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Avaliação seriada, uma alternativa ao Enem

Uma vaga na universidade pública. É com isso que sonham os mais de 4 milhões de estudantes que se se dividiram em cerca de 149 mil salas de 1.753 municípios para fazer o Enem nos últimos dois domingos. O Ministério da Educação divulgou o gabarito oficial das provas na quinta-feira. As notas, no entanto, só saem em 13 de janeiro. Até lá, é segurar a ansiedade e esperar. Medo, esperança e confiança são algumas das emoções que mexem com quem está passando por esse processo de seleção. Afinal, os muitos anos de estudo são avaliados em apenas dois domingos. E se o aluno se sentiu mal? Ficou nervoso? Deu branco? Tudo é posto em xeque em dez horas e meia divididas em dois dias de provas.

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Apesar de ser o maior processo seletivo do país para o ensino superior, o Enem não é única porta de entrada para a universidade gratuita. Além da seleção própria feita por algumas instituições, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), há uma outra modalidade de acesso que rompe com o padrão de tudo ou nada em apenas dois dias de exames. É a seleção seriada, que acontece ao longo de todo o Ensino Médio. Ao menos 15 universidades públicas federais e estaduais selecionam parte de seus alunos dessa forma. Para participar, é preciso estar atento aos prazos de inscrição desde o 1º ano do Ensino Médio, já que a aprovação requer a participação do aluno em todas as avaliações feitas nos três anos finais da educação escolar.

A Universidade de Brasília (UnB) destina 50% de suas vagas ao Programa de Avaliação Seriada (PAS). E faz tempo que adota esse modelo. Desde 1995, os estudantes têm a oportunidade de fazer as provas ao fim da 1ª, da 2ª e da 3ª séries, testando os conhecimentos adquiridos em cada ano. A classificação dos candidatos é feita após a terceira e última etapa, com base na média ponderada (pesos 1, 2 e 3) obtida nos resultados das provas realizadas ao final de cada série.

Desde 1999, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) conta com o Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) em que os candidatos participam de três módulos de avaliação nos três anos do Ensino Médio. Os primeiros aprovados terminaram o ciclo de provas em 2001. Naquela ocasião, havia 8.986 inscritos. Agora, são mais de 47 mil. As provas são aplicadas em dois dias seguidos e não se restringem a Juiz de Fora. Os exames também são realizados em outras quatro cidades, nas mineiras Governador Valadares e Muriaé, além de Petrópolis e Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, o que acaba atraindo mais estudantes.

Júlia Ramos Nora, de 17 anos, está na 2ª série em uma escola particular do Rio. Ela fez a primeira prova do Pism no ano passado e realizou o Enem como treineira pela primeira vez neste ano. Em termos de conteúdo, ela considerou a primeira prova da seleção seriada da UFJF mais específica, bem focada ao que foi ensinado no 1º ano. Já o Enem foi uma avaliação difícil, mas mais abrangente. O maior ganho de poder fazer seis provas em vez de duas é lidar melhor com a pressão.

“É muito melhor poder fazer as provas em três anos. Se você não foi bem em um ano, pode melhorar no outro. O tudo ou nada em uma prova só, como o Enem, é bem mais estressante. No Enem, é agora ou nunca. No Pism, dá para dividir essa pressão”, avalia.

Anualmente, a UFJF oferece aproximadamente 4 mil vagas, distribuídas igualmente entre o Pism e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Os candidatos podem participar dos dois processos e optar pelo curso de preferência. Em geral, o resultado do Pism é divulgado primeiro, permitindo ao candidato acompanhar o processo do Sisu posteriormente e escolher a melhor opção, seja pelo mesmo curso ou por outro.

O chamado Provão Paulista também é uma seleção seriada, voltada para as principais instituições públicas do estado de São Paulo: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e Faculdade de Tecnologia (Fatec). Esse processo, no entanto, é restrito aos estudantes do Ensino Médio matriculados em escolas públicas do estado.

Mas não é só a capital federal e o Sudeste que contam com a seleção seriada. Também oferecem esse tipo de avaliação, entre outras, a Universidade do Estado do Amazonas, a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade Federal de Roraima, a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, a Universidade de Pernambuco e a Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Já o Impa Tech, o bacharelado em Matemática da Tecnologia e Inovação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, recorre a uma outra forma alternativa de selecionar 100 alunos para sua graduação. Oitenta por cento das vagas para a turma do ano que vem serão preenchidas levando em consideração o desempenho dos alunos em ao menos uma de cinco olimpíadas de conhecimento — duas de matemática, além das de física, química e informática —, enquanto 20% serão selecionados com base na nota da prova de matemática do Enem. O processo seletivo já está aberto e vai até as 17h de 27 de dezembro. Além disso, os candidatos passarão por atividades em grupo e entrevistas individuais on-line. O Impa Tech, que fica no Rio de Janeiro, é gratuito e oferece alojamento estudantil e apoio financeiro. E estudantes de fora aprovados na etapa final do processo seletivo terão a passagem aérea para o início do ano letivo custeada pelo instituto.

Mas nada de desistir do Enem. Desde 2009, a nota do exame nacional é usada para obter uma vaga no ensino superior público, além de ser aceita em universidades privadas e em algumas do exterior. Com esse resultado, o estudante se inscreve no Sisu. Em 2024, foram ofertadas 264.360 vagas em 127 instituições públicas. As vagas para 2025 ainda não foram anunciadas. E mesmo universidades que não estão no Sisu destinam parte de suas vagas para preenchimento com base no desempenho no Enem.

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