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Esqueça a positividade, pode ser triste no Natal

Vem cá que hoje a gente vai falar de Natal. Mas não sob a lente encantadora, embrulhada num papel reluzente não. Natal na sua realidade obscura, não cheia de luzinha e pó de pirlimpimpim. Natal é triste. Natal é um saco. É uma época com atmosfera deprimente. Ano Novo não fica atrás. Quer uma novidade? Ninguém tem obrigação de estar feliz e nem de ser grato pelo ano que passou.

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Fica aqui meu grande caguei pra gratidão de fim de ano. O período supostamente mágico, que abrange o Natal, o Ano Novo e, infelizmente, meu aniversário, é frequentemente marcado por intensas pressões psicológicas. Essa pressão, combinada com a positividade tóxica das redes sociais, a corrida para concluir as tarefas pendentes e as inevitáveis reuniões familiares, pode resultar em algo que podemos chamar de “depressão natalina”. É uma síndrome alimentada pela melancolia acentuada durante as festividades. Em situações assim, buscar ajuda é fundamental sim. Terapia, ou até mesmo medicação, dependendo da avaliação de um profissional de saúde, pode fazer toda a diferença.

É hoje que eu convenço vocês ou a passarem o Natal sozinhos ou a acolherem sua família direito.

A finalização do ano não passa de uma mera convenção humana para conseguirmos registrar a passagem do tempo. 31 de dezembro e primeiro de janeiro não tem lá tanta importância assim. É só… Mais uma data.

Mas a pressão social que se coloca em cima dessas datas e das representações dela, de ter que mostrar seus sucessos, de foto com família, família completa, arrumada, a comparação com outras pessoas, os influenciadores, tudo só soma para a enorme agonia e melancolia da autocobrança que pode ser um quadro psicológico. Pode ser que seja depressão natalina mesmo.

Não to diagnosticando você não, nem afirmando que toda a melancolia dessa época seja depressão natalina. Quero que saiba que sim, essa depressão existe e é um tipo de transtorno afetivo sazonal. Não porque tem data pra acabar, mas porque se intensifica em razão de uma data específica. Mas a questão é que mesmo que você não tenha depressão natalina, às vezes você sofre no fim do ano pelos seus próprios motivos. E tá tudo bem. Não precisa se pressionar para ter um encontro familiar divertido.

Até porque encontrar a família nem sempre é o melhor negócio, também. Vai ver você é LGBTQIA+ e sua família, preconceituosa. Você tem aquele tio que insiste em fazer piada homofóbica e você tem que ficar quieto. Ou você é gordo e aproveitar a ceia é um pecado ao olhar da família. Ou você é hétero mesmo, mas sua família invalida suas conquistas porque você fugiu um pouco de algum padrão pré-estabelecido de normal. Nem toda família é bacana. Vai ver a sua é uma dessas, e você nem é uma minoria mas alguém da sua família faz e você fica em silêncio conivente com o ambiente tóxico. Ou vai ver você perdeu alguém. Alguém que mudava o climão do fim do ano. Que tornava tudo mais mágico e, agora, essa pessoa não está mais aqui. Vai ver não foi nem uma pessoa só, vai ver foram várias. E tudo fica ainda mais melancólico.

A pressão ainda pode se manifestar na própria família. Ao buscar acolhimento, muitas vezes, a resposta pode ser com positividade tóxica. Frases como “Aiii, que barra, mas podia ser pior né?! Olha lá sua prima Gabriela, coitada” ou “Vish, que papo bad vibes”, “Pensa positivo!!! Vamo!! Cabeça pra cima!” ou “Tudo acontece por uma razão” são exemplos dessa toxicidade.

Arrisco dizer que quase todo mundo, no fim do ano, tá na merda e precisando de acolhimento. Positividade tóxica não é a resposta. Ignorar a tristeza, o luto e as dificuldades do outro não é eficaz. Exigir que alguém esteja feliz o tempo todo é prejudicial à saúde mental. Em vez disso, é necessário reconhecer e respeitar os sentimentos de cada um, oferecendo apoio genuíno e compreensão, sem forçar uma máscara de felicidade constante.

