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Amorim embarca na sexta para Caracas, apesar de ‘desconvite’ a Fernández

As repercussões da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as eleições na Venezuela renderam um “desconvite” feito pelo presidente Nicolás Maduro ao ex-presidente da Argentina, Alberto Fernández. Até ontem, o argentino viajaria ao país para acompanhar como observador o transcorrer das eleições, marcadas para o próximo domingo. Só que ao provocar incômodo em Maduro devido a uma entrevista na qual endossou críticas de Lula, Fernández recebeu a mensagem do venezuelano pedindo que não viajasse mais ao país e que desistisse de cumprir a tarefa dada pelo Conselho Nacional Eleitoral.

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Apesar disso, a ida do assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, para observar o processo eleitoral na Venezuela, está mantida, segundo fontes do Planalto. Até o momento, um possível “desconvite” para Amorim não chegou ao Brasil, e o embaixador embarca na sexta-feira para Caracas.

Mesmo com os ruídos ocorridos na última semana, com Maduro recomendando “chá de camomila” para Lula e criticando o sistema eleitoral brasileiro, membros da diplomacia brasileira avaliam que Lula acertou em dar, no ano passado, um voto de confiança ao venezuelano. Em visita de Maduro ao Brasil, Lula disse que ele teria de reverter as “narrativas” negativas em relação ao tratamento que se dá aos opositores na Venezuela e garantir eleições limpas, como forma de mostrar ao mundo que o país vizinho não era uma ditadura.

‘Percalços eram esperados’

Na avaliação do governo, com a fala de Lula na época, o Brasil tonou-se parte da normalização do diálogo político e firmou que isso só se daria por meio de um processo eleitoral limpo. Diplomatas ponderam que não havia como ser diferente. “O desfecho disso a gente verá semana que vem, mas não tinha outro caminho”, disse um membro da diplomacia brasileira, em conversa com o Meio.

O governo avalia também que e ida de Amorim à Venezuela como observador não servirá para aguçar ainda mais o embate com Maduro. Pelo contrário, a aposta é que o embaixador e ex-ministro conseguirá “colocar a bola no chão” na relação entre os dois governos, seja quem vencer a eleição.

Desafios pela frente

A oposição na Venezuela tem se colocado bastante confiante em derrotar Maduro. As pesquisas mostram realidades muito discrepantes e, diante disso, o resultado ainda é tratado como incerto. Nesse contexto, a diplomacia brasileira já enxerga um desafio maior: lidar, em caso de vitória da oposição, com um longo período de transição, no qual Maduro poderá se mostrar ainda ditatorial, ou mesmo, em caso de vitória da oposição, ter que lidar com seis meses e meio de transição de um governo para outro, um período muito longo, sujeito a percalços que exigirão posições de líderes da região, principalmente, Lula.

A posse, de acordo com a Constituição venezuelana, ocorre somente no dia 10 de janeiro de 2025. Mas, de imediato, até domingo, quando ocorre a eleição e durante o período de apuração dos votos, tudo pode ocorrer. “A gente vai acompanhando. O desfecho a gente verá semana que vem. Já esperávamos percalços, é normal, mas nossa postura até aqui foi no rumo correto”, disse um membro do Itamaraty.

Embora Lula tenha dado o voto de confiança em Maduro durante a visita do líder venezuelano ao Brasil no ano passado, dois momentos foram decisivos para que essa postura se transformasse em crítica. O primeiro ocorreu quando a opositora Corina Yoris foi impedida de concorrer às eleições. Na época, o Itamaraty divulgou uma nota afirmando que o impedimento da inscrição de Corina Yoris, não era “compatível com o Acordo de Barbados”, firmado em 2024, no qual a Venezuela se comprometia em realizar eleições com a participação da oposição. Também na ocasião, a Venezuela rebateu, acusando o Brasil de ser “intervencionista” e que o texto parecia “ditado pelos Estados Unidos”. Chamada a dar explicações, a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, conversou com integrantes do governo venezuelano sobre a situação e não houve, na época, qualquer tipo de reprimenda ao Brasil.

O outro momento foi na segunda-feira, quando Lula disse em uma entrevista à agências internacionais que se viu assustado com a ameaça feita por Maduro de um possível banho de sangue caso ele saísse derrotado pela oposição. Maduro reagiu sugerindo “chá de camomila” para os assustados. Nesse caso, a diplomacia brasileira preferiu não reagir institucionalmente.

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