Samba e encontros improváveis marcam a largada da campanha de Brito à Presidência da Câmara

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Samba, música sertaneja e axé. Jantar regado a vinho e uísque rolando. Apoios explícitos, outros nem tanto. Conversas ao pé do ouvido, outras esfuziantes e nada discretas. O motivo oficial da festa era comemorar os aniversariantes do mês de julho da bancada do PSD. Eram seis aniversariantes. Alguns nem compareceram, como o deputado Gilberto Nascimento (SP), por exemplo.

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Mas a estrela da festa, que recebia os convidados na entrada e posava para fotos, era Antônio Brito (PSD-BA), e não estava aniversariando. Ele é o pré-candidato à Presidência da Câmara escolhido pelo presidente do partido, Gilberto Kassab (SP), que, incessantemente, trabalha nos bastidores articulando apoios. “Kassab é um grande articulador. Ele conversa lá e cá e me colocou na marca do pênalti”, disse Brito, ao Meio, saltitante de alegria.

O PSD fechou um grande restaurante de Brasília para o convescote, chamou o sambista Dudu Nobre e a cantora Gil, da Banda Beijo, para animarem a festa, que foi prestigiada por um leque ideológico diverso. “Aqui é largada da campanha”, comentou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Rosário é candidata a prefeita de Porto Alegre e é o nome do PT com maior interlocução com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ela disse que também vai ao que será promovido nesta quarta-feira pelo deputado Elmar Nascimento (União-BA), que também tenta se viabilizar como candidato ungido pelo alagoano. “Aqui se articula a candidatura, tem também o segundo turno”, ponderou ao Meio.

E Kassab não fez segredo: “Anota aí, Brito será o próximo presidente da Câmara e será um grande presidente”, disse ao Meio. “Ele é uma pessoa muito reta e vai saber ser isento”. O entusiasmo foi acompanhado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA). “Eu estou aqui para pedir voto para Brito”, disse.

O sambista fez os agradecimentos ao abrir o show: “Alô Kassab, Alô Brito”! E só citou o nome dos aniversariantes do mês depois de avisado por uma assessora, bem na hora de cantar os parabéns em ritmo de samba.

Encontros improváveis ocorriam por toda parte. O deputado Ricardo Salles (PL-RJ), aquele que sugeriu “passar a boiada” quando era ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro (PL-RJ), conversou demoradamente com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Segundo assessores, falaram de amenidades. Salles disse que é amigo de Britto e que era importante estar na festa nesse momento. Ele disse ainda que não pretende ir à festa de Elmar, marcada para hoje.

Além de Lewandowski, também estiveram o ministro da Defesa, José Múcio; da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos; da Pesca, André de Paula; do Trabalho, Luiz Marinho; dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho; das Cidades, Jader Filho, e o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que chegou após a saída do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), evitando, assim um encontro com o alagoano. Os dois não se falam e Lira já deixou isso público.

Padilha chegou já afastando a ideia de que o governo terá um candidato nas eleições. E usou como argumento a medalha “dos três is”, “imorrível, imbrochável e incomível”, que Brito recebeu de Bolsonaro na semana passada. Ao cumprimentar o baiano, já cobrou jocosamente: “Cadê a medalha?”. Minutos antes de Padilha chegar, o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), já tratava de esclarecer: “O governo não tem e não terá candidato, como ocorreu na última disputa. Vamos aguardar uma definição do cenário para reforçar isso publicamente”, disse Randolfe Rodrigues. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também reforçou a ideia ao chegar à festa.

Lira aproveitou o encontro para também conversar, ao pé do ouvido com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e com o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ). O alagoano vai se encontrar hoje com Bolsonaro e deve falar sobre a sucessão na Câmara. Lira, a princípio, é visto como apoiador de Elmar Nascimento (União-BA), mas ainda não oficializou sua posição. Lira quer anunciar o seu candidato em agosto. “Até lá, ele quer sentir se a candidatura do Elmar vai mesmo se viabilizar”, disse o deputado Danilo Forte (União-CE)

Alguns bolsonaristas saíram mais cedo do evento. “Ainda vou na festa do Zé Trovão”, informou o deputado Ivair Vieira de Melo (PP-ES), sobre a festa que o deputado do PL de Santa Catarina estava oferecendo perto dali. Melo minimizou a presença de tantos deputados e a articulação de várias vertentes políticas. “Onde tem comida, todo mundo vai. Não tem nada a ver com apoio. Eu estava com uma fome danada”, disse ao Meio.

A presença do deputado Luciano Bivar (União-PE) também chamou a atenção. Bivar presidiu o União, partido de Elmar Nascimento, até o início do ano e entrou em uma disputa fraticida com o atual presidente da legenda, Antônio Rueda, pelo controle da legenda. O pernambucano acabou perdendo a disputa e quase foi expulso do partido após suspeitas de ter mandado incendiar casas da família de Rueda. Bivar compareceu à festa, mas fez questão de dizer que apenas acompanhava o ministro da Pesca, André de Paula, que é do PSD de Pernambuco e um defensor assíduo de Brito como presidente da Câmara. O ministro elencou várias razões para apoiar a candidatura e disse não acreditar que a proximidade de Brito com o governo possa atrapalhar seu desempenho.

Além de Brito e de Elmar Nascimento, também são cotados os nomes de Marcos Pereira (Republicanos-SP), Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL) e Doutor Luizinho (PP-RJ) para a disputa. Todos eles passaram no jantar.

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