CPI da manipulação de jogos e apostas ouve presidentes do São Paulo e do STJD

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura acusações de manipulação em jogos do futebol brasileiro ouviu, nesta quarta-feira, os presidentes do São Paulo, Julio César Casares, e do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Jose Perdiz, além do procurador-geral do STJD, Ronaldo Botelho. As perguntas e as respostas se concentraram nas denúncias do dono da SAF Botafogo, John Textor, que afirma haver uma rede de manipulação de jogos que interferiu nos resultados da última temporada. 

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Primeiro depoente desta quarta-feira, Casares teceu críticas veladas a Textor, mas disse esperar pelas provas das acusações do empresário. Casares chegou a dizer “que é muito fácil colocar (as derrotas) na conta da arbitragem”, lembrando que o alvinegro carioca chegou a ter vantagem superior a 10 pontos sobre o segundo colocado no último Campeonato Brasileiro, do qual não se sagrou campeão. 

Na ocasião, Textor, crítico contumaz da arbitragem brasileira, declarou que havia um complô para tirar o título do Botafogo. O cartola do tricolor ainda lembrou que o dono do futebol botafoguense realizou cinco trocas de treinador. “O Textor jogou uma bomba pela via equivocada, não precisava desse carnaval todo”, disse Casares, que sugeriu ao americano que se atente ao papel de dirigente. Outro ponto debatido junto ao cartola paulistano foi o advento das Sociedades Anônimas do Futebol, as SAFs, modelo que atualmente gere Botafogo, Cruzeiro e Vasco, por exemplo. 

Procurador-geral do STJD e ex-presidente da Corte, Botelho também esteve presente na comissão e esclareceu alguns procedimentos, como quando denúncias são apresentadas à Justiça desportiva. Conforme explicou, há uma dificuldade em atestar combinação de resultados, sobretudo em partidas de futebol, onde ao menos 22 atletas estão envolvidos. “A gente recebe relatórios que são feitos de forma subjetiva, com auxílio de inteligência artificial, que podem e devem ser questionados. Alguns falam ‘o goleiro não saiu de forma adequada’ ou ‘o atacante deixou de correr apropriadamente’, o que é difícil de se atestar”, pontuou. 

A CPI já ouviu Textor duas vezes – uma delas em caráter reservado, quando o dono do Botafogo apresentou as supostas provas do que tem denunciado como manipulação de resultados –, além de ter recebido o árbitro da Terceira Divisão carioca Glauber do Amaral Cunha e os diretores da CBF Júlio Avellar, Eduardo Gussem e Hélio Santos Júnior. Presidida pelo senador Jorge Kajuru (PSD-GO), a CPI foi instalada em abril e deve se encerrar apenas em outubro.

Perdiz citou exemplos de jogadores que chegam a depor, mas explicam que estavam com a alimentação prejudicada, atuaram contundidos ou mesmo com algum problema de saúde. Sobre as denúncias de Textor, disse que recebeu as queixas e supostas provas do dono da SAF Botafogo, mas que os termos de sigilo que o americano pediu inviabilizaram uma análise mais rápida da questão. 

Ao Meio, Botelho disse que não há suspeitas de manipulação nas Séries A e B do Brasileirão neste ano, inclusive por parte de investigadores envolvidos na Operação Penalidade Máxima. “O que tenho conversado com o Ministério Público de Goiás, e com o Gaeco, é que, até pelos efeitos da operação, no ano passado, não houve qualquer tipo de denúncia ou mesmo de apuração em curso com relação ao campeonato deste ano”, esclareceu. A atuação das casas de apostas, que sequer tinham registro ou sede no Brasil, também é monitorada pela Justiça desportiva, já que a regulamentação ainda está sendo viabilizada pelo Estado brasileiro.

Botelho e Perdiz também abordaram a profissionalização da arbitragem brasileira já que, atualmente, os árbitros não têm remuneração fixa, apitando jogos como uma espécie de “bico”, algo complementar à renda. “Já existe a lei”, argumentou Perdiz. “Inexiste uma regulamentação, mas se houver uma, deve-se pensar algo em torno das dimensões territoriais do país, uma vez que o futebol do Centro-Sul tem especificidades que não necessariamente são as mesmas no Norte-Nordeste”, finalizou, acrescentando que olhar para os quadros de arbitragem ajuda a aumentar a confiança dos campeonatos – e a afastar contraventores do esporte.

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