivara praticamente não emite sons, a produção usou um filhote de camelo para dar voz ao simpático roedor.
Uma opção tocante é Meu Verão com Glória, coprodução franco-belga dirigida por Marie Amachoukeli. A Glória do título é uma babá de Cabo Verde que vive em Paris e praticamente cria a menina Cléo. Quando uma situação a faz voltar para seu país e sua família, a criança entra em depressão, até que Glória a convida para passar as férias com ela, numa forma de despedida. Há um certo rancor dos filhos africanos que ela deixou para traz a fim de cuidar da “filha” europeia, mas tudo, incluindo o choque de realidades, e tratado com sutileza e respeito à ótica infantil de Cléo.
Sai a fofura, entra o choque. O Intruso, do sempre provocador Bruce LaBruce, começa surreal, com diversas malas aparecendo nas praias do Reino Unido. Dentro de cada uma delas, o mesmo homem negro nu. Um deles acaba trabalhando para uma família rica e vai seduzindo, um a um, todos os integrantes, independentemente de gênero e idade. As cenas de sexo são tão explícitas quanto as críticas à sociedade conservadora.
Vencedor do Oscar por Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Ke Huy Quan vive em Amor Bandido um corretor de imóveis que vê seu mundinho organizado desmoronar ao receber um postal que o leva de volta a uma vida que deixara para trás. Ele era um matador profissional a serviço do irmão gangster, até de desobedece a ordem de assassinar a mulher que ama. Sem o menor sentimento fraternal, o irmão quer vingança o que permite a Ke fazer a melhor imitação de Jackie Chan já vista. Oficialmente é um suspense, mas fica difícil segurar o riso.
E a categoria “filme edificante baseado em história real” tem dois representantes nesta semana. O primeiro, Desafie a Escuridão, traz o premiado Jared Harris como um professor de teatro que tenta a todo custo acolher um aluno adolescente em vias de ir para a cadeia. Caberá a ele ajudar o rapaz a lidar com os demônios de seu passado e, na medida do possível, tornar-se uma pessoa melhor.
O segundo é o brasileiro, Fé Para o Impossível, de Ernani Nunes, onde Vanessa Giácomo vive a pastora americana Renee Murdoch, atacada a pauladas na Barra da Tijuca, no Rio, em 2012. Em estado gravíssimo, ela contou com uma rede apoio capitaneada pelo marido Philip (Dan Stulbach) para, contrariando a expectativa dos médicos, se recuperar. Hoje os dois comandam uma rede de igrejas no Brasil.
Já entre os documentários, Marietta Baderna – Dos Palcos aos Dicionários, nos apresenta a uma personagem inusitada. A italiana Marietta deixou para trás seu país e chance de ser primeira bailarina no Scala de Milão e migrou para o Brasil imperial. Cativou a plateia, a começar por Dom Pedro II, com seu talento, mas eu estilo de vida liberal chocou a sociedade, a ponto de seu sobrenome ser até hoje um sinônimo de desordem e confusão.
Os 80 Gigantes, dirigido por Joana Nin, nos apresenta à Cia dos Ventos, uma companhia de teatro de São José dos Pinhais (PR) que se especializou em bonecos gigantes, inicialmente para o carnaval e cresceu para incluir um importante projeto sociocultural. Uma manobra política os despejou e os obrigou a se reinventarem.
E para as crianças há animação Kayara – A Princesa Inca, que conta a história de uma jovem que desafia a tradição para seguir os passos do pai como uma mensageira Chasqui, uma importante tarefa no império inca, até então exclusiva para homens.
Confira a programação completa nos cinemas da sua cidade. (AdoroCinema)