Suspeita de fraude agrava descontentamento com regime de Maduro em bairros pobres

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Os protestos contra o resultado das eleições na Venezuela, que deram a vitória ao presidente Nicolás Maduro, seguem pelo país. As pessoas se concentram principalmente na capital Caracas. No programa #MesaDoMeio, a correspondente Sylvia Colombo conta que a manifestação de hoje está sendo pacífica, diferente do que ocorreu no dia anterior, quando ocorreu a derrubada de estátuas de Hugo Chávez e tiros de intimidação disparados por defensores do regime de Maduro. O descontentamento com o atual governo tem saído dos bairros de classe média e chegado aos de classe mais humilde, como Petare, um histórico bairro chavista, que demonstrou apoio aos candidatos de oposição no pleito de domingo. “Isso ajuda a compor esse quadro de fraude [eleitoral]”, pondera.

Colombo lembra que as estratégias do regime têm sido repetidas nessa eleição, como ameaçar as famílias de opositores e dificultar o registro do voto dos 25% da população, que moram no exterior. “A maior parte desses votos iriam para uma oposição, porque senão a maioria deles não teriam saído do país”, reflete.

A tomada das ruas pela população insatisfeita com a apuração das urnas e com o governo ocorre pela primeira vez desde o início do Chavismo, segundo o diretor de jornalismo do Meio, Pedro Doria. “A sociedade foi para as ruas e foi para as urnas com certeza de que a oposição iria vencer. Isso nunca tinha acontecido antes.” Para ele, as derrubadas de estátuas de Chávez repetem o ícone de queda de ditaduras usadas no Iraque, com Saddam Hussein. “Se a população ficar na rua, não sei se Maduro consegue ficar no poder”, projeta.

Pedro Doria lembra que as pessoas da oposição estão colocando as próprias vidas em risco para resistir a uma ditadura que está se fechando. “O que o Conselho Nacional Eleitoral fez na noite de domingo é algo completamente fora da norma de qualquer processo eleitoral. Eles simplesmente anunciaram um resultado fechado, sem nenhum detalhe sobre como estão os votos sessão a sessão”, conta. Para ganhar as eleições, Maduro teve de “rasgar a fantasia” e deixar de fingir que era democrático.

Para o editor executivo do Meio Leonardo Pimentel, a operação eleitoral venezuelana teve características “tipicamente suspeitas”. “O site do CNE caiu”, lembra, ressaltando que a confirmação do vencedor do pleito faltando 20% de apuração das urnas era incomum para uma margem de diferença relativamente pequena. “Nas últimas eleições do Brasil, era possível ver os números do TSE sendo atualizados momento a momento”, comenta, ao comparar o processo de apuração de ambos os países.

O regime de Nicolás Maduro tem mudado as estratégias para se manter no poder. Colombo afirma que o venezuelano está se preocupando menos com o verniz democrático e apostando em grupos armados “para quem o governo não só deu as armas, mas também a possibilidade de cometer delitos, como de estorção”. Por receber o benefício de cometer crimes, esses grupos têm apoiado Maduro, além da alta hierarquia militar, que recebe altos salários. Por outro lado, militares de baixa patente têm deixado a farda, em protesto ao regime.

A repórter especial Luciana Lima conta que Lula pediu a íntegra da nota do PT, que reconheceu a vitória de Maduro. Ela ouviu de assessores do presidente que Lula só soube do posicionamento do partido na manhã desta terça-feira e que ele também não foi consultado sobre o assunto. “A nota do PT chegou em um dia no qual Lula se dedicou em construir um posicionamento unificado com Colômbia e México em relação à Venezuela, que deve contemplar a exigência da apresentação das atas de urna”, afirma.

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