Análise: inflação reflete uma economia superaquecida
Alexandre Schwartsman: “Se fosse verdade que a inflação se elevou apenas pelo efeito dos alimentos, esperaríamos que o IPCA livre do impacto desses produtos tivesse se mantido estável, ou mesmo diminuído, na segunda metade de 2024. Não é o que os números revelam: a inflação de tudo que não é comida se elevou de 3,9% para 4,2% no período. Outras medidas de inflação, que buscam ‘limpar’ o índice de efeitos temporários e localizados, revelam fenômeno similar. Destacamos o desempenho dos serviços, mais sensíveis à demanda interna e menos afetados pelo dólar. Também se aceleraram no segundo semestre, atingindo perto de 6% nas leituras mais recentes. Tal comportamento, em particular no que se refere a serviços, sugere uma economia superaquecida, utilizando seus recursos, capital e trabalho, de forma mais intensa do que a consistente com estabilidade de preços, definida como inflação próxima à meta. O sobreaquecimento da economia e a aceleração da inflação decorrem diretamente da política de aumento do gasto público. A bomba estourou no colo do BC, a quem cabe evitar que a inflação se desvie persistentemente da meta. Daí a necessidade de voltar a elevar a taxa Selic para moderar o crescimento e trazer o IPCA de volta”. (Veja)