O que ver e ler para entrar no clima das eleições americanas
Às vésperas da eleição nos Estados Unidos — e de dias de tensão para saber quem, afinal, sairá vencedor entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris — aumenta a procura por entender melhor a política da maior economia do mundo. Alguns tentam entender o sistema de voto e a importância que cada estado tem para a decisão final, outros buscam as propostas dos candidatos, tem ainda quem queira saber da história recente para refletir como o país considerado “a maior democracia do mundo” passa por uma divisão extremamente violenta após quatro anos de Trump não aceitar os resultados das urnas, da invasão no Capitólio e de um governo democrata repleto de gafes.
Não sei se você prefere filmes, maratonar séries ou ler um bom e velho livro, por isso, preparamos uma lista com obras que aumentarão seu repertório, enquanto você se prepara para a cobertura especial das eleições.
É claro que jamais seria possível indicar todas as boas referências, nessa lista você encontrará 5 de cada tipo, unindo lançamentos e clássicos.
Filmes
Mera Coincidência, de Barry Levinson (para alugar: Prime Video e na Claro TV)
Essa comédia de humor ácido estrelada por Dustin Hoffman e Robert De Niro faz uma crítica sobre como governos e a mídia podem manipular informações para desviar o foco de escândalos. A história acompanha um spin doctor, profissional de comunicação cujo objetivo é influenciar a opinião pública, e um produtor de Hollywood que criam uma guerra fictícia para desviar a atenção de um escândalo sexual envolvendo o presidente dos EUA. E o filme acerta em cheio sem querer: um mês após o seu lançamento, o escândalo Lewinsky veio a público, com o suposto caso do então presidente Bill Clinton com uma jovem estagiária da Casa Branca.
Recontagem, de Jay Roach (Max)
Não é de agora a moda de pedir recontagem ou alegar fraudes. Lançado em 2008 e escrito por Danny Strong, o filme revisita a polêmica eleição presidencial dos Estados Unidos de 2000, entre George W. Bush e Al Gore. Mais uma vez com um ótimo elenco, incluindo Kevin Spacey, Laura Dern, vencedora do Globo de Ouro por sua atuação, e John Hurt, o filme dramatiza os eventos desde a noite da eleição até a decisão final da Suprema Corte em dezembro. A narrativa foca nas disputas jurídicas e recontagens de votos na Flórida, que definiram o resultado da eleição — uma das mais controversas da história do país. É uma ótima escolha para quem quer entender melhor o voto por delegados e suas nuances.
Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula (para alugar: Prime Video, YouTube e Apple TV)
Um clássico. Lançado em 1976, o filme é baseado no livro homônimo de Bob Woodward e Carl Bernstein, os jornalistas do Washington Post que desmascararam o escândalo de Watergate, levando à renúncia do presidente Richard Nixon. O filme retrata a investigação da dupla de repórteres, mostrando como um aparente caso de invasão banal acabou se transformando em um dos maiores escândalos políticos da história dos Estados Unidos.
O Ataque ao Capitólio, de Gédéon Naudet e Jules Naudet (Max)
Vindo à contemporaneidade, o documentário de 2022 conta com relatos e imagens inéditas sobre a invasão do Capitólio por parte de apoiadores de Donald Trump, que não aceitaram os resultados das eleições. Para além de uma violação simbólica, a invasão resultou em 5 mortes. Não é difícil relacionar esses eventos, de 6 de janeiro, aos eventos do Brasil, dois anos e dois dias depois, em 8 de janeiro de 2023.
Guerra Civil, de Alex Garland (para alugar: Prime Video)
Ficção distópica e política que se passa nos Estados Unidos não é tão comum. Mas foi o que fez o diretor e roteirista Alex Garland nesse filme que tem o ator brasileiro Wagner Moura e Kristen Dunst como protagonistas. No longa, a terra do Tio Sam está dividida a ponto do país estar em guerra. Fugindo do óbvio, no universo do filme, Texas e Califórnia se uniram contra o governo central. Fotojornalistas atravessam o país em busca do clique e da história perfeita, enquanto os conflitos armados escalam. Prepare o lencinho.
Séries
House of Cards (Netflix)
Ok, eu sei que a temporada final deixa a desejar e a polêmica com acusações de abuso sexual contra Kevin Spacey minaram a visão geral sobre a obra. Mas as temporadas iniciais são brilhantes e mostram, por meio de personagens de ficção, um pouco do que pode acontecer nos bastidores das articulações do Capitólio e da Casa Branca. Capaz de cativar até quem não for fã de política.
Designated Survivor (Netflix)
Esse drama político segue a trajetória de Thomas Kirkman, um acadêmico que inesperadamente se torna presidente dos Estados Unidos após um atentado que elimina toda a linha de sucessão do país. O protagonista precisa lidar com a pressão de assumir a maior liderança do mundo enquanto tenta desvendar a conspiração por trás do ataque. Conta com boas reviravoltas ao longo das 3 temporadas.
Veep (Max)
Mais uma comédia. Dessa vez acompanhamos a vice-presidente Selina Meyer, que deseja continuar em seu cargo em meio às eleições. A série satiriza absurdos da burocracia e as dificuldades de tomar decisões no poder. Curiosidade: o então vice-presidente Joe Biden tirou uma foto com a atriz Julia Louis-Dreyfus, intérprete da protagonista.
A Diplomata (Netflix)
Muda um pouco o eixo da política americana em si e abraça as relações internacionais. A série da Netflix mistura tensão política e drama pessoal, sobre uma recém-empossada embaixadora dos Estados Unidos no Reino Unido, casada com outro diplomata e com a relação em crise. Ela tem a missão de resolver enormes conflitos na Inglaterra, enquanto equilibra articulações políticas, inclusive de seu marido. Também conta com momentos de alívio cômico certeiros.
American Horror Story (Disney+)
Não, o redator não ficou maluco. Aproveitando o clima de Halloween ainda remanescente de dias atrás, a série de terror traz uma história nova e independente por temporada. E na sétima, o enredo começa no dia em que Donald Trump foi eleito presidente. A partir disso, um culto de seguidores fanáticos, com práticas fundamentalistas, abertamente fascistas e extremamente violentas passa a dominar uma cidade do Michigan. E o que já começa grave, escala a níveis enormes.
Livros
Os Artigos Federalistas, de Alexander Hamilton, James Madison e John Jay
Uma reunião de ensaios que explicam os princípios da Constituição americana e continuam sendo referência para entender o sistema de governo dos EUA. Escrito em 1787, na Filadélfia, esses pensadores se reuniram para debater a criação de uma Constituição que deveria ser capaz de evitar a tirania, garantir a liberdade e fornecer um sistema de governo que protegesse tanto a segurança quanto a prosperidade da sociedade.
Da Democracia na América, de Alexis de Tocqueville
Mais um clássico. De 1835, o livro se propõe a analisar a sociedade dos Estados Unidos no século 19, destacando virtudes e falhas. Tocqueville, foi enviado com Gustave Beaumont para estudar o sistema prisional, passou nove meses viajando pelos EUA e observando aspectos políticos e sociais, em um momento de transformação dos partidos políticos, que se tornavam organizações maiores e mais inclusivas.
Audácia da Esperança, de Barack Obama
O ex-presidente Barack Obama, à época da escrita, em 2006, ainda Senador, compartilha sua visão de política, sua história de vida e o que pensa sobre diversos pontos centrais para os Estados Unidos. Sua capacidade de orador é passada para a escrita.
Como as Democracias Morrem e Como Salvar a Democracia, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Eu sei, foi uma trapaça da minha parte incluir dois livros em um. Mas fato é que eles contam a mesma história em momentos diferentes. Anos depois do primeiro livro, famoso em 2016, justamente com a eleição de Trump, os autores retomam o raciocínio atualizando novas descobertas e entendendo na prática como as instituições democráticas se comportam com autocratas no poder. Apesar de falar dos Estados Unidos, o Brasil é citado várias vezes e nem sempre como um mau exemplo.
Era uma vez um sonho: A história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana, de J.D. Vance
Como trapaça pouca é bobagem, antes é necessário lembrar que o livro inspirou um filme Era uma Vez um Sonho, da Netflix. Caso não tenha reconhecido de cara, o livro foi escrito e inspirado na história de J.D. Vance, candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump. Polêmico, o livro conta a conturbada história da dependência química de sua mãe, sua dificuldade na infância e no começo da vida de estudante, mas, apesar de representar uma história de superação, o autor rejeita a necessidade das políticas sociais. É importante, no entanto, para apontar a decepção dos operários e de famílias de classe média dos Estados Unidos, muitas das quais abraçaram o correligionário de Vance em 2016, 2020 e o farão em 2024.