O triste fim de Maria Callas na pele de Angelina Jolie

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A 48ª Mostra Internacional de Cinema começou ontem com uma sessão de Maria, filme de Pablo Larraín, na Sala São Paulo, em tese o lugar ideal para abrigar a maior diva do canto lírico de todos os tempos, Maria Callas. Seria perfeito não fosse um pequeno detalhe: a escolha da atriz principal.

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A despeito da música e da direção de arte primorosas, é difícil atravessar as duas horas de filme por causa da interpretação de Angelina Jolie no papel de Callas. Não apenas pela dissemelhança entre atriz e cantora, mas sobretudo pela atuação inexpressiva, que não faz jus a uma das mulheres mais carismáticas da história, mesmo levando em conta que a personagem estaria em um momento em que sua estrela se apaga lentamente. Jolie tem culpa no cartório, mas o roteiro de Steven Knight não ajuda muito.

Uma pena, porque a história que se queria contar a última semana da vida de Callas na Paris de 1977 é bem interessante. Vivendo só com uma governanta e um mordomo em seu apartamento, Callas, a esta altura com 53 anos, havia se despedido dos palcos em dezembro de 1973, no Théâtre des Champs-Elysées, com uma voz bem distante daquela que conseguia passar por todos os registros, do agudo das sopranos ao grave de um contralto. Nesses últimos dias, alimentava um desejo de voltar a cantar ainda que sua voz já não fosse a mesma, e sua saúde, prejudicada por uma pesada automedicação, se mostrasse um claro empecilho.

Se as mudanças de humor da diva já eram bem documentadas quando ela estava no auge, nestes últimos dias elas ainda eram impactadas pelo abuso dos remédios, que traziam um efeito colateral perverso: a dificuldade de separar a imaginação da realidade. Um prato cheio, portanto, para uma boa atriz e um bom roteirista. Justamente as peças que faltaram no filme do diretor chileno, que às vezes parece mais preso à estética, com uma fotografia um tanto pretensiosa, do que à narrativa.

A atuação plana de Angelina Jolie – que não consegue imprimir fragilidade e tampouco a angústia da diva em seus últimos dias – se torna ainda mais problemática quando comparada às ótimas performances de Pierfrancesco Favino, como o mordomo Ferrucci, de Alba Rohrwacher, como a governanta Bruna, e de Haluk Bilginer, como o milionário Aristóteles Onassis.

Os melhores momentos vêm justamente das memórias dos encontros com Onassis, sobretudo quando o casal conhece o presidente John Fitzgerald Kennedy e sua mulher, Jackeline, que viria a se casar com o armador grego após a morte de JFK. Talvez até por ser essa uma história familiar a Larraín, que já a havia contado em outro filme que dirigiu, Jackie, de 2016.

O longa terá mais três sessões na Mostra, nos dias 18, 23 e 27 deste mês, e ainda não tem data de estreia no Brasil. Nos Estados Unidos, entra em cartaz em janeiro de 2025. Mas com tantos filmes bons para ver nesta Mostra, deixaria Maria para outro momento, a não ser que a intenção seja aproveitar o sistema de som da sala de cinema para ouvir boa música.

 

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