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Morre no Rio Evandro Teixeira, um fotógrafo contra ditaduras

Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968. Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS

No olhar de Carlos Drummond de Andrade, as fotografias de Evandro Teixeira foram o que restou de mais “mais positivo, mais queimante” das “lutas de rua no Rio em 68”. O amigo poeta, ex-colega da redação do Jornal do Brasil, registrou a experiência de mirá-las no poema “Diante das fotos de Evandro Teixeira”, texto que integra a obra Amar Se Aprende Amando, de 1985. E nesta segunda-feira, aos 88 anos, o fotojornalista Evandro Teixeira morreu no Rio de Janeiro. Ele estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, desde o dia 8 de outubro, com complicações de uma pneumonia, e os aparelhos que o mantinham vivo foram desligados no domingo.

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Durante o longo período de internação, amigos e colegas de profissão chegaram a fazer uma campanha para incentivar a doação de sangue para o fotógrafo. Tratava-se do ícone do fotojornalismo, autor das “fotos acusadoras, tão vivas”, nas palavras de Drummond, sem as quais é impossível pensar os acontecimentos da vida social e política na segunda metade do século 20 no Brasil e na América Latina.

Baiano de Irajuba, na época um pequeno povoado a 307 quilômetros de Salvador, Teixeira nasceu em 25 de dezembro de 1935. O pai era fazendeiro e a mãe, dona de casa. Aos 15 anos, foi morar na cidade de Jequié para continuar os estudos e, trabalhando no pequeno jornal da cidade, comprou sua primeira câmera. Ainda no interior, fez seu primeiro curso de fotografia, com Teotônio Rocha, primo de Glauber Rocha, em Ipiaú, outra pequena cidade baiana, onde trabalhou no jornal Rio Novo. Veio daí sua segunda câmera, uma Polaroid. Mas foi em 1954, quando se mudou para Salvador, que os fundamentos do fotojornalismo passaram a fazer parte de sua vida por meio de um curso por correspondência com José Medeiros, organizado pela revista O Cruzeiro. 

De Salvador, Teixeira se mudou para o Rio de Janeiro com o objetivo de estudar Belas Artes. Só que ele não terminou o curso e passou a trabalhar no Diário da Noite. Em 1963, foi para o Jornal do Brasil. Só saiu do JB 47 anos depois, em 2010, quando o jornal parou de circular em sua versão impressa.

Suas fotos passaram a fazer parte da história política e social do Brasil. São dele, por exemplo, a Caça ao Estudante na ‘Sexta-Feira Sangrenta’, que retrata a queda de um aluno ao ser perseguido por dois policiais durante a repressão, em junho de 1968. Em entrevista ao Le Monde Diplomatique, ele disse nunca ter descoberto se o estudante sobreviveu à repressão. “Deram uma pernada nele, ele caiu e bateu a cabeça no meio-fio, em frente ao Theatro Municipal, e deu um berro horroroso”, disse. “Essa foto foi publicada no jornal e ele nunca apareceu. Uns seis meses depois, fizemos uma matéria na primeira página convocando: ‘Se você estiver vivo, eu gostaria de revê-lo, conversar’, mas ele nunca apareceu”, contou.

Teixeira fez registros importantíssimos da tomada do Forte de Copacabana, em 1963, e da Passeata dos Cem Mil. Sobre a manifestação de 1968 disse: “Nunca vi o Rio de Janeiro tão bonito, e foi pacífico”. “Foi uma paz dourada”.

Ele driblou a ditadura do general Augusto Pinochet, no Chile, e foi o único profissional a acompanhar todo o velório de Pablo Neruda, em 1973, desde o hospital, onde conseguiu entrar escondido dos militares chilenos e encontrou o corpo sozinho em um quartinho, até a parte reservada da cerimônia, na casa do poeta, em Santiago: a La Chascona. Ao lembrar do feito, Teixeira contou ter usado o nome do escritor brasileiro Jorge Amado para ganhar a confiança da viúva de poeta, Matilde Urrutia. “Eu falei: ‘Dona Matilde, fotógrafo do Jorge Amado. Permiso! [pedido de licença em espanhol]. Ela olhou para mim: ‘Meu filho, sua presença aqui é muito importante’”. E concluiu: “Olha que sábia, mulher inteligente. Era a câmera que era importante”.

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