Para neutralizar direita radical, Renan e Kassab articulam acordo para sucessão no Legislativo

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O presidente do PSD, Gilberto Kassab (SP), tem se dedicado a reuniões semanais em Brasília para costurar um acordo com caciques do MDB. O objetivo é que as duas legendas atuem em conjunto nas negociações envolvendo a sucessão da Câmara dos Deputados e do Senado. Um deputado do PSD disse ao Meio que o MDB é o maior aliado do PSD nessa sucessão e que as conversas estão ocorrendo regularmente.

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Se na Câmara Kassab tem o objetivo de fazer de Antônio Brito (PSD-BA) o sucessor de Arthur Lira (PP-AL), no Senado, a união com o MDB pode até levar o apoio para Davi Alcolumbre (União-AP), pré-candidato que já tem o compromisso de apoio do atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A ideia dos líderes do PSD e do MDB é tentar disputar a hegemonia no campo da direita e isolar os deputados e senadores da direita mais radical, identificada com o bolsonarismo. Vencer esse grupo de parlamentares, que é principalmente concentrado no PL, é o objetivo dessa possível aliança liderada por Kassab e Renan. E ganhar deles significa impedir que eles ocupem cargos importantes na Mesa Diretora das duas Casas legislativas. “A ideia é unir as duas forças e dessa forma não perder para os ultradireitistas”, disse, em reservado, um importante interlocutor de Renan.

Unidas, as duas bancadas somam 26 senadores e 87 deputados. No Senado, a aliança superaria fácil o PL, que tem 13 senadores. Mas na Câmara a força do PL é a maior da Casa, com 96 deputados, o que torna o caminho de Brito mais tortuoso no enfrentamento do candidato a ser apoiado por Lira.

Hoje, o nome favorito de Lira é o do deputado Elmar Nascimento (União-BA), mas, diante da percepção de pouca adesão ao nome do baiano, deputados já falam que Lira tem um plano B: lançar o nome de Hugo Motta (Republicanos-PB) ou de Doutor Luizinho (PP-RJ). No caso de Motta, que é aliado de primeira hora de Lira, os planos esbarram na intenção do Republicanos de lançar o nome do atual vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP). Já Doutor Luizinho teria um potencial maior de angariar votos tanto na direita quanto no centro.

As eleições ocorrem em 1º de fevereiro do ano que vem. As votações são secretas e, por isso, muitas vezes acaba valendo mais o contato com cada parlamentar que o posicionamento do partido.

A conversa entre PSD e MDB, segundo interlocutores das duas legendas, surgiu em outubro do ano passado, quando Kassab procurou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), no gabinete no Senado. O presidente do PSD, na época, estava motivado a articular uma candidatura do emedebista para enfrentar Alcolumbre, que já era o nome mais falado para substituir Pacheco. Kassab, no primeiro encontro, levou uma proposta de apoio mútuo, ou seja, o PSD levaria para uma eventual candidatura de Renan à Presidência do Senado os votos de pelo menos 14 senadores. Só o presidente do Senado estaria liberado para votar em Alcolumbre, devido à dívida que o mineiro tem pelo apoio do amapaense à sua eleição, em 2021.

Renan, por sua vez, levaria apoio do MDB a Brito na Câmara. Membros do PSD dizem, em reservado, que essa primeira ideia de candidatura do alagoano não prevaleceu nas conversas e, agora, os esforços são mais de aproximação com Alcolumbre. Para isso, contam com a ponte a ser feita por Rodrigo Pacheco. Já pessoas próximas a Renan dizem, também nos bastidores, que não se pode abandonar a candidatura do emedebista que teria vencido resistências internas no MDB para ser o nome de consenso para o Senado.

Renan é o maior rival de Lira na política alagoana e adoraria ver o candidato apoiado pelo atual presidente da Câmara derrotado. Desde o primeiro encontro com Kassab para tratar do assunto, Renan tem com o presidente do PSD encontros regulares, conversas, jantares fora do Senado, reunindo outros caciques do MDB como José Sarney (AP) e Eduardo Braga (AM). Um dos jantares em que a aliança e a sucessão na Câmara foi tratada ocorreu há cerca de dois meses na casa do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.

Nesta terça-feira, enquanto a extrema direita se ocupava de convencer Lira a não tirar da pauta o PL antiaborto e ouvia do presidente da Câmara que a proposta não iria mais ser votada, Renan, Kassab e Eduardo Braga tiveram outro jantar. As negociações seguem.

 

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