Ridley Scott nos leva de volta a sua versão de Roma
Há 24 anos Ridley Scott encantou o mundo com o épico Gladiador – vagamente inspirado em A Queda do Império Romano, de 1964 – e transformou Russell Crowe em astro de primeira grandeza. Era um filme fechado, encerrado com a morte do protagonista e do antagonista. Mas Hollywood sempre dá um jeito, e o próprio Scott nos brinda com Gladiador 2, principal estreia desta véspera de feriado. O astro agora é Paul Mescal, num aceno ao público jovem, como Lúcio Vero, filho bastardo de Máximo (o herói do filme anterior) e sobrinho do imperador Cômodo (o vilão). Capturado pelo cruel general Marco Acácio (Pedro Pascal), ele é vendido como escravo e treinado como gladiador por Macrino (Denzel Washington, roubando o filme), que trama contra Roma e vai ajudá-lo em sua vingança. Desnecessário dizer que a precisão histórica nem chegou perto do set de filmagem, mas o espetáculo compensa.
Um outro período histórico, muito mais sombrio, é pano de fundo de Pássaro Branco – Uma História de Extraordinário, um desdobramento do drama Extraordinário. Julian (Bryce Gheisar), o valentão do filme original, é expulso da escola e recebe a visita da avó, vivida pela grande Helen Mirren. Dela, vai ouvir o que era ser uma menina e adolescente judia durante a ascensão do nazismo na Alemanha, onde jovens com comportamento como o do neto logo se tornaram monstros.
Do terror real ao terror fictício, o brasileiro Sala Escura, escrito e dirigido por Paulo Fontenelle, mergulha na metalinguagem. Nove espectadores são convidados para uma pré-estreia exclusiva e se descobrem presos na sala de cinema à mercê de um assassino maníaco. Aos poucos, vão descobrindo conexões entre si que os fizeram serem escolhidos para aquele pesadelo.
Bastou a imagem original de Mickey cair em domínio público para que o ratinho ganhasse o mesmo destino do Ursinho Pooh e virasse assassino. Mousetrap: A Diversão Agora é Outra não chega a usar o nome do personagem, mas o assassino veste uma máscara que reproduz a aparência dele no desenho O Vapor Willie, de 1928. Daqui a pouco chega a vez do Pato Donald, se bem que este sempre teve algo de psicopata mesmo.
Interpretado por Aury Porto, o trabalhador rural itinerante Etevaldo é o protagonista em Agreste, de Sergio Roizenblit. Um segredo sombrio do passado faz com que ele evite ficar muito tempo no mesmo lugar e se não relacione com as outras pessoas, até que se apaixona por Maria (Badu Morais), uma jovem rebelde prometida ao senhor feudal, digo, coronel, quer dizer, agro empresário local. Está posta a mesa do drama.
Romance e quebra de padrões dão a tônica de Black Tea, onde uma jovem da Costa do Marfim abandona o noivo (no altar), a cidade e o país para tentar a sorte na China. A moça africana consegue trabalho numa loja de chás (sim, o título é sutil como uma martelada) e, aos poucos, começa a se envolver com o chinês Cai, mas ambos terão de superar os próprios preconceitos para que o amor dê certo.
Outro drama envolvendo a África é Maputo Nakuzandza. São cinco histórias paralelas acontecendo durante uma manhã Maputo, capital de Moçambique. Pessoas comuns vivendo seus dramas, suas rotinas e suas alegrias.
Dirigido por José Walter Lima, Brazyl, Uma Ópera Tragicrônica combina cinema e teatro para contar a história de nosso país desde os anos 1930. Não é um documentário, mas procura retratar com alguma exatidão os acontecimentos marcantes e nos chamar à reflexão sobre como nosso país chegou até aqui.
Documentário propriamente dito é A Carta de Esperança Garcia, de Douglas Machado. Estrelado pela grande Zezé Motta, o longa parte de uma carta escrita em 1770 por uma mulher escravizada ao governador da Capitania de São José do Piauí denunciando os abusos sofridos nas mãos de seus escravizadores. Em quatro atos o filme relaciona a história de Esperança com a situação atual da população negra brasileira – muito além do Piauí.
Também na seara documental, Santino, de Cao Guimarães acompanha o personagem-título, um veredeiro e ativista ambiental na bacia do São Francisco, em Minas Gerais. Ele e sua família procuram preservar seu modo de vida e o meio ambiente contra projetos predatórios e a própria perda da cultura ancestral da população local.
E com um feriadão aí, levar as crianças ao cinema é sempre um bom programa. A animação argentina Dalia e o Livro Vermelho, de David Bisbano, tem como personagem principal uma menina, filha de um escritor que morre antes de concluir um livro. A garota acaba levada para dentro da obra pelos personagens, onde dará um fecho à história.
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