Quando um anônimo Chico Buarque cantou para uma plateia vazia no Rio de Janeiro

Chico em 1966, ano de lançamento do seu primeiro álbum e do show para os alunos do Colégio Santo Inácio
Chico em 1966, ano de lançamento do seu primeiro álbum e do show para os alunos do Colégio Santo Inácio
Chico em 1966, ano de lançamento do seu primeiro álbum e do show para os alunos do Colégio Santo Inácio

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Aquela tarde de 1966 navega na memória do economista carioca Paulo Gadelha, de 75 anos. Foi quando organizou com amigos o show de um cantor e compositor desconhecido chamado Francisco Buarque de Hollanda. Uma apresentação para poucas pessoas, voz e violão, no colégio onde estudavam, o Santo Inácio, tradicional escola de classe média e alta no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Ontem, dia em que Chico completou 80 anos, Gadelha mergulhou no passado. Abaixo, seu relato para os leitores do Meio:

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“Eu tinha 17 anos e era presidente do grêmio estudantil do Colégio Santo Inácio. Junto com a diretoria, organizávamos festas e competições esportivas. Decidimos fazer um dia de música e organizamos vários shows, apresentados pelo Luís Carlos Miele, que aceitou nos ajudar. Tocaram ninguém menos que Ronaldo Bôscoli, Billy Blanco, Ellen de Lima, Antônio Adolfo, maestro Érlon Chaves e aquele rapaz que ninguém conhecia: Chico Buarque. Lembro bem dele entrando mudo e saindo calado. Ainda jogou bola com a turma no campo da escola antes de ir embora. Sem vaidade nenhuma. Simplicidade absoluta.”

“A única recomendação que recebemos de sua produtora na época, que nos procurou oferecendo a apresentação ao saber que estávamos organizando os shows, foi esta: que cuidássemos das bebidas e não nos preocupássemos com cachê, pois o show seria de graça. Confesso que não conhecia o Chico, não sabia nada sobre ele. Mas lembro com toda a clareza as palavras que a produtora me falou: que se tratava de um jovem compositor, mas que seria, sem nenhuma dúvida, uma celebridade no futuro. Guardei bem essas palavras.”

“Chico entrou e foi direto para a coxia. Depois se apresentou no palco. Um show simples, sem muita presença, afinal não era um artista famoso. Tiramos uma foto dele cantando, mas o fotógrafo, que trabalhava na clínica do Ivo Pitanguy, fotografando os pacientes antes e depois das cirurgias, infelizmente perdeu tudo. Como a única recomendação era que não faltasse bebida, eu, como presidente do grêmio, nem assisti ao show. Minha preocupação era manter abastecido o estoque de bebidas, que acabava muito rapidamente. Do repertório, sei apenas que ele cantou ‘A Banda’.”

“Um colega do colégio, Afonso Ferrario, tinha uma banda de bossa nova chamada Tema Trio, eles fizeram a abertura. Tenho a impressão de que este show no Santo Inácio foi um dos primeiros do Chico no Rio, porque ele começou a carreira em São Paulo, onde estudava arquitetura. Apesar de tudo, não me arrependo de não ter assistido. Eu tinha que supervisionar tudo, desde a entrada da plateia até problemas técnicos dos instrumentos musicais. Mas o mais importante era mesmo que as bebidas não acabassem. Tinha de tudo, até um whisky de boa qualidade. Ballantine’s? Talvez. O Chico bebeu bem.”

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