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Pague agora, receba depois: as big techs e seu produtos ‘versão alpha’

Nesta semana, a Apple lançou a versão beta do iOS 18.2 para testes por entusiastas e desenvolvedores, que queiram ver em primeira mão ao menos uma parte do Apple Intelligence em funcionamento. A disponibilidade antecipada de sistemas e aplicativos para testagem dos usuários é algo recorrente no setor tecnológico – e até desejável – antes da estreia oficial. Um fenômeno mais recente envolve uma etapa anterior, quando as empresas colocam à venda produtos que, apesar de testados, não estão prontos para comercialização, o que não raro causa irritação e decepção dos consumidores.

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Produtos como esses têm gerado reclamações de testadores experientes, como Marques Brownlee, que critica esse comportamento das empresas de tecnologia. Na prática, elas oferecem um produto inacabado, que vai sendo atualizado ao longo tempo, com a desculpa de ser uma versão alfa. Tudo certo, não fosse o fato de que faz o consumidor pagar pelo valor integral. Dave Lee, conhecido nas redes sociais por revisões tecnológicas em seus canais como Dave2D, queixa-se da falta de acabamento desses produtos colocados à venda ainda em fase de testes.

Apesar de trazer novidades já prontas para uso, como um novo botão dedicado para fotos e vídeos, chip A18 potente o suficiente para IA e melhorias na câmera, os novos iPhones 16 não deixam de se encaixar nessa categoria de versões alpha, já que a Apple lançou os novos modelos em 20 de setembro prometendo uma transformação na relação dos dispositivos com a chegada da inteligência artificial em seu ecossistema. Detalhe: o Apple Intelligence só deve começar a chegar aos usuários na próxima semana. Sim, começar. Porque as novas funcionalidades da Siri, assistente de IA da marca, não estão programadas para chegar aos smartphones neste ano.

Esse modelo de negócio “pague agora, receba quando pudermos entregar” também pode ser visto no setor automobilístico. Após ser apresentado em 2019 como a primeira picape elétrica e anos de atraso na produção dos primeiros exemplares, a Tesla lançou o tão esperado Cybertruck apenas no final de 2023 para os primeiros compradores. Feito de aço inoxidável e com um formato fora do padrão da categoria, o modelo tem sido uma dor de cabeça para o CEO Elon Musk desde que foi anunciado, pela dificuldade de produção e de reparo.

Após quatro tentativas de lançamento, o Cybertruck chegou com sua capacidade aquém do esperado em autonomia de bateria e problemas em algumas das peças, fazendo com que os modelos 2024, lançados há menos de um ano, passassem por cinco recalls. Um deles, em abril, chamou a atenção pela “inovação”. Resolvia um problema que fazia a pastilha do pedal do acelerador escorregar e ficar presa no acabamento interno, podendo fazer com que o veículo, com a peça presa, acelerasse ao máximo. A solução dos funcionários da Tesla foi prender a almofada do pedal com um rebite. Já o acesso ao software de direção totalmente autônoma no Cybertruck, presente em outros carros elétricos da marca, só começou a ser disponibilizado aos primeiros clientes no final do mês passado, mas apenas para quem pagou US$ 7 mil pelo serviço.

Apesar das críticas sobre a distribuição de produtos versão alpha, empreendedores do setor de hardware defendem a iniciativa, abraçando o imperfeito como parte do negócio. O fundador da Rabbit, Jesse Lyu, disse em um evento que, para ter êxito, é preciso que jovens empresas tecnológicas entreguem o produto o quanto antes para fazer frente às big techs, como Apple, Samsung e Google. “Se você é uma startup, é melhor enviar cedo, ponto final”, concluiu.

O gadget de IA da Rabbit, chamado r1, também é alvo de reclamações de testadores e consumidores pelas muitas falhas apresentadas no dispositivo. A companhia precisou lançar sua primeira atualização apenas uma semana após o lançamento dos primeiros aparelhos, visando incrementar o desempenho da bateria, entre outras melhorias.

Mas, nem sempre o público está disposto a esperar pelas promessas dos fabricantes dos produtos em versão alpha. Considerado uma das sensações do ano entre gadgets de IA, o broche com inteligência artificial AI Pin da Humane recebeu diversas críticas negativas de especialistas e testadores profissionais, que classificaram o dispositivo vestível como “inacabado”. Os contras desse aparelho tem pesado mais do que os prós, fazendo com que a Humane recebesse mais devoluções do que pedidos de venda entre maio e agosto. Em junho, apenas cerca de 8 mil unidades não tinham sido devolvidas, enquanto o número de aparelhos ainda nas mãos dos clientes caiu para perto de 7 mil até esta semana. Para reverter a crise, a fabricante reduziu o preço do produto, de US$ 699 no início do ano, para versões a partir de US$ 499, como forma de atrair clientes.

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