Críticas ao mercado, bênção a Haddad e aceno a Tarcísio: os destaques da entrevista de Lula

O presidente Lula deu entrevista ao UOL sobre assuntos como gastos do governo, relação com o Congresso e sucessão no BC
O presidente Lula deu entrevista ao UOL sobre assuntos como gastos do governo, relação com o Congresso e sucessão no BC
O presidente Lula deu entrevista ao UOL sobre assuntos como gastos do governo, relação com o Congresso e sucessão no BC

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O presidente Lula falou durante uma hora e dez minutos com jornalistas do UOL, em Brasília, sobre assuntos como a taxa básica de juros, os gastos do governo, sua confiança no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua relação com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e possível adversário nas eleições presidenciais de 2026. Disse que escolherá um presidente do Banco Central para o Brasil, não para o mercado financeiro. Prometeu afastar Juscelino Filho do ministério das Comunicações se a denúncia de corrupção que pesa sobre ele levá-lo a ser indiciado na Justiça. Defendeu as alianças de seu governo no Congresso e cobrou pedido de desculpas de Javier Milei, presidente da Argentina, pelas “bobagens” que disse. Lula questionou a necessidade de cortar gastos, o que fez o dólar comercial subir para R$ 5,52 imediatamente, com alta de 1,13%, maior cotação desde janeiro de 2022. Leia a seguir trechos da entrevista.

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Gastos do governo

“Nós queremos fazer política social que permita às pessoas crescer, queremos saber se o gasto está sendo bem feito, e o dinheiro está sendo usado para melhorar o país, estamos fazendo análise de onde tem gasto exagerado, onde tem gasto que não deveria ter, onde tem gente recebendo que não deveria receber. Sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando a necessidade de manter política de investimento.”

Corte de despesas e reforma tributária

“O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão.”

Reforma tributária

“Dá para consertar isso. Teremos uma nova política tributária ainda este ano. O Brasil muda de padrão com a reforma tributária. O ponto é termos responsabilidade, não podemos gastar mais do que arrecadamos.”

Autonomia do Banco Central

“Não venham com chorumela para mim, como diria Fernando Henrique Cardoso. Fui presidente por oito anos e o [Henrique] Meirelles tinha total autonomia. A pergunta é: com a inflação a 4%, o Banco Central tem necessidade de manter a taxa básica de juros a 10,5% ao ano? O BC tem noção de que as pessoas estão com dificuldade de investir?”

Próximo presidente do BC

“Não indico o presidente do BC para o mercado, indico para o Brasil, ele terá que tomar conta dos interesses do Brasil. E o mercado terá que se adaptar a isso.”

Críticas ao mercado financeiro

“Vocês acham que a [Avenida] Faria Lima tem alguém que quer melhorar a vida do Brasil mais do que eu? Vamos ser francos? Pensam no lucro, e o país tem que ter alguém que pensa no povo.”

Base parlamentar do governo 

“Essa aliança [com partidos da base como União Brasil] está me permitindo governar este país. Não do jeito que eu queria, se eu tivesse 300 deputados seria muito mais fácil. Mas o [José] Sarney teve, 306 deputados e 23 governadores, e não teve tranquilidade para governar. Ainda diminuíram o mandato dele, de seis para cinco anos. Essa maioria é relativa. A composição que a gente faz não atinge a totalidade do partido, atinge uma boa parte da bancada. Mas é importante lembrar que até agora não perdemos nada vital para o governo no Congresso Nacional. Conseguimos aprovar uma política tributária que estava há 40 anos para ser votada, e nós conseguimos aprovar nesse Congresso. O milagre da política é esse, a arte de viver democraticamente na adversidade e a arte de compreender que ninguém é obrigado a acatar tudo o que o governo quer.”

Relação com Congresso

“Não perco um momento do meu sono. Durmo todo santo dia sabendo que estou fazendo meu melhor. Não brigo com Congresso. Tudo isso faz parte do jogo político. A gente não conversa só com quem a gente gosta.”

Conversa com ministro acusado de corrupção

“Encontrei o Juscelino [Filho, ministro das Comunicações] no Maranhão. Falei para ele ‘se te indiciarem, você terá que mudar de posição. Enquanto não houver indiciamento, você continua como ministro’.”

Aceno a Tarcísio de Freitas

“Não vou julgar o Tarcísio. O bolsonarismo tem chance de ter quatro candidatos, não apenas ele. Tem o Tarcísio, o Zema, o Caiado e o Ratinho, governadores de estados importantes que podem ser candidatos, não sei se serão. Tenho pouca relação com Tarcísio. Espero que ele não tenha preocupações de estarmos juntos em alguns eventos. Vou a São Paulo no sábado, anunciar faculdade na Zona Leste, anunciar instituto federal em Santo Amaro, inaugurar instituto em Osasco, em Diadema, em Mauá, em Carapicuíba, em Cotia, em Franco da Rocha, em Ribeirão Preto. Se ele quiser estar junto, vai estar convidado.”

Sobre Jair Bolsonaro

“Como eu defendo a presunção de inocência, quero que ele seja julgado da forma mais correta possível. Quero que o veredito seja em função do crime que ele cometeu. Eu não desejo mal para nenhum adversário. Eu não desejo evitar disputa política com nenhum adversário. (…) O que eu defendo para ele eu defendo para mim: que ele tenha direito à presunção de inocência, que ele tenha direito de se defender e que ele seja ouvido. É só isso que eu defendo, era o que eu queria para mim, porque eu não tive. Você sabe que eu fui condenado e o crime que eu cometi foi fato indeterminado. (…) Eu quero que ele seja julgado corretamente, com direito de defesa e que prevaleça aquilo que a justiça encontrar. Que ele tentou dar o golpe, tentou, isso é visível.”

Confiança em Haddad

“Haddad é uma pessoa muito importante para mim. Tem 100% da minha confiança, o Rui [Costa, ministro da Casa Civil] tem 100% da minha confiança.”

Cobrança a Javier Milei

“Não sei quantos estão lá [foragidos do 8 de janeiro na Argentina], mas uma parte já está condenada. Se eles não quiserem vir, que sejam presos lá. Estamos tratando da forma mais diplomática possível. Não conversei com o presidente da Argentina porque acho que ele tem que pedir desculpas para mim. Ele precisa pedir desculpas, falou muitas bobagens.”

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