Com humor, Lula rebate “bronca” em ministros e minimiza atritos com o Congresso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou de bom humor ao café da manhã com jornalistas. No primeiro gesto, chamou seu fotógrafo, Ricardo Stuckert, de “o mais puxa-saco da imprensa” que ele já viu no mundo. Depois, disse que ele estava “bem mais elegante” que um repórter que ele sabe ser sedentário. Lula ainda caçoou de um outro jornalista, amigo de longa data, dizendo que não tinha o reconhecido e se perguntado: “quem é aquele velhinho?”
Embora preze pela descontração como forma de seduzir seus interlocutores, o tom de “brincadeira” do encontro de hoje tinha um propósito bem definido. Pouco antes, ao receber a seleção das notícias diárias, Lula quase não acreditou e demonstrou sua contrariedade com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) do Planalto, Paulo Pimenta.
O destaque era a “bronca” pública que ele havia dado no vice, Geraldo Alckmin e nos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Rui Costa (Casa Civil) em seu discurso no dia anterior, e quase nada sobre os anúncios de créditos do programa Acredita, para tentar destravar a economia e atender a faixa de classe média com financiamentos.
E foi esse o motivo de Lula ter pedido hoje para que a conversa com os repórteres fosse transmitida ao vivo. O presidente queria garantir que tudo que ele falasse no encontro fosse divulgado. Não queria correr o risco de que a reclamação sobre as manchetes não viesse a público.
Com transmissão ao vivo, Lula queria desfazer a bronca, e logo no início do café Pimenta se ocupou de fazer a reclamação: “Qualquer pessoa que estava lá percebeu que se tratava da forma generosa e carinhosa que o presidente Lula normalmente usa com as pessoas que ele quer bem”, disse o chefe da Secom, que fez questão de classificar como “recursos de retórica” o que havia sido chamado de reprimenda pela imprensa.
Só que o próprio governo reconhece que Lula é um bom comunicador e sabe tirar das palavras e do tom o que quer da política. Interlocutores do presidente rechaçam a ideia de que bronca era séria, mas, nos bastidores, admitem que a reprimenda pública aos ministros e ao vice era um recado para outra pessoa. “Era uma brincadeira para atingir alguém, isso sim”, tomou como aceitável um interlocutor de Lula, após o café.
Mas, recado para quem? No último domingo, um dia antes da cobrança, Lula havia se encontrado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em uma conversa que ele fez questão de enfatizar hoje ter tido um tom informal. E a repreensão da segunda cobrava justamente agilidade das pastas para a articulação com o Congresso.
“O Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais. O Haddad tem que, em vez de ler um livro, perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington [Dias], o Rui Costa, passar maior parte do tempo conversando com bancada A, com bancada B”, disse Lula.
Se pensarmos na lógica que predominou no primeiro ano do governo e que rege partidos do Centrão, liderados por Lira, a agilidade cobrada por Lula tem uma conotação bastante específica: não segurar as emendas indicadas pelos deputados e senadores, para, em troca, fazer andar a pauta do governo no Congresso.
Durante o encontro com a imprensa, Lula chegou a admitir que precisa tomar cuidado com as palavras. “Uma palavra mal colocada cria uma semana de especulação”, disse Lula. Ele se referia à crise que envolveu a Petrobras no mês passado, depois que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez críticas públicas ao presidente da estatal, Jean Paul Prates. Mas o conselho serve também serve para o próprio presidente que vem tentando lançar luz sobre os feitos do governo.
Hoje, Lula fez questão de minimizar os conflitos com o Congresso: “São ‘coisas normais da política’. A gente não vai viver em uma eterna briga. Porque se você optar pela briga não aprova nada. O país é prejudicado, vamos conviver com todo mundo”, disse.