‘Nosferatu’, clássico do terror, ganha sua terceira versão
Para começar o ano em alto astral (#ironia), chega nesta quinta-feira aos cinemas Nosferatu, a terceira versão de um dos maiores clássicos do terror. Robert Eggers, diretor de A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte, trouxe para si a tarefa de reler um filme que continua a assustar mais de 120 anos após seu polêmico lançamento e, segundo a crítica, saiu-se muito bem. Bill Skarsgard vive o conde vampiro da Transilvânia que compra uma propriedade no exterior e se torna obcecado pela esposa do corretor que vai a seu castelo, vividos respectivamente por Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult.
A essa altura o leitor desavisado deve estar se perguntando: “Eu não conheço essa história?” Sim, conhece. O filme original, Nosferatu – Uma Sinfonia do Horror, é um dos mais famosos plágios da história do cinema. Em 1897 o escritor irlandês Bram Stoker lançou o livro Drácula – por sua vez inspirado no conto O Vampiro (1819), de John William Polidori –, que se tornou um sucesso instantâneo. Em 1922, dez anos depois da morte do escritor, o cineasta expressionista alemão F.W. Murnau resolveu levar a trama para as telas, mas teve o projeto vetado pela família de Stoker. Eles estavam negociando com a companhia de teatro de um amigo a adaptação do livro para os palcos, o que aconteceu em 1924.
Murnau deu os ombros e fez o filme mesmo assim, preocupando-se apenas em mudar os nomes dos personagens – Drácula virou Orlok; Jonathan Harker, Thomas Hutter; e Mina, Ellen – e levar a história da Inglaterra para a Alemanha. O resultado foi o expressionismo alemão em um de seus melhores momentos, com jogos de luz e sombras e uma caracterização literalmente assombrosa de Max Schreck como o conde.
Os herdeiros de Stoker, porém, não acharam a menor graça e recorreram à Justiça. O plágio foi constatado, e, como parte da sentença, o tribunal determinou que todas as cópias do filme de Murnau fossem destruídas – o que felizmente não aconteceu. Em 1931, sob as bênçãos da família do autor, a Universal lançou a adaptação oficial da peça Drácula, com o húngaro Béla Lugosi encarnando o conde.
Nosferatu, porém, seguiu sendo uma referência para os amantes do terror. Em 1979, com o livro já em domínio público, o também alemão Werner Herzog fez uma nova versão, chamada no Brasil de Nosferatu, o Vampiro da Noite, misturando a estética de Murnau com o os nomes originais de Bram Stoker. Havia uma piada na época segundo a qual o ator Klaus Kinski mal precisou de maquiagem para compor o personagem-título.
O longa de Murnau ainda inspiraria uma fan-fic no mínimo curiosa, A Sombra do Vampiro, dirigida por E. Elias Merhige em 2000 e baseada na lenda urbana de que o ator Max Schreck seria realmente um vampiro. John Malkovich vive F.W. Murnau, e Willen Dafoe (que também não precisou de tanta maquiagem) é seu astro-monstro. Dafoe, aliás, está na nova versão como o professor von Franz, nome que Murnau criou para o hoje célebre Van Helsing.
Robert Eggers têm, portanto, mais de um século de tradição cinematográfica a lhe pesar, mas seu detalhismo na reconstituição de épocas, seu mergulho nas personalidades problemáticas dos personagens e sua falta de pudor em provocar os sentidos do público são bons prognósticos para o novo filme.
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