Esquerda do PT contesta ‘retomada’ de Gleisi: ‘Nem derrotismo, nem oba-oba’
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), levou para a reunião da Executiva Nacional do partido nesta segunda-feira um compilado dos resultados das eleições municipais buscando demonstrar que os números não eram tão ruins a ponto de motivarem a conflagração interna. Gleisi tentava apaziguar os ânimos de membros da legenda de Lula que, diante do avanço dos partidos de centro-direita nas eleições deste ano, passaram a questionar as escolhas de alianças para as chapas.
A deputada fez questão de apresentar os números com um ar de “retomada” do PT, após o fundo do poço que foram as eleições de 2020. Ela mencionou os 252 prefeitos eleitos neste ano, contra 183 em 2020. O PT também fez 290 vices, contra 206 do pleito anterior, e aumentou a quantidade de vereadores: de 2.663 para 3.129. Além disso, elegeu um prefeito de capital: em Fortaleza. Em 2020 o partido não elegeu ninguém nas capitais.
Apesar do compilado, Gleisi não conseguiu evitar o clima de tensão na reunião, nem as críticas ao governo, cobranças por uma reconexão com as bases e um reposicionamento da legenda. Em que direção? Cada um tem a sua, de acordo com um dirigente que esteve na reunião. “Voltar para as bases é um mantra, todo mundo fala, mas há diferentes maneiras de entender o que isso significa e, principalmente, há diferentes linhas políticas”, considerou Valter Pomar, dirigente da corrente Articulação de Esquerda, durante uma transmissão ao vivo na noite de segunda.
Também na segunda, correntes de fora do campo majoritário trataram de dissecar os números da eleição e chegaram a conclusões nada otimistas. Por exemplo: dos 69 prefeitos a mais eleitos pelo partido neste ano, 41 vão comandar cidades muito pequenas. Segundo análise de Pomar, na comparação de 2004 com 2020, ou seja, metade do governo Lula 3 com metade do governo de Jair Bolsonaro, “o desempenho parece ter sido melhor. Só parece”.
Além disso, Pomar lembra que, quando essa eleição começou, o PT governava não 183 cidades, mas 265. “Muitos prefeitos haviam entrado no PT. Então a rigor, nós caímos de 265 para 252”, disse em uma reunião com integrantes das alas mais à esquerda do partido, também realizada na segunda-feira. “Quando a gente analisa a eleição do ponto de vista nacional, eu entendo que o resultado para as esquerdas em geral e para o PT, em particular, não deve ser apresentado como uma vitória eleitoral. Claro que há derrotas eleitorais que são vitórias políticas. Quando a gente olhar o resultado nacional em conjunto, eu não acho correto falar em vitória eleitoral, nem em vitória política”, disse.
Na live, o ex-deputado José Genoíno (SP) defendeu uma avaliação mais precisa sobre o resultados das urnas, evitando euforias ou derrotismo. “Nós temos que nos afastar do derrotismo, ‘a esquerda morreu’, ‘a esquerda saiu derrotada’. E temos que nos afastar do oba-oba de achar que foi uma vitória política do governo. Que vitória política é essa do governo Lula em que o seu núcleo central, mais estratégico, sofre uma derrota política e eleitoral?”, questionou.