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A batalha dos tabuleiros: a história por trás do Banco Imobiliário

Foto: Divulgação

Sabe aquele jogo de tabuleiro que marcou sua infância, aquele que ficava ao lado de War e Detetive? O Banco Imobiliário é muito mais do que uma partida longa que faz você odiar seus primos. É uma história repleta de trapaças, roubos e obsessões. Desde sua criação nos Estados Unidos até sua chegada ao Brasil, o jogo se envolveu em uma trama judicial que parece não ter fim.

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Tudo começa com Charles Darrow, um americano que, após perder o emprego na Grande Depressão de 1929, decidiu criar um jogo sobre compra e venda de propriedades. Pelo menos essa é a história contada pela Parker Brothers. Na realidade, a origem do jogo é bem mais complexa e envolve Lizzie Magie, uma abolicionista e feminista que patenteou “O Jogo do Locatário” em 1904 — antes mesmo de as mulheres terem direito ao voto nos EUA. Magie queria propagar a ideia de um imposto único, uma proposta progressista do economista Henry George. A história do Monopoly é marcada por disputas, roubos de ideias e até mesmo a criação do Anti-Monopoly, um jogo que criticava o capitalismo desenfreado. Uma lição sobre meritocracia, feminismo e capitalismo que está disponível em um documentário disponível no streaming para os assinantes premium do Meio.

Enquanto a briga americana já ultrapassa um século, a disputa brasileira está apenas começando. De um lado, a Estrela, tradicional fabricante de brinquedos nacional. Do outro, a Hasbro, gigante norte-americana que comprou a Parker Brothers e é dona do Monopoly, a versão original do jogo. O que começou como uma questão de royalties evoluiu para uma complexa disputa sobre direitos autorais, marcas registradas e até a destruição de estoques de brinquedos.

A parceria entre as duas empresas começou na década de 1970, quando a Estrela licenciava produtos da Hasbro para o mercado brasileiro, adaptando-os ao público local. Foi assim que o Monopoly virou Banco Imobiliário, e outros jogos como Detetive e Cara a Cara ganharam versões nacionais, com adaptações que refletiam a cultura brasileira. No entanto, em 2008, a relação entre as empresas se deteriorou. A Hasbro acusou a Estrela de deixar de pagar royalties e levou o caso à Justiça.

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2019, não foi amigável com a Estrela. A dívida ultrapassaria R$ 64 milhões em royalties, segundo o processo que também demanda a transferência de marcas registradas para a Hasbro e a destruição de estoques de brinquedos considerados “piratas”. A Estrela recorreu, e o caso agora está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que decidirá o futuro de marcas que fazem parte do imaginário coletivo brasileiro.

A defesa da Estrela argumenta que as regras e dinâmicas dos jogos não são protegidas por direitos autorais, conforme estabelece a legislação brasileira. Além disso, a empresa afirma que registrou as marcas dos jogos no Brasil muito antes do contrato com a Hasbro. Por exemplo, o nome “Detetive” foi registrado em 1973, e “Cara a Cara”, em 1985. A Estrela também ressalta que as versões brasileiras dos jogos têm adaptações próprias e não são meras traduções dos produtos da Hasbro.

Enquanto o STJ não decide o futuro do Banco Imobiliário, a Hasbro segue firme no mercado brasileiro. A empresa abriu uma filial no país em 2008 e passou a vender o Monopoly por aqui. Já a Estrela, fundada em 1937 e outrora a maior fabricante de brinquedos do Brasil, enfrenta desafios financeiros. Como diria Corleone, “não é pessoal. São apenas negócios.”

Para assistir o documentário Banco Imobiliário: A História Secreta basta assinar o Meio!

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