Mais uma vez, as redes sociais. O lugar onde todos são felizes, e a tristeza é relegada ao silêncio porque, afinal, tristeza não gera curtidas. O que recebe likes são jantares felizes com amigos, brindes, um tintin de felicidade exacerbada que, na realidade, não reflete a complexidade da experiência humana. Ninguém é feliz o tempo todo porque é natural do ser humano ficar estressado, cansado e preocupado. Falar sobre os sentimentos negativos é necessário, é saudável e ajuda a criar resiliência. E pra isso é preciso acolhimento. Ok, talvez no ano passado sua prima Gabriela tenha escolhido uma meia estranha para o amigo secreto, mas se ela decidir falar contigo durante as festas de fim de ano, que tal ouvir? Oferecer acolhimento é mais do que um gesto amigável; é reconhecer a importância de compartilhar experiências e emoções genuínas.

O fim do ano é uma semana. Uma data. A pressão para bater metas e comprar presentes é uma construção social que não mede as nuances da vida. Não é um medidor de sucesso. Afinal, o que define sucesso? Se cercar de presentes em sacolas reluzentes igual aquele amigo no inst? Comparar-se com outros nesse período é uma armadilha que, muitas vezes, nos leva ao abismo da autoavaliação negativa. Uma autocrítica, ainda por cima, falha. O verdadeiro sucesso vive na autenticidade, na aceitação das complexidades da sua jornada e na valorização de cada experiência, seja ela marcada por desafios ou conquistas.

Se você ainda se vê enfrentando as festas de fim de ano na presença inegável da sua família, urge a necessidade de aprender a lidar com comportamentos passivo-agressivos ou francamente agressivos. É preciso treino, coragem e estratégia para estabelecer o seu próprio limite do que é saudável. Criar limites não é apenas um ato de autodefesa, mas uma demonstração de auto-respeito, delineando claramente o espaço que cada indivíduo merece e necessita para prosperar emocionalmente.

E o seu limite pode SIM significar não ir à festa da sua família. Pode parecer radical, mas é uma escolha legítima para preservar a saúde mental e o bem-estar emocional. Você pode escolher passar o fim do ano com quem te acolhe e apoia verdadeiramente. Às vezes é a sua família escolhida, que pode até superar a família em que você nasceu.

Para 2024 é hora de proclamar um ‘foda-se’ ao fim do ano convencional. A libertação da ideia de ‘fim’ e ‘recomeço’ é necessária. Estas datas não ditam nossos sentimentos e experiências. Em vez de se curvar às expectativas sociais, crie suas próprias tradições. Talvez seja com a família que você escolheu, ou talvez seja uma celebração solitária que respeita o seu tempo, honrando a tristeza, a melancolia e a alegria de maneira equilibrada e autêntica. Sua. Uma experiência única sua.

Dizer ‘não’ não é apenas permitido, mas muitas vezes necessário para proteger sua paz interior. Negar eventos familiares pode ser um ato de amor-próprio, uma pausa necessária para reconectar consigo mesmo e com aqueles que realmente contribuem para seu crescimento emocional. No final das contas, o que importa não é a contagem regressiva para o ano novo, mas a construção de uma jornada única e significativa, onde o acolhimento e o respeito por si e pelos outros são os verdadeiros protagonistas.

E se, mesmo após todas essas reflexões e cuidados consigo mesmo, a melancolia persistir de forma extrema, não hesite em buscar ajuda profissional. Terapia. A depressão natalina é uma realidade e a intervenção de um profissional de saúde mental pode ser crucial para proporcionar suporte adequado e estratégias eficazes, seja comportamental ou medicinal. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem e auto compaixão, especialmente no fim do ano.

A Curadoria de 2023 termina por aqui. Com um textão de sinto muito pela sua família mas desejo que você, sempre, fique bem. Nos vemos ano que vem, né? Com muito mais textão.

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