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Gui Amabis lança seu ‘Contrapangeia’ com orquestra no Sesc Pompeia

Contrapangeia, quinto disco de estúdio do compositor paulistano Gui Amabis, lançado no primeiro semestre, é uma coleção de nove canções densas, que, criadas a partir do violão, ganham bastante em drama com os arranjos de cordas, algo que consegue aludir tanto às criações de Van Dyke Parks quanto às de Tom Jobim. Pela primeira vez, o disco chega ao público como foi imaginado, nesta quinta-feira, no Sesc Pompeia, em São Paulo, com um orquestra de câmara de 18 músicos, além dos parceiros Régis Damasceno no violão e Zé Ruivo Neto nos teclados.

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Ouvir Contrapangeia, com suas letras de amor repletas de imagens introspectivas mescladas a outras que trazem uma observação sensível do mundo contemporâneo, flui como se a gente estivesse em um filme. E a conversa por telefone com Gui Amabis começa justamente explorando essa questão de como as palavras envolvidas por esses arranjos de cordas trazem uma complexidade para o seu trabalho que é bastante similar à da música feita para a imagem em movimento, algo natural para esse compositor que ganha a vida fazendo muita música para cinema e séries, e agora acabou de terminar a trilha original de Homem com H, filme de Esmir Filho sobre Ney Matogrosso.

“Eu comecei a compor pensando em fazer trilha, não pensava em fazer canção. As minhas primeiras composições foram para trilha, quando eu trabalhava como produtor assistente para um compositor. E no estúdio passava muita gente. Era a época em que o Beto Villares estava produzindo o primeiro disco da Céu lá. Aí comecei a escrever umas canções e mostrei para os amigos.”

Os amigos incluíam seu irmão Rica, Dengue e Pupillo, a fundação rítmica da Nação Zumbi, que na época estavam fazendo o 3 na Massa, convidando uma série de cantoras para interpretar as canções. As primeiras composições de Gui foram para o Sonantes, que era praticamente o 3 na Massa, acrescido dele e de Céu, com um monte de participações especiais. “Aí eu comecei a me encantar em escrever música e a entender como era o meu jeito de cantar minhas músicas. E acho que esse início como compositor de trilha influenciou muito. O arranjo e as texturas acabam sendo uma coisa muito marcante, às vezes mais do que a melodia”, diz.

Essa relação entre letra, cantada com sua voz grave, e sempre com arranjos criativos, permeia não só os seus álbuns de estúdio como as parcerias que fez ao longo da vida, talvez a maior delas seja o trio com Juçara Marçal e Rodrigo Campos que deu nos dois dos volumes de Sambas do Absurdo. Em seu primeiro disco, Memórias Luso/Africanas, de 2011, o processo de composição vinha das bases para depois entrarem as letras, mas a partir de Trabalhos Carnívoros, “já foi de uma maneira mais tradicional de composição, de pegar o violão e fazer a música mesmo e cantar a melodia e harmonizar, enfim”. Às vezes colaborando na música, mas sempre escrevendo as letras. “A minha primeira parceria de letra é nesse disco, que é a Certeira Avenida, com o Jorge du Peixe. Eu não conseguia fazer parceira nas letras, não sei por quê. E aí, essa com o Jorge rolou, foi natural.”

Contrapangeia tem muitas parcerias, e seus autores estarão no palco no Sesc Pompeia. Zé Ruivo, que divide a composição de Diz Aí, estará nos teclados, Régis Damasceno, que assina com Gui Dois Bons Amigos, vai tocar violão. Assim como Juçara Marçal, que no disco canta Nesse Meio Tempo, e Manuela Julian, que divide os vocais em Amar Sem Dizer.

Mas o inédito deste show é mesmo poder ouvir o disco como foi concebido, com a orquestra de câmara. “Vai ser uma turma, são seis violinos, três violas, três cellos e flauta. No disco, o Pedro Mibielli fez o arranjo de cordas comigo e tocou violino e viola, fazendo a maioria das dobras. A Fernanda Monteiro gravou dois cellos e a Adriana Holtz gravou um cello. O Pedro e a Fernanda estarão no show.”

Além das nove canções de Contrapangeia, podemos esperar novas versões para trabalhos anteriores, como Pena Mais que Perfeita, composição de Gui e Régis para o excelente Encarnado, álbum de Juçara Marçal. Mas essa pode ser a única vez que vamos conseguir ouvir o novo álbum como foi concebido. Gui diz que adoraria fazer mais shows com essa formação, “a gente poderia até ir para outros lugares e pegar um grupo de cordas do lugar para onde a gente fosse, levar os arranjos e fazer ensaios. Espero que role. É possível, né? Mas, assim, tudo depende do algoritmo”.

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