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Vitualmente banido dos Estados Unidos, Woody Allen escolheu a capital francesa como seu local de exílio e, de certa forma, sua musa. É o que se vê em Golpe de Sorte em Paris, destaque nas estreias desta quinta-feira e um de seus filmes mais sombrios. Um jovem escritor esbarra na rua com sua paixão adolescente, e uma chama se acende. Só que ela está casada, e o marido não é do tipo que vai deixar barato. Há poucos momento para rir, mas continua sendo um Woody Allen, mesmo falado em francês.

Com roteiro premiado em Cannes, A Substância, de Coralie Fargeat, conta a história de uma atriz madura (Demi Moore) que, sem papéis em Hollywood, comanda um programa fitness até descobrir que será trocada por uma apresentadora mais jovem. Graças a uma fórmula miraculosa, ela própria se torna a substituta (Margaret Qualley). O tratamento, porém, tem suas consequências. Fargeat não deixa dúvidas sobre quem é o vilão da história: o patriarcado, com seu etarismo e seus padrões de beleza irreais.

Um pouco mais leve é Sidonie no Japão, de Élise Girard, onde a sempre perfeita Isabelle Huppert vive uma escritora francesa em turnê de autógrafos na terra do Sol Nascente. Aos poucos, um romance começa a surgir entre ela e seu editor nipônico, mas, num “momento Dona Flor”, o fantasma de seu falecido marido (ou um delírio na sua cabeça) a faz questionar se está pronta para outro relacionamento.

A ausência dá o tom no brasileiro Quando Eu me Encontrar, escrito e dirigido por Michelline Helena e Amanda Pontes. Um belo dia a jovem Dayane vai embora sem maiores explicações, deixando para trás a vida pobre no Ceará, a mãe, a irmã mais nova e o noivo. Cada um vai reagir a esse luto sem morte de acordo com sua personalidade, revelando seus próprios dramas e a relação com a sumida.

Igualmente carregado de drama é Saudade Faz Morada Aqui Dentro, de Haroldo Borges. Não bastasse levar uma vida pobre na periferia, Bruno, de 15 anos, convive com uma doença degenerativa que o deixará cego, tornando ainda mais sérias as angústias da adolescência e as dificuldades socioeconômicas.

Malu Galli estrela Bocaina, de Ana Flavia Cavalcanti, Fellipe Barbosa. Ela vive Zulma, que vive em isolamento com a irmã Musk (a própria diretora Ana Flavia) na cidadezinha mineira que dá nome ao longa durante a pandemia. A harmonia e as rígidas regras da vida de ambas vão ser quebradas quando acolhem um estranho aparentemente doente (Alejandro Claveaux).

Quatro amigos de infância vivem de pequenos delitos, até que um golpe maior pode tirá-los dessa vida de crimes e pobreza. Para isso, precisam convencer atores a assaltar um banco imaginando ser um filme. O problema é que um policial corrupto e violento pode tirá-los dessa vida literalmente. Essa é a trama da comédia Passagrana, de Ravel Cabral.

Fechando o bloco de produções nacionais está o documentário Assexybilidade, de Daniel Gonçalves. O longa aborda um tema pouco discutido, a sexualidade de pessoas com deficiência, que lutam diariamente contra o preconceito e a invisibilidade.

Ainda na América Latina, Prisão nos Andes parte de uma história real: cinco dos piores torturadores da sanguinária ditadura de Augusto Pinochet são condenados a longas penas por seus crimes. Uma reportagem, porém, mostra que a prisão está mais para hotel de luxo, tamanhas as regalias. A possibilidade de serem transferidos para presídios comuns reacende o que há de mais desumano naqueles homens.

Para quem não vive sem tiros, explosões e canastrice, Nicolas Cage estrela Ligação Sombria, vivendo um esquisitão armado que invade o carro de um motorista (Joel Kinnaman) cuja esposa está em trabalho de parto. Conforme a noite de loucura e violência avança, uma dúvida vai surgindo: será que “esquisitão armado” é o suficiente para definir o passageiro indesejado?

Para fechar com alguma fofura, vem da China a animação A Menina e o Dragão, sobre a improvável amizade de Ping, uma pequena escrava órfã, com Long Danzi, um dos últimos dragões a escapar da perseguição pelos humanos.

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