Galípolo nega ataque especulativo ao dólar
Em dia de dólar chegando à máxima de R$ 6,301, o diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, negou que um ataque especulativo do mercado financeiro seja a causa da disparada da moeda americana e afirmou que sua percepção sobre o tema tem sido bem aceita pelo presidente Lula e outros membros do governo, entre eles os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). “Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias”, disse. “A ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem o movimento que está acontecendo no mercado hoje.” Na quarta-feira, ao ser questionado sobre a disparada do dólar, Haddad não descartou a possibilidade de influência de movimentos especulativos, mas disse acreditar que as intervenções do BC e do Tesouro Nacional deveriam ajudar a acalmar os ânimos. Nesta quinta-feira, o BC vendeu US$ 8 bilhões em dois leilões extraordinários no mercado à vista. Ao todo, desde quinta-feira passada, foram injetados US$ 20,7 bilhões no mercado de câmbio. Quanto à questão fiscal, Galípolo disse que, nas conversas com Lula e Haddad, eles reconhecem que há problemas que precisam ser enfrentados e que o controle das contas públicas é um esforço contínuo. Mas ressaltou que não existe “bala de prata” para resolver a questão. (Folha)
Na mesma entrevista, que além do Relatório Trimestral de Inflação marcou a transição na chefia do BC, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, reiterou que, no regime de câmbio flutuante, não há defesa de preço do dólar por parte da autarquia. “Mas há a percepção que, se o BC não atuar, pode haver uma disfuncionalidade de preços [no dólar]. Para isso que existem as reservas”, afirmou, destacando que o BC “tem muita reserva [internacional, acima de US$ 370 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário”. Ele também disse que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano. Segundo ele, além das tradicionais retiradas de recursos por empresas do país, que se intensificam no fim de cada ano, também está sendo registrada e monitorada pelo BC uma saída maior de recursos pelas pessoas físicas, por meio de plataformas de bancos. (g1)
Míriam Leitão: “Vimos na manhã desta quinta-feira uma página bonita do ponto de vista das instituições do Brasil, no caso o BC, que foi uma transição serena e respeitosa, e, ao mesmo tempo, os dois presidentes do BC enviaram um recado político importante. Começando pela vitória institucional, a transmissão ao vivo de uma entrevista com o atual e o futuro presidente — Campos Neto convidou Galípolo para participar da coletiva. Essa passagem de bastão em harmonia é muito importante. A afirmação dos dois na coletiva foi de que o choque de juros foi uma decisão tomada já nesse processo de transição, com voz ativa de Galípolo é um recado político importante. O que os dois juntos estão dizendo é que têm o mesmo entendimento de que o BC é órgão técnico mesmo num país conflagrado pela disputa política”. (Globo)