Flip tem dia de debate com autoras negras e reclamações de editoras
A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) abriu os trabalhos do auditório principal nesta quinta-feira com autoras negras falando da condição humana nas suas obras. Mediada por Adriana Ferreira Silva, a mesa contou com a camaronesa Leónora Miano, uma das expoentes da literatura francófona, que vê potencial na literatura que se propõe universal a partir do particular. “Nos meus romances, falo da condição humana, mas neles essa condição humana tem um rosto afrodescendente”, disse. Ela tenta afastar a ideia de que o processo de escravização foi uma questão econômica, se tratando como um sequestro. “Pessoas conheciam a voz delas, conheciam elas. Quero falar da dor dos que ficaram.”
Autora de Água de Barrela, a brasileira Eliana Alves Cruz acredita que há um projeto político de exclusão no Brasil, que ela chamou de projeto de solidão. “Precisamos fazer esse projeto dar errado”, defendeu. Cruz lembra que seu livro fala das famílias que se formaram e das relações não sanguíneas que se dão em consequência da diáspora. “A família estendida é uma noção muito africana”, disse.
Antes, na primeira mesa do dia, o escritor gaúcho José Falero contou a diferença de tratamento que recebeu após ter seu trabalho reconhecido. Por seu status literário, o autor negro costuma ser chamado para confraternizações em coquetéis frequentados pela elite, mas, “se aparece pai, primo, alguém da nossa estirpe que eles não conheçam, eles atravessam a calçada”, afirma. A poetisa carioca Bruna Mitrano também falou da cidade que exclui. Seja em Copacabana, no Rio, ou na Santa Cecília, em São Paulo, é comum ver “pessoas pulando cobertores como se não tivesse um ser humano embaixo”. (Folha)
As editoras independentes que participam da Flip reclamaram da organização, que modificou o espaço dedicado às suas exposições. Antes, os visitantes só precisavam sair da Tenda dos Autores ou do Telão e atravessar uma pequena ponte para chegar às bancadas dessas editoras. Neste ano, o espaço mudou para o Areal do Pontal, que fica do outro lado do rio, prejudicando o fluxo de visitantes e as vendas. Neste espaço, eles também são os últimos da fila, ficando depois de uma exposição, uma feira de economia criativa, expositores de artesanato e das barracas de comida. Em nota, a organização do evento disse que “o projeto arquitetônico e urbanístico da Praça Aberta deste ano foi elaborado para que todos os atores que ocupam esse espaço da Flip pudessem realizar suas atividades da melhor maneira possível”. (Estadão)