De volta ao pulso: relógios analógicos conquistam a Geração Z
Uma das obras mais icônicas do surrealista Salvador Dalí, A Persistência da Memória, traz três relógios derretendo, marcando horários diferentes. Esses relógios, com seus formatos distorcidos, simbolizam a elasticidade do tempo, quase zombando da forma rígida como costumamos vê-lo. Dalí coloca em questão a ideia de um tempo linear e fixo. De certa forma, essa flexibilidade do tempo explorada na pintura também reflete o ressurgimento dos relógios analógicos hoje — um item que parecia ultrapassado na era digital, mas que está voltando com força.
Embora os relógios analógicos tenham sido deixados de lado com o avanço dos smartphones e smartwatches, eles estão passando por um verdadeiro renascimento, especialmente entre os jovens da geração Z. Como mostra o Estadão, muitos têm buscado os modelos de pulso para desconectar das telas e da correria digital. E assim como a obra de Dalí, o retorno sugere uma nova forma de encarar o tempo: mais pessoal, consciente e à parte do ritmo acelerado da tecnologia, o que, claro, chamou a atenção do mercado.
Marcas como Condor, Champion e Statera Watch Co. já notaram o aumento no interesse do público por relógios analógicos, lançando modelos que atraem os jovens em busca de estilo e identidade. O mercado de brechós também está aproveitando, com lojas como o Frou Frou Vintage, em São Paulo, oferecendo modelos restaurados de várias partes do mundo. Nas redes sociais, postagens evidenciando tendências como o “old money” e o “vovôcore” impulsionam a vontade de aderir à moda
Para especialistas como Bernardo Britto, influenciador focado em relojoaria, os relógios mecânicos são mais do que apenas marcadores de tempo: são uma expressão de arte e tradição. Para ele, o crescente interesse da geração Z mostra uma vontade de se distanciar da funcionalidade dos smartwatches e abraçar um acessório que tenha mais a ver com a personalidade e o estilo de quem o usa. No entanto, Britto recomenda cautela na hora de comprar modelos vintage, já que a procedência deve ser verificada para evitar falsificações. A tendência dos relógios analógicos, seja como escolha pessoal ou como uma declaração de estilo, só tende a crescer. Mas será que essa busca se manterá ou acabará cedendo à próxima moda passageira? (Estadão)