Morre Cid Moreira, um dos símbolos do telejornalismo brasileiro

O jornalista Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional, que apresentou por 27 anos. Foto: Acervo Globo

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O telejornalismo brasileiro perdeu nesta quinta-feira um de seus mais importantes símbolos com a morte de Cid Moreira, aos 97 anos, 27 deles comandando a bancada do Jornal Nacional, da TV Globo, líder absoluto de audiência no período. Ele estava internado em um hospital de Petrópolis, na Região Serrana do Estado do Rio, mas não resistiu a uma insuficiência renal crônica. Sua voz profunda, o olhar sério e a cabeleira – que migrou de grisalha para branca no decorrer dos anos – se tornaram presença familiar nos lares brasileiros, que aguardavam seu “boa noite”.

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Paulista de Taubaté, Cid estreou no rádio aos 17 anos em sua cidade natal, incentivado por um amigo, mas sua carreira só deslanchou em 1949, quando se mudou para São Paulo. Na capital, acumulava as funções de locutor na Rádio Bandeirantes e em agências de publicidade. Dois anos depois, transferiu-se para o Rio, então capital federal, como locutor na Rádio Mayrink Veiga, uma das mais importantes da cidade. Na mesma época fez as primeiras participações na TV. Apresentou seu primeiro noticiário, o Jornal de Vanguarda, da TV Rio, em 1963, e, em setembro de 1969, já na TV Globo, comandou com Hilton Gomes a primeira edição do Jornal Nacional, o primeiro telejornal brasileiro em rede nacional.

Ao longo dos 27 anos seguintes, apresentou cerca de 8 mil edições do programa e acumulou histórias inusitadas, como o fato de, aproveitando que o enquadramento da câmera só o mostrava da cintura para cima, vestir paletó, gravata e bermudas. Outra característica que se tornou célebre era a capacidade de ler à perfeição uma notícia sem absorver o que estava dizendo. Em um caso testemunhado por colegas na metade dos anos 1990, Cid chegou à redação comemorando a compra de um carro importado, que fecharia no dia seguinte. A última notícia que leu dava conta que o governo havia elevado substancialmente o imposto desses veículos. Encerrado o jornal, ele perguntou do que os colegas estavam rindo. Ao ouvir que um novo imposto quase dobraria o preço de seu sonhado carro, indagou, para surpresa geral: “Onde vocês viram isso?!”

Em 1996, passou o comando da bancada a William Bonner e Lilian Wite Fibe, já representantes de uma geração de editores-apresentadores, e se tornou leitor dos editoriais. Ao mesmo tempo, atuava no Fantástico, que lhe permitia adotar um estilo mais descontraído, em particular no quadro do ilusionista Mr. M.

Também nos anos 1990 começou a gravar salmos bíblicos e, em 2011, concluiu o projeto de gravar em CDs a leitura de todo o Livro Sagrado segundo a Nova Versão Internacional (NVI), adotada por igrejas evangélicas, o que se converteu em um enorme sucesso de vendas.

O presidente Lula lamentou a morte de Cid Moreira, destacando seu papel icônico no jornalismo brasileiro. Em uma publicação nas redes sociais, Lula descreveu Cid como “dono de uma voz única e poderosa”. Ministros do governo também prestaram suas homenagens. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a voz de Cid está imortalizada na memória dos brasileiros, enquanto Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, lembrou que Cid marcou gerações.

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