Festival exibe um mergulho no riso crítico do cinema italiano
Ao se deparar com música Aquarela sendo cantada em italiano não pense ser uma versão. Ao contrário, a composição de Toquinho, Maurizio Frabrizio, Guido Morra e Vinicius de Moraes nasceu italiana, só depois ganhou a tradução para o português, feita por um de seus autores, Toquinho. E ele nem acreditava que uma letra tão extensa, com tantas palavras, pudesse agradar tanto e ser cantada da capo al fine pelos brasileiros, especialmente pelas crianças. Essa é uma das histórias contadas no filme Toquinho, Encontros e um Violão, (Toquinho, Incontri e una Chitarra) de Erica Bernardini, que figura no Festival de Cinema Italiano, aberto ontem em São Paulo e que percorrerá todas as regiões do Brasil até o dia 8 de dezembro, com sessões gratuitas em cinemas de mais de 70 municípios, e filmes disponíveis para streaming.
O filme sobre Toquinho, um ítalo-brasileiro, foi o escolhido pela embaixada da Itália para as comemorações, neste ano, dos 150 anos da imigração italiana no Brasil. “O especial de Toquinho é que ele consegue ser atemporal. Tem aí mais de 50 anos renovando público. As novas gerações, as crianças, gostam dele, o trabalho dele ainda é mostrado nas escolas. É uma figura que representa tão bem essas duas culturas e um artista realmente incrível”, disse, ao Meio, Erica Bernardino que, além da direção do filme, assina a curadoria do festival que está em sua 19ª edição.
O recorte da mostra deste ano reúne 32 filmes, sendo 17 inéditos, que abordam temas transversais às duas culturas. Um exemplo é a questão da imigração tratada no longa Eu Capitão (Io Capitano), que rendeu o Leão de Prata de melhor direção para Matteo Garrone, além da indicação na categoria de filme estrangeiro no Oscar deste ano. O festival é uma chance de assistir de graça à película e aos demais filmes selecionados.
Humor como crítica social
E as conexões culturais do festival seguem reverenciando o humor clássico italiano na retrospectiva “De Totò a Roberto Benigni”, perpassando a risada como símbolo de resistência e questionamento, que marcou época e que continua a influenciar o cinema atualmente. Para quem não conhece, Totò é aquele italiano que, desesperadamente, come espaguete com as mãos em pôsteres espalhados pelos restaurantes de comida italiana. Sua foto na parede é uma espécie de aval para estabelecimentos que primam pele originalidade culinária.
“Só o italiano sabe fazer bem essa crítica social por meio do riso e da sátira”, diz Erica Bernardino, justificando a escolha por reverenciar o “príncipe da risada”, o popular comediante Totò. “Ele foi um ator incrível, irreverente porque traz para o cinema aquele homem comum que vive situações do cotidiano. Situações morais, situações sociais, que arrancam o riso. E com esse humor tão característico italiano a gente abriu um pouco leque indo até Benigni (Oscar por A Vida é Bela), que é um outro monstro.” De Benigni, o festival apresenta O Pequeno Diabo (Il Piccolo Diavolo), mostrando as peripécias do diabinho chamado Giuditta para não ser mandado de volta para o inferno e poder descobrir o mundo.
E, claro, o festival é uma excelente para mergulho nos clássicos Federico Fellini, trazendo Giulietta Masina como protagonista do Abismo de um Sonho (1952), Mario Monicelli, com Totò, em Guardas e Ladrões (Guardie e Ladri), Vittorio de Sicca, com o Ouro de Nápoles (L’Oro di Napoli), filme de 1954 que exibe Totò, Lianella Carell e Sophia Loren